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Dia do Bibliotecário

Há muito venho me perguntando sobre o significado do termo “data comemorativa”, em especial, no que tange ao dia do bibliotecário. A ideia de se criar um “dia” para qualquer fenômeno que se estabelece nas múltiplas temporalidades, seja ele humano, institucional ou político reitera uma diversidade de interpretações como a possibilidade de refletir/rever posturas e propor novas formas de ação. No caso do dia do bibliotecário, penso que a tríade comemorar-refletir-propor deve ser pensada por um olhar mais cauto e simultaneamente auspicioso.

Na data alusiva ao bibliotecário (12 de março) é muito comum que comemoração e reflexão (esta mais pontual e superficial) seja realidade latente. No entanto, falta o crucial: propor e desenvolver novas ações para o desenvolvimento político da área que, embora crescente, ainda padece de ações mais continuadas e consistentes para/com a sociedade.

Esta percepção propositiva e de ação continuada chamarei de “campanhar”. O uso deste termo tem várias conotações, saber:

a)      primeiramente o termo campanha é concebido como verbo no sentido de tornar imperativo aquilo que a Biblioteconomia faz e como mostra para a sociedade (a ideia do imperativo não deve ser vista como uma imposição, mas como um posicionamento incisivo de reflexão/ação primando pelo respeito e reconhecimento social);

b)      em segundo lugar, é alusivo a perspectiva de compreender como a Biblioteconomia vem se posicionando em termos de propostas e contribuições à sociedade;

c)      e, por fim, atina para como a Biblioteconomia vem propagandeando as ações da área (este é resultado dos dois anteriores, de modo que devemos propagandear aquilo que estamos fazendo ou aquilo que consideramos pertinente de ser feito).

A coordenação lógica e sólida destes três fatores pode resultar em benefícios para a Biblioteconomia e para a própria sociedade. Para tanto, esta coordenação só é possível quando prima pela associação formal (fóruns presenciais e virtuais envolvendo as representações político-institucionais, profissionais e acadêmicas) e informal (estímulo que os componentes da área possuem de atuar em prol do crescimento da profissão).

E o que tem a ver a ideia de campanhar com o dia do bibliotecário? Ora, se estamos vindicando uma ação continuada e propositiva da Biblioteconomia, nada mais justo que seja lançada como pedra fundamental no dia do bibliotecário. Em outras palavras, minha ideia era que anualmente a Biblioteconomia lançasse, em nível nacional, regional, estadual e municipal uma campanha que envolvesse algum tema de interesse social. Esta campanha poderia ser uma espécie de “ação chave” que promoveria um conjunto de propostas e lutas durante o ano.

E como se daria essa campanha? Em primeira instância essa campanha deve ser uma escolha das diversas bases representativas da área (Conselho, Associações, Sindicatos, Centros Acadêmicos, Coordenações, Departamentos e os componentes da Biblioteconomia em geral) a partir de discussões em eventos presenciais e fóruns virtuais. Em segunda instância, é preciso preparar o teor da campanha em termos de ações sociais/institucionais e estratégias publicitárias.

Em termos de ações sociais/institucionais posso destacar:

a)      intensificação no processo de fiscalização das instituições pelos Conselhos Regionais de Biblioteconomia (CRB);

b)      ações sociais articuladas pelas representações institucionais da área em lugares públicos (centros de informação, praças, escolas, universidades etc.) e privados (shoppings, por exemplo), mostrando o potencial de atuação da Biblioteconomia através de atividades, como: orientação de pesquisa em acervos; indicações para normalização de documentos; elaboração de fichas catalográficas para livros ou trabalhos acadêmicos; dicas sobre uso de sites, blogs e bases de dados (aguçar o processo de usabilidade); aplicação do serviço de informação utilitária (informação cotidiana) no âmbito de disponibilizar dados para produção de informações no campo da educação, saúde, emprego, lazer, qualidade de vida (física, mental e ambiental), entre outros;

c)      buscar parcerias com outras representações institucionais (órgãos de classe, ONG, imprensa etc., visando fortalecer ações sociais e amadurecer o corpus público e divulgacional da campanha como fenômeno de ação coletiva, consistente e continuada;

d)     proposição de audiências públicas com órgãos de nível municipal, estadual e Federal a fim de concretizar as demandas expostas na campanha;

e)      elaboração de seminários e fóruns conclamando autoridades para discutir a realidade exposta na campanha.

Já como estratégias publicitárias destaco:

a)      elaboração de folders, cartazes impressos e virtuais para serem divulgados em espaços diversos sobre os procedimentos e finalidades da campanha;

b)      parcerias com empresas públicas, privadas e a mídia para divulgação das ações via tv, rádio, jornal impresso e on line, além de out doors;

c)      divulgação permanente via e-mail e redes sociais, além da mobilização da área através dos espaços virtuais.

Vale ressaltar que essas ações não se excluem ou ocorrem em tempos distintos, mas, ao contrário, se complementam e ocorrem simultaneamente como forma de mobilizar a área, agregar valor de outros segmentos e exercer uma pressão mais efetiva para cumprimento do exigido na campanha. A meu ver, nada mais justo do que esta campanha ser lançada no dia do bibliotecário soando de forma uníssona nos diversos eventos alusivos ao dia do bibliotecário no Brasil. Seria um momento oportuno tanto pela reunião de boa parte dos componentes da área que poderia primar como estímulo, quanto pela possibilidade de discussão e aprimoramento dos ideários da campanha adequando-a as realidades locais.

A figura abaixo traz uma síntese do sentido da campanha:

 Fonte: elaborado pelo autor

Diante da figura, destaco ainda algumas questões que poderiam ser interessantes para elaboração de uma campanha:

a)      por uma política nacional integrada de bibliotecas (artigo escrito na coluna de janeiro);

b)      biblioteca escolar e o cumprimento da Lei 12.244/10;

c)      bibliotecário: um profissional de múltiplas atuações;

d)     informação bem organizada é informação melhor utilizada;

e)      uso consciente das tecnologias de informação;

f)       gestão da informação como otimização de atividades organizacionais;

g)      usuários de bibliotecas: um bem necessários;

h)      Biblioteconomia e sociedade

Evidentemente que esta campanha, além da infinidade de temas e permanentes aplicações, só pode ser concretizada com o envolvimento maciço da área, do apoio de outros setores político-institucionais, organizações e ainda de estudiosos/escritores/pesquisadores/intelectuais e artistas. Também é preciso considerar que a campanha, precisaria de um tempo para discussão o qual poderia constar novembro, dezembro, janeiro e fevereiro e o seu lançamento oficial no dia 12 de março e duraria até o fim do ano. De outro modo, teríamos anualmente uma campanha que mostrasse o papel e combatividade da Biblioteconomia brasileira.

Em síntese, se o dia do bibliotecário for regado a uma atitude conciliadora de entretenimento/lazer/arte/cultura, reflexão/debate/crítica/análise/avaliação e batalha/luta/reivindicação teríamos uma forma mais promissora, consistente e coletiva de comemorar. Neste caso justifico a imperatividade no uso do verbo campanhar, de sorte que mostra um eco múltiplo de comemoração, reflexão e ação.

E aí, vamos campanhar?

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