Está circulando uma carta do Luiz Schwarcz, presidente do Grupo Companhia das Letras, “por amor aos livros” e a dificuldade atual deste segmento no Brasil. Tenho o maior amor do mundo por livros e por formar novos leitores (quem me conhece sabe que batalho faz tempo, só não sabe o trabalho que envolve todo o processo e nem tem ideia do que envolve todo o setor).

Tenho o maior respeito pela editora fundada pela família de Schwarcz, da qual eles hoje são acionistas, por seus títulos e por todos os autores brasileiros que eles mantêm mesmo depois da venda para o capital estrangeiro. Mas também tenho minha opinião como livreira.

Coloco aqui o que penso, o que sinto na pele a cada vez que me dizem que nas grandes redes está mais barato, como se tivéssemos lucros enormes carregando caixas e caixas, fazendo feiras em escolas, atendendo e buscando novos títulos, estudando e analisando boa parte do dia…

É possível responder esta carta? Seria realmente encaminhada ao Luiz Schwarcz?

No aguardo, Denise Gentil, proprietária da Ciranda, que hoje tem mais ou menos 6 mil títulos no acervo infantil e que nunca recebeu nenhum tipo de ação de marketing ou estimulo para venda por parte das editoras, as mesmas que investiram milhões em ações de propaganda e descontos nas grandes redes, possibilitando que engolissem as pequenas e hoje falam da crise dos livros. Aliás, só recebi o catálogo de vocês depois de muito pedir a distribuidora ou ir buscar diretamente na bienal.

Acho que chegou a hora de buscarmos ouvir quem está diretamente ligado ao consumidor de livros, a que está com o “olho no olho”, os idealistas que estão aqui nesta ponta, fazendo o trabalho de formiguinha, apresentando os títulos das editoras exaustivamente para que os clientes comprem com descontos abusivos das grandes redes ou pela internet. Descontos que vocês mesmo proporcionam.

Está na hora de ouvir quem se emociona com os livros e não tem nem 10% de lucro e gasta com a transportadora o tempo todo para devolução e contagem física dos consignados ao estoque da distribuidora; que por ter mais desconto, atravessa a compra junto às escolas e fica com a possibilidade de lucro. Isso quando não é a própria editora que faz este trabalho, depois de nós suarmos a camisa apresentando o seu catálogo.

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Está na hora de ouvir pessoas que trabalham há 15 anos com livros por paixão, por querer levar cultura adiante e nunca conseguir aumentar o seu quadro de funcionários (inclusive uma delas trabalha há 40 anos no mercado livreiro, abriu e fechou negócios na área e nunca viu um quadro diferente do que te descrevo agora).

Está na hora de ouvir as pequenas empresas movidas pelo idealismo, mas que não tem sequer o seu endereço divulgado no “onde encontrar” dos sites das editoras, afinal as mega são muito mais importantes.

Caro Schwarcz, já disse isso à sua filha pessoalmente na ocasião de uma palestra em Londrina. O seu livro passa pouco tempo na minha prateleira, demora meses para chegar, volta para a distribuidora para contagem física, depois espera o seu auditor fazer a contagem, até voltar para minha prateleira numa demora de meses…

Como o senhor muito bem colocou, “O livro é a única mídia que resistiu globalmente a um processo de disrupção grave”, mas se continuarmos neste caminho, sem estarmos de mãos dadas e fazendo somente campanhas pontuais, o mercado irá piorar para todos nós. É preciso fazer resistência com afeto, com cuidado… Mas enquanto a postura das editoras em relação aos pequenos não se modificar, enquanto o preço de capa não for tabelado, não vejo muita saída.

Ficarei aqui, fazendo meu trabalho de formiguinha porque sou persistente, tenho amigos que pensam da mesma maneira e tratam o negócio com o mesmo cuidado. Hoje a minha loja habita uma casa projetada pelo Arquiteto Vilanova Artigas, que recuperei de um estado precário e devolvi para a cidade de Londrina, com recursos totalmente próprios.

Não houve nenhum estímulo, nenhum email ou qualquer outra forma de contato das grandes editoras, nenhum diálogo, nenhuma proposta de vitrine ou qualquer outro tipo de conversa. Sim, o senhor tem razão quando afirma que o negócio dos livros são mantidos por idealistas, assim somos e assim me reconheço.

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