Muitos alunos e colegas me perguntam “como selecionar temas para produção de trabalhos acadêmicos?” e “como desenvolver esses temas?”, principalmente no que tange aos estudos de monografias e pesquisas de pós-graduação lato e stricto sensu. Evidentemente que as duas perguntas se complementam, mas merecem análises detidamente particulares. Na coluna deste mês situo a reflexão na primeira pergunta, visando estabelecer uma reflexão inicial sobre as possibilidades de seleção de temas para monografias e dissertações que envolvam os cursos de Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia e a pós-graduação em CI.
O problema inicial em responder essa pergunta é que muitos acadêmicos sabem o que não querem e focalizam seu olhar intensamente nesse viés, mas não sabem aquilo que querem. Selecionar tema para produção de trabalhos acadêmicos implica precisamente em saber aquilo que quer. Para tanto, considero duas condições macro para seleção do tema: a realidade social do acadêmico e as finalidades pelas quais pretende desenvolver determinada pesquisa.
Quanto à primeira condição, o acadêmico pode observar as seguintes situações para escolha do tema:
– Quais setores do Curso mais me interessam (tecnologias, gestão da informação, fontes, recursos e serviços de informação, organização e tratamento da informação, fundamentos teóricos e pesquisa);
– Dos setores que mais tenho interesse, quais assuntos ou linhas de pesquisa mais me identifico;
– Quais projetos de pesquisa, extensão e ensino na área, seja no meu curso, seja em outros cursos pelo Brasil e com quais mais me identifico;
– No estágio que fiz/faço (supervisionado ou remunerado) quais as questões mais me impactam;
– Quais conteúdos ministrados pelos docentes mais me despertaram interesse;
Nessa primeira triagem é comum encontrarmos um vazio semântico (a priori, não me identifico com quase nada) ou uma variedade exacerbada (me identifico com tantos assuntos que não consigo decidir em qual temática pretendo seguir).
Eis que é preciso recorrer à segunda condição para ampliar o processo de seletividade atentando para os seguintes fatores:
– Pretendo desenvolver este tema porque pode me auxiliar na carreira acadêmico-profissional;
– O tema a ser selecionado pode me auxiliar na produção de novos conhecimentos, especialmente permitindo uma didática nas maneiras de associar assuntos diferentes em uma mesma perspectiva de pesquisa;
– O desenvolvimento de uma pesquisa nessa linha pode me auxiliar nos estudos para concursos públicos, inserção no mercado privado ou construção do mercado autônomo na área;
– Produzir estudo nessa linha pode me ajudar a ingressar no mestrado ou doutorado (para tanto é pertinente olhar/analisar as linhas de pesquisa do Programa que futuramente pretendo concorrer e dos projetos dos docentes/pesquisadores, visando dinamizar subsídios para escolher do tema);
Se mesmo após essas duas etapas, ainda não obtiver o tema para produção do trabalho acadêmico, recomendo pautar a escolha do tema diante dos seguintes tópicos (ressaltando que esses tópicos não possuem o objetivo de classificar, mas apenas de indicar subsídios para escolha do tema).
Tecnologias de Informação e de Comunicação
Tecnologias digitais aplicadas em centros de informação (bibliotecas dos mais diversos tipos, arquivos e museus);
Tecnologias digitais como instrumentos para organização, disseminação e recuperação de informação;
Tecnologias digitais no desenvolvimento de bases de dados;
Desenvolvimento de bibliotecas digitais;
Tecnologias no âmbito da Arquitetura da Informação; estudos sobre usabilidade;
Tecnologias como instrumento de apoio a gestão da informação em centros de informação e outras organizações.
Tecnologias digitais como instrumento para mediação da informação em centros de informação;
Inclusão digital.
Gestão da Informação
Gestão da informação e/ou do conhecimento aplicadas em centros de informação;
Gestão da informação e/ou do conhecimento para otimização do uso de tecnologias em organizações;
Gestão da informação para colaboração dos recursos humanos em organizações;
Gestão da informação como instrumento para processos de organização, acesso e uso da informação;
Gestão da informação para mediação em centros de informação e outras organizações;
Gestão para serviços de informação;
Informação como elemento estratégico em organizações;
Políticas de informação; políticas públicas de informação para centros de informação; políticas de informação científica e tecnológica; relações entre políticas e gestão da informação;
Fontes/recursos e serviços de informação
Políticas de desenvolvimento de coleções em centros de informação;
Fontes gerais ou especializadas aplicadas em centros de informação;
Serviços de informação (serviço de referência, serviço de alerta, serviço de informação utilitária aplicados em centros de informação);
Serviços de informação em ambientes digitais;
Redes sociais/virtuais de informação; redes sociais/virtuais aplicadas em centros de informação.
Organização e tratamento da informação
O desenvolvimento de representações da informação (catalogação, classificação, indexação e outros tipos de linguagens e práticas documentárias) para organização de centros de informação;
Processos de organização e representação da informação na web;
O desenvolvimento de tesauros ou ontologias em ambientes físicos e/ou digitais; relações e diferenças entre tesauros e ontologias;
Contribuições dos processos de organização e representação em ambientes digitais;
Uso de representações facetadas em centros de informação;
Estudos sobre teóricos e pragmáticos da organização como Dewey, Otlet, Cutter, Bliss, Ranganathan, etc.
Fundamentos teóricos
História da Biblioteconomia, Arquivologia, Museologia e/ou CI;
Ética profissional; ética da informação; ética em Biblioteconomia, Arquivologia, Museologia e/ou CI;
História do conhecimento humano ou científico; história da leitura; teorias da leitura e da educação aplicadas em centros de informação;
Relações entre informação e sociedade; informação e cultura; informação e política; informação e economia; informação e educação;
Filosofia da informação/História da informação/História dos centros de informação no município/estado/região/país/mundo.
Pluri, inter e transdisciplinaridade da informação; Pluri, inter e transdisciplinaridade da/entre Biblioteconomia, Arquivologia, Museologia e CI em nível teórico (reflexão geral) ou empírico (recorte territorial local, estadual, regional, nacional, global);
Atuação do profissional da informação em centros de informação e organizações diversas.
Pesquisa
Metodologia da pesquisa aplicada em Biblioteconomia e CI;
Uso de metodologias para aplicação em redes sociais;
Estudos métricos de informação em centros de informação, organizações e/ou web;
Desenvolvimento de métodos (quantitativos e/ou qualitativos) e práticas de estudos de usuários.
Normalização documentária (o uso da normalização documentária em bibliotecas universitárias e especializadas; normalização como práticas mercadológicas para profissionais da informação).
Evidentemente que essa esquematização não representa a totalidade de perspectivas de estudos da área, de sorte que busca apenas estimular reflexões e possíveis norteamentos para o desenvolvimento de pesquisas de graduação e pós-graduação.
Finalmente, o que deve ficar claro na escolha de tema é o permanente uso do exercício crítico (duvidar e perguntar com frequência o que pode ser feito e como deve ser feito); intuicionista (buscar viabilizar mental e pragmaticamente a exequibilidade do tema); perceptivo (extrair questões produtivas que justifiquem a finalidade do tema, tanto para a comunidade acadêmica, quanto para si mesmo).
Fiquem à vontade para utilizar o fórum recomendando outras sugestões de tema e finalidades da pesquisa, visando o enriquecimento do texto e do debate.
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