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Sucateamento artístico

Antes de iniciarmos esse diálogo (pois você está livre para comentar), vamos combinar uma coisa: o termo artista será utilizado como sinônimo de quem produz significado às manifestações culturais, elevando, efetivamente, a arte. “Barulhos” e “ruídos” não fazem parte do nosso raciocínio.

Vamos a algumas reflexões. No dia 20 de março estive no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. Fui motivado pelas matérias veiculadas, que enalteciam as obras de Ron Mueck. O australiano de 56 anos só não fez chover. Quase todo mundo deu uma olhada nas peças expostas. E valeu a pena. Gostei, tirei fotos, postei no Face. Mueck, como muitos outros artistas estrangeiros, merece o espaço e o carinho do público.

Vamos falar de outro nome: Renato Russo. O líder da Legião Urbana completaria 54 anos em 2014. Site lançado, muitas lembranças nas redes sociais. O primeiro semestre também marcou a volta da Rádio Cidade e matou a saudade de milhares de fãs, carentes de um veículo exclusivamente roqueiro. O mês de maio chegou com os 20 anos sem outro artista: Ayrton Senna. Ele mostrou que pilotar é uma arte.

Mas qual a ligação de Ron Mueck, Renato Russo, Rádio Cidade e Senna neste texto? Se perguntarmos quem conhecia o australiano antes da exposição do MAM, quantos levantarão a mão? Aí mora a questão central da nossa discussão: será que não estamos abraçando bem apertado os ícones estrangeiros e abandonando, ou melhor, sucateando os “desconhecidos” e “conhecidos” artistas nacionais? Será que estamos vivendo apenas de lembranças de ícones consagrados?

Por que os eventos culturais – e aí entram música, teatro, museus, bibliotecas, Feiras – produzidos com suor de poucos colaboradores são deixados tão pouco visitados? Tem muita coisa boa que não sai nos jornais. Artistas não midiáticos, escultores pouco conhecidos, eventos interessantes, bandas com som de qualidade, atores que não entram em cena antes e depois do “plim-plim”. Gente que recebe pouco e faz muito.

Há bastante a usufruir culturalmente, em verde e amarelo. Onde estão as últimas músicas do Ivan Lins, Guilherme Arantes, e tantos outros? Nas rádios, dificilmente. Onde estão as peças de teatro no seu bairro? Os museus? Bibliotecas? Exposições? Sim, aqui temos muitas perguntas e poucas respostas concretas.

Em todas as esferas, de todas as formas, brotam bons espetáculos. Com grande ou parca propaganda, nossos artistas merecem mais. Ou correm o risco de se tornearem sucata, não por eles, mas por nós.

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