Por Rosane Pavam da Carta Capital
Carolina Maria de Jesus cata papéis em meio ao lixo. À noite, após combater violências contra seus iguais, faz literatura nas folhas recolhidas. Esta é a artista afrodescendente que ainda espelhamos, aqui e em dezenas de países nos quais sua imagem se faz reconhecível, como os Estados Unidos. Este é o personagem que a pesquisadora Sirlene Barbosa e o desenhista João Pinheiro alcançam com zelo na HQ Carolina. Sua escritora é um anseio. Ela parece jamais deixar a favela, sobre a qual faz um samba em que exalta a vedete.
A história em quadrinhos mostra também momentos variados de sua iconografia e de suas “escrevivências”. Carolina diz: “A vida é igual um livro. Só depois de ter lido é que sabemos o que encerra”. A escritora aprendeu a literatura do século XIX no colégio público mineiro Allan Kardec. Sua sala de aula era aberta. Durante toda a vida, leu os folhetins, cujas tramas buscou mimetizar.
Na biografia em quadrinhos, a luta diária e o anseio de escrever
Quando desembarcou em São Paulo, achou que as pessoas pareciam fugir umas das outras. Lutou toda a vida para ser publicada. Segundo a pesquisadora Elena Pajaro Peres,Carolina havia sido entrevistada pelo menos duas vezes antes de conhecer Audálio Dantas, o jornalista que a levou a descrever seu cotidiano em Quarto de Despejo – Diário de uma favelada (1960). A reportagem “Carolina Maria, poetiza preta”, de Willy Aureli, foi publicada na Folha de S.Paulo em 1940, reeditada em A Gazeta 20 anos depois.
A segunda, “Carolina, a poetisa negra do Canindé”, saiu em 1952, no jornal Última Hora de São Paulo. Os estudos sobre Carolina apenas começam. Mas já sabemos que ela sempre desejou ser poeta.
Carolina. Sirlene Barbosa e João Pinheiro. Veneta, 128 págs., R$ 39,20