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Dia Mundial do Ambiente Inteiro: 5 de junho!

Há décadas tenho ouvido e lido e visto muita gente “elegante e ‘sincera’” falar sobre seu êxtase e emoção e coisa e tal sobre a Mata Atlântica/ambientes naturais. Tudo acentuado nos últimos dias e tempos em que êxtase/emoção e coisa e tal ganharam contornos de marketing, mercadoria, verniz de politicamente correto. Propaganda pra vender produtos e imagens, de pessoas, nações, corporações.

Mas não quero aqui falar dessas pessoas, corporações ou nações. Quero aqui, hoje, falar de alguém que você ou eu jamais veremos exibir-se como cavaleiro das matas perdidas. Em algumas das raríssimas uma ou duas vezes em que escreveu atendendo a um pedido meu transubstanciou em palavras o que tenho visto realizar há mais de duas décadas. Em Piracema, página 81 do livro “Cuidados com a vida”, descreve pelos afluentes da memória do vivido o abismo que há entre nos movermos pelo medo do que deixaremos de ter e o cuidar do que não nos pertence e do qual somos parte indissociável: embora nós, sapiens sapiens, sejamos expressão da cultura, essência e não natureza, somos parte da teia da vida.

Eu, que sempre fluí pelos rios das palavras, descobri com ele o que é fluir pelo rio Itatinga e a partir dele navegar para bem mais perto de uma reconexão sensorial concreta com a  vida manifesta em ambientes naturais, dos mais secos aos mais úmidos, e me comprometer, de alguma forma, miudinha que seja, porque miudeza sou, com sua proteção. Dessa percepção e compromisso nasceu um projeto-cúmplice honesto e bonito. Mas isso é outro assunto.

Tenho irmã que, sim, sempre cuidou e conversou com plantas, que sempre achei ser atitude tresloucada. Eu!, eu que nunca havia admirado nada além do que o colorido das flores do campo em buquês plasmados nas floriculturas me vi por ele arrebatada de forma irremediável ao cosmos das florestas, que chamo de bibliotecas naturais – já combinei com ele incontáveis vezes para escrevermos juntos algo nessa linha – eu que, junto a tanta gente incrível antes de mim e agora,  vivo a defender bibliotecas vivas nas escolas e em todos os cantos para acordar palavras em favor de vida digna para todas as formas de vida. Bibliotecas são vitais por razões básicas e simples que por incrível que pareça muita gente não entendeu e ainda não entende. Acordar palavras significa ler. Vale lembrar a frase/mantra da escritora Fran Leibowitz: “Pense antes de falar. Leia antes de pensar”.  A ONU já sabe disso e criou o Clube de Leitura ODS (Objetivos do Século), contando no Brasil com a curadoria da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, convicta da importância da leitura literária para mediar conversa sobre os cuidados com a vida com crianças e jovens. ADVERTÊNCIA para os tempos atuais: olho vivo com a curadoria do que lê e com a qualidade das fontes que acessa.

A verdade do que ele pensa e faz chega longe e bem perto de quem olha o mundo e não o vê prêt-à-porter (pronto para o uso). Em 2014, quando minha filha Isabelle estava com 9 anos, assistimos juntas na TV a notícia sobre a possibilidade de a Sabesp realizar uma obra que poderia colocar em risco o rio Itatinga e, com ele, toda a vida ao seu redor. Ela escreveu uma carta endereçada ao presidente da Sabesp e coletou assinaturas de amigas(os), crianças e adultos, ao seu redor – entorno de 50/60.

A narrativa foi 100% autoral. Respeitosa e indignada, destacou em um trecho: “ah! E mais uma coisa: tem um cara que defende aquela área de reflorestamento. Pense nisso, uma floresta não se joga fora!”. A carta foi enviada. Retorno zero. Uma pena! Sociedade e Gestão Pública deveriam assegurar o máximo de atenção ao que pensam e dizem o “futuro da Nação”, que na verdade é o presente: crianças e jovens encantadas(os), inspiradas(os), engajadas(os) e mobilizadas(os) para assegurar os cuidados com o planeta, sempre tão solicitadas(os) que são por meio de campanhas educativas e publicitárias que vira e mexe orientam a transformar resíduo em brinquedo ou coisa que o valha e jamais rever o consumo e questionarem-se: “Preciso disso?! Se preciso, preciso por quê?”.

Tem validade zero manter nos conteúdos curriculares e no calendário das instituições de ensino as efemérides celebrativas com os tradicionais “Salve o Dia do Meio Ambiente” se, na prática, não são ouvidas(os) quando se manifestam. Afinal, é no miudinho dos dias da teia da vida que tecemos, mal ou bem, a educação que permitirá que a atual e futura gerações desenvolvam afeto e se engajem em apropriar-se e produzir conhecimentos para que possamos existir realizando o máximo de bem e o mínimo de dano. E, talvez, porque ainda falhamos nisso miseravelmente ainda tenha que escrever um artigo sobre o tema com o conteúdo exposto no primeiro parágrafo. E ver avançar o projeto de lei do Marco Temporal, que joga uma pá de cal sobre a impagável dívida com os povos originários do Brasil e com o planeta de forma geral, pois a essa altura já temos dados científicos suficientes que apontam os danos do antropoceno, e que as únicas barreiras que podem funcionar são as alfandegárias e o dano socioambiental causado em um ponto do planeta afeta irremediavelmente todo este pálido ponto azul: “o único lar que conhecemos”.

“Na escala dos mundos os humanos são irrelevantes: uma fina película de vida num obscuro e solitário torrão de rocha e metal”, Carl Sagan

Ele, Paulo Groke, meu grande amigo e mestre ambiental, se ocupa de realizar preservação e conservação de biomas naturais no miudinho dos seus dias ao invés de se ocupar em tingir a si mesmo de verniz “eco correto”. Ele a quem devemos uns bons milhares de hectares de preservação ambiental, hoje e amanhã. Ele, em nome de  pessoas como ele, é quem celebro hoje e sempre, com gratidão e admiração. Ele, que sabe que o ambiente não é um meio. É inteiro!

Em tempo: a foto que ilustra este artigo é dele. Confidenciou que é uma das que guarda muito carinho. Arrisco dizer que é porque reflete, literalmente, a vitalidade de restauração inerente à vida. Ele sempre diz: “quando o ser humano não faz grandes estragos a natureza se regenera por conta própria”. E com ela, regeneramos nós. à beira de um lago também aconteceu nossa primeira prosa. Foi amor à primeira vista. Nascia alí nossa grande amizade, minha apaixonante jornada de letramento ambiental com ele e a promessa de cumplicidade.

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