Por Ricardo Welbert do G1 Centro-Oeste de Minas
Divinópolis é a quinta cidade mineira com o maior número de pessoas que afirmam gostar de ler. O município do Centro-Oeste registrou 55,08% de fãs declarados da leitura, atrás apenas de Teófilo Otoni (58,72%), Poços de Caldas (57,47%), Juiz de Fora (58,59%) e Belo Horizonte (63,14%).
O levantamento foi realizado em 2015 pela Data Cultura, com recurso da Secretaria de Estado de Cultura. O resultado foi publicado em um livro cujo título alcança a metalinguagem: “O Livro em Minas Gerais”, editado pela Câmara Mineira do Livro.
De acordo com o organizador da obra, Zulmar Wernke, a cidade do Centro-Oeste possui a vantagem de ficar perto de Belo Horizonte, a 117,7 quilômetros. Outro ponto positivo é o fato de ser uma cidade universitária. “O município tem bons índices de escolaridade, destacando-se o elevado número de pessoas com graduação e pós-graduação, que é de cerca de 17% da população estimada em 228.643 habitantes”, avaliou.
Outro fator apontado como responsável pelo resultado é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Divinópolis, que é de 0,764 e indica um crescimento da renda, da escolaridade e da longevidade da população, colocando o município na 304ª posição no ranking das cidades brasileiras e na 21ª posição das cidades de Minas. São 146 escolas públicas e particulares, sendo que 112 possuem bibliotecas. Há ainda uma biblioteca pública e uma universitária, além de cerca de oito faculdades particulares.
Segundo a pesquisa, os divinopolitanos leem 2,53 livros ou partes de livros, em média, a cada três meses. Índice que está acima das médias nacional (1,85) e mineira (1,62). “O perfil da população explica, em parte, este resultado positivo. Há predomínio de pessoas com escolaridade acima do ensino médio e superior. Outro fator importante que propicia um bom índice de leitura na cidade refere-se a sua infraestrutura cultural, com museu histórico, teatro, salas de cinema e circulação de jornais”, Wernke.
Livrarias e sebos impulsionam mercado
Divinópolis tem 12 livrarias que oferecem catálogos em áreas gerais, além de livros didáticos e universitários. O empresário Daniel Bicalho é dono de uma delas. A Boutique do Livro fica na região central e tem 25 anos de mercado.
“Hoje o ramo livreiro vive um momento interessante, com um constante aumento nas vendas de livros e, por consequência, nos hábitos de leitura. Apesar disso, muitas livrarias estão fechando, porque muita gente prefere as vantagens de comprar pela internet”, avaliou.
A competição nas vendas de livros se expande com a colocação de exemplares à venda em bancas de revistas, supermercados e outros pontos de venda. “As livrarias físicas vêm encontrando dificuldades em se sustentar diante de toda essa concorrência. Existem caminhos, que são os que tentamos trilhar. Um deles é o de oferecer um ambiente agradável e um atendimento de qualidade, que fazem com que o cliente sinta um gosto a mais”, afirmou.
A aposta de Daniel Bicalho segue uma tendência adotada por grandes livrarias, como a brasileira Leitura. Essas empresas entendem o negócio como um segmento de lazer cultural. “A partir do momento em que o livreiro enxerga seu negócio como mero serviço de entrega de livros, fica fadado a acabar. Ele precisa ver o estabelecimento como local para lançamentos de livros e outros eventos culturais. Se uma livraria servir apenas para entregar livros, ninguém precisará delas”, pontuou.
Já os sebos, que são lojas que compram, vendem e trocam livros e revistas usados, Divinópolis possui três – todos também localizados na região central. Vilma Araújo é dona de um deles. O Letras no Jardim existe há 11 anos. Neste período, afirma a proprietária, o movimento só cresceu.
“A procura por leitura na cidade aumentou muito. Isso nos faz refletir sobre o quão estavam enganados aqueles que profetizavam o fim do livro de papel a partir da popularização do computador. Em plena era digital, a maioria das pessoas não gosta de ler em celular ou tablet. O fato de serem produzidos filmes sobre histórias que começaram em livros [como a mundialmente conhecida saga do bruxo Harry Potter, criação da britânica J. K. Rowling] também promove uma grande procura pelos livros. Nós, que vendemos livros, precisamos ler essas obras para sabermos recomendá-las aos clientes”, destacou.
Teoria comprovada
As livrarias são os principais pontos de disseminação e venda de livros ao consumidor final. Pelos resultados da pesquisa, 54% delas ficam em Belo Horizonte e 46% estão espalhadas pelo estado. “O maior percentual está no interior. A região central do estado concentra 26%, excluindo a capital. A região da Zona da Mata tem 17%. O Triângulo Mineiro, 12%. O Centro-Oeste tem 11%. O Rio Doce tem 8%. O Norte e o Alto Paranaíba aparecem juntos, com 4%. Finalmente, as regiões Noroeste e Jequitinhonha, com 2%”, acrescentou Zulmar Wernke.
Segmentos de leitura
A pesquisa também mostra o que mais se lê nas cidades pesquisadas. Em Divinópolis aparecem os jornais impressos (com 71,64% da preferência), as revistas (67,16%), os livros (61,40%), textos na internet (50,24%), a “Bíblia” (52,99%), os livros eletrônicos (15,67%) e os textos escolares (42,54%).
Maior que a média do Brasil
Os dados da pesquisa também revelam que entre os nove municípios estudados, seis possuem médias de leitura mais altas que a do país (que é de 1,85) e a de Minas Gerais (1,62). Divinópolis é a terceira neste quesito, com 2,53. Perde apenas para Juiz de Fora (3,05) e Poços de Caldas (4,34).
Sobre a pesquisa
Os pesquisadores selecionaram nove municípios de Minas Gerais segundo o critério da representatividade. Pelas dimensões do Estado, as regiões foram representadas pela capital e mais oito cidades-polo, onde os serviços como educação e saúde são utilizados pelos municípios que gravitam em torno delas. Assim, acredita-se que as respostas representam o perfil do comportamento da população de cada região, com relativa precisão (90% de confiança e margem de erro de 3,5 pontos percentuais para mais ou para menos).
Zulmar Wernke explica que o objetivo geral da pesquisa foi esboçar o comportamento do leitor mineiro e seus hábitos de leitura. “Não estávamos focados exclusivamente no interesse da cadeia produtiva. As leituras de conteúdos digitais e on-line foram incluídas por entendermos que contribuem significativamente para a formação do leitor”, concluiu.