Conheci o Francisco de Paula, ou simplesmente Chico de Paula quando cursava o bacharelado em Biblioteconomia pela Unirio, no ano de 2007, durante a organização da Semana de Integração dos Estudantes de Biblioteconomia. Em pouco tempo ficamos amigos, juntos fundamos uma revista, organizamos eventos, encabeçamos lutas, algumas delas polêmicas. Com uma fala calma e com uma careca bem peculiar, Chico de Paula foi um irmão que a vida me deu e em mais de dez anos de amizade dividimos sonhos, utopias, ideias e projetos.

Natural do Maranhão, a história de Chico de Paula se confunde com a de milhares de brasileiros que deixam sua terra natal e vão tentar a “sorte” nas grandes metrópoles do país. Oriundo de família humilde, o Chico iniciou seus primeiros passos em Lago da Pedra, município do Maranhão. A resignação sempre foi uma palavra presente na sua vida, contrariou as estatísticas, venceu a pobreza, a ignorância e se transformou em um dos grandes profissionais nas áreas de Biblioteconomia, Direito e Jornalismo.

Chico sempre foi uma inspiração para todos nós. Estudioso, responsável, nunca descansava, amava escrever, ir até as ruas atrás de reportagens e sempre incentivou muito todos que estavam ao seu entorno a estudar. Foi um militante incansável, encabeçava todas as lutas e reuniões políticas, era o homem das ideias e do debate. Torcia pelo Corinthians e sempre quando falávamos de futebol, enchia a boca para falar do movimento da democracia corinthiana.

Parece que foi ontem. No último feriado de São Sebastião, o Chico e sua família estavam na minha casa. Neste dia conversamos, bebemos cerveja e entre uma risada e outra falamos sobre a vida e fizemos planos de viajar juntos para o Maranhão. Neste dia ele me presenteou com uma camisa do Sampaio Correia, time oriundo de São Luís. Parece que foi uma despedida e fico impressionado como tudo aconteceu tão rápido. Nesse dia ele me falou que estava se sentindo com um incômodo no estômago. Recomendei que ele procurasse um médico para realizar exames. Dito e feito, três dias depois ele fez o exame e constatou que estava com um câncer no fígado, com metástase. A partir disso, tudo mudou. Parece que uma espécie de contagem regressiva passou a atingir todos nós, amigos e familiares.

Com a confirmação dos exames e que a doença estava em estágio avançado, junto com sua esposa e filha, Chico, decidiu voltar para sua cidade natal e iniciar o duro tratamento junto de sua família. A última vez que encontrei o Chico de Paula com vida foi na sua casa um dia antes de viajar. Era um sábado nublado no Rio de Janeiro, neste dia conversamos sobre a vida, o futuro e as incertezas e desafios que estavam por vir. Um materialista convicto, Chico de Paula, viveu, deixou um legado importante para Biblioteconomia e sua história demonstra como a vida é injusta e que não temos controle de nada. Em mais uma contradição da vida, Chico de Paula nos deixa justamente no dia do Bibliotecário.

Do Chico de Paula vou carregar comigo a imagem de um irmão, parceiro, camarada e amigo. Um guerreiro, combatente, militante e porque não dizer uma lâmpada que iluminou todos nós e cumpriu com êxito sua missão.

Obrigado Chico, descanse em paz!

Comentários

Comentários