A cidade do Rio de Janeiro está na crista da onda, sediando megaeventos esportivos e sendo apresentada como cidade modelo para o mundo. A cidade maravilhosa hoje é considerada o maior canteiro de obras do país, com investimentos faraônicos e nem a dita crise econômica é capaz de afetar as obras olímpicas que seguem a todo vapor.
Por outro lado, como de costume em época de recessão econômica, a cultura e a educação pagam o pato e sofrem com os cortes de verbas e a falta de recursos. As bibliotecas-parque e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) foram manchete dos jornais e noticiários dessa semana devido as dificuldades que estão passando para manter seus serviços básicos.
Nada melhor do que um período de crise para aguçar a criatividade e o oportunismo do prefeito do Rio, Eduardo Paes, aquele mesmo que anda taxiando pela cidade e tem como seu sucessor um agressor de mulheres.
O anúncio feito ontem (25) pela prefeitura do Rio de que vai assumir a manutenção de três das quatro bibliotecas-parque do estado ao custo de 1 milhão e meio de reais até o final de 2016, beira o oportunismo mais rasteiro e barato tão típico do governo Paes.
Como é de conhecimento geral e principalmente dos bibliotecários, as bibliotecas municipais, que antigamente se chamavam populares, vivem uma situação de calamidade absoluta. Infraestrutura precária, número de funcionários insuficiente para o atendimento, incluindo bibliotecários, acervo defasado, entre outros.
Para ter uma ideia, a biblioteca municipal de Copacabana, uma das maiores da rede, conta com apenas dois funcionários: uma bibliotecária e um auxiliar de serviços gerais.
No caso dos bibliotecários do município do Rio, eles recebem mensalmente um salário que não chega a R$ 1500,00, sem contar os descontos e com uma carga horária de 40h semanais. A pergunta que não quer calar é: se a prefeitura carioca tem 1 milhão e meio de reais mensais para garantir a manutenção das bibliotecas-parque por que os graves problemas das bibliotecas do município não são resolvidos? A resposta é muito simples: não gera voto e nem ibope.
Da cidade de Niterói veio a informação de que o prefeito, Rodrigo Neves, também vai garantir o funcionamento da biblioteca-parque daquele município. A crítica que se faz aqui é muito próxima da dirigida ao prefeito do Rio, uma vez que as notícias sobre as condições das bibliotecas municipais de lá não são das mais animadoras.
Ao que parece, a iniciativa de ambas as prefeituras parece atender a uma determinação puramente eleitoreira em ano que precede as eleições municipais.
A quem interessa uma Organização Social gerindo as bibliotecas-parque?
O Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG) é o responsável pela gestão das bibliotecas-parque do Rio desde a criação deste modelo de bibliotecas pelo governo carioca. Pela gestão desses espaços o IDG tem um contrato assinado com o governo do Rio no valor de 20 milhões de reais.
Cabe destacar que a crítica que deve ser feita tem de ser direcionada ao governo Pezão: por qual o motivo o estado designa nas mãos de uma Organização Social (OS) uma responsabilidade que deveria ser sua? Quem está lucrando com isso? Certamente os funcionários das bibliotecas não estão.
A relação de fragilidade entre a OS e o governo do estado recai como sempre nos funcionários. Mesmo com a “ajuda divina” da prefeitura do Rio é provável que demissões não sejam evitadas. Já que o orçamento vai ser reduzido e em um cenário de incerteza, falta de instabilidade e sem previsão de abertura de concursos públicos, reduzir custos significa reduzir o quantitativo profissional. Nessa engrenagem os funcionários se tornam peças descartáveis.
Como de praxe, nossos políticos continuam dando show de populismo e utilizando as bibliotecas para assegurar interesses eleitoreiros. Enquanto isso, alguns bibliotecários acreditam nas promessas dos políticos, demonstram gratidão, tecem elogios e se regozijam nas redes sociais pela prorrogação de seus empregos. Parecem estar satisfeitos e conformados com atual situação das bibliotecas públicas do Rio de Janeiro.
Muito cuidado com as promessas de políticos para não se tornar uma “promessa sem jeito”, como nos alertou Ariano Suassuna através do personagem, João Grilo, em o Auto da Compadecida.