Por Maria Navarro Lins do Jornal Extra

Na beira da linha do trem, perto da estação de Saracuruna, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, é preciso tomar cuidado por onde anda. Uma curva errada e alguém pode dar de cara com bandidos que atuam na região. Porém, Na Rua Carlos Maia, no Parque João Pessoa, Maria Chocolate construiu um oásis de paredes lilases e com estantes repletas de livros. A Biblioteca Manns (Mulheres Amorosas Necessitadas de Navegar em Sonhos) atrai as crianças do bairro e semeia o gosto pela leitura — mesmo quando tudo parece jogar contra.

— Vamos fazer nosso café da manhã de Natal nesta quarta para as crianças, mas não conseguimos muitas doações de brinquedos. E a prefeitura proibiu a gente de montar a festa na rua. Lutamos o ano todo, mas é tão difícil — lamenta Maria Chocolate, de 53 anos.

Foto: Cléber Júnior / Extra

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A história da biblioteca, que é coordenada pelo grupo comunitário Chocobim, começou em 2006. Maria não pôde sair de casa por culpa de uma doença (ela não quis dizer qual) e, para passar o tempo, lia para as crianças do bairro em sua varanda. A leitura virou um projeto fixo e, em 2012, o grupo ganhou um edital do Instituto C&A. Com o dinheiro, construíram a sala e compraram livros.

— Nosso acervo hoje é de 4 mil títulos. Um bibliotecário ajudou a organizar tudo. Terças e quintas, a biblioteca fica aberta para a leitura livre e empréstimo. Quartas e sextas, temos sete voluntários que leem para as crianças. Temos 30 pequenos que vêm sempre — explica Maria Chocolate.

Foto: Cléber Júnior / Extra

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No projeto desde o início, Leydmilla Alves, de 17 anos, não gostava de ler. Hoje, é “viciada” em livros e pretende fazer faculdade de produção cultural:

— A leitura foi importante em vários momentos da minha vida, principalmente nas horas mais difíceis. É uma forma de escapar da realidade e conhecer coisas novas.

O pequeno Caio do Espírito Santo, de 9, aprendeu a ler na Biblioteca Manns.

— Gosto de livros de ação e futebol — conta.

Foto: Cléber Júnior / Extra

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Mulheres influentes

Cinco mulheres incentivaram Maria Chocolate a investir na biblioteca do Parque João Pessoa. Todas têm os nomes estampados no cartaz do projeto: Mariaduria, a prima e amiga com quem ela aprendeu sobre violência contra a mulher; Dona Apolônia, a parteira e contadora de histórias do bairro; Nivalda, a primeira professora da comunidade; Nelsina, a mãe que sonhava que a filha fosse professora; e Selma, enfermeira que a presenteou com o primeiro livro.

— Elas estiveram comigo em diferentes momentos da minha vida. Ensinaram que eu deveria ser forte. Desde pequena, faço trabalhos sociais no bairro. Nosso grupo participa de fóruns de mulheres — conta Maria.

Ela fez dois períodos da faculdade de Assistência Social, mas não pôde continuar pagando a mensalidade. Teve que começar a trabalhar.

Foto: Cléber Júnior / Extra

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Mãe segue os filhos

Para Vanessa Ojeda, de 17 anos, ler a ajudou a superar a timidez. Ela se mudou para o bairro há três anos e logo entrou no projeto:

— Os livros fizeram com que eu aprendesse a me expressar melhor. Meu preferido é “A menina que roubava livros” (do autor australiano Markus Zusak).

Foto: Cléber Júnior / Extra

Foto: Cléber Júnior / Extra

Mãe de três adolescentes, Adriana Alves, de 40, começou a ler após ser incentivada pelos filhos e pelas crianças da biblioteca. Hoje, ela é mediadora voluntária das leituras dos alunos.

Quando podem, Adriana e Maria arranjam um ônibus para levar os pequenos leitores ao cinema ou para curtir outras atividades culturais.

Sobre a falta de apoio para a festa de Natal, a Prefeitura de Caxias informou que não houve qualquer proibição. Disse também que não recebeu nenhum pedido de ajuda financeira

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