Eu também vou aderir ao movimento organizado que pretende extinguir as segundas-feiras e como se também não me bastasse, irei sair por aí caçando a minha sombra. A minha sombra? É isso mesmo, meu caro amigo leitor: a minha sombra. Pois bem, nessa vida “amalucada” onde se tem de tudo, porque não sair por aí procurando por uma sombra ou fazer um abaixo assinado para acabar de vez com este dia da semana que todo mundo odeia? Ora que ainda vem depois do Domingo e que é o começo da semana. Acordamos sem querer sair da cama.
Deve estar pensando que surtei de vez, pra isso falta pouco, eu sei, mas andei lendo o livro “O Homem que odiava a segunda-feira”, de Ignácio de Loyola de Brandão, que é bem interessante e me despertou a curiosidade já que, todo mundo odeia o raio da segunda-feira.
No livro, um cara comum, com trabalho, casa, mulher, começa a passar mal toda vez que se aproxima o fim do domingo e ele se pega vendo as programações finais dessa noite típica. Na segunda, ele passa a ficar tão mal, que nenhum médico consegue diagnosticar o que realmente este homem tem. E como se não bastasse não ir trabalhar na segunda-feira porque tudo dá errado, ainda neste dia, perde a mão na caixa de correio e a sombra pelo caminho. Agora perder a mulher na segunda-feira, é mera coincidência ou não? Pensemos por este pobre homem que está tão só e sóbrio que começa a conversar com uma formiga depois dessa gota d’água.
Fico então horrorizado, preso nessa história: o que queremos saber é o que de fato poderá mais acontecer a este pobre homem no fim do último capítulo? Faço-me de vez esta pergunta e chego assim a conclusão que a segunda-feira só serve mesmo para os cinéfilos que pagam meia e que de resto, ninguém a merece tanto. Já que não se pode ser feliz em plena segunda-feira, poderemos extinguir de vez do calendário este dia nefasto? E, quando não pudermos ser felizes nas terças, que elas também sejam deletadas das nossas vidas! Depois as quartas, as quintas, as sextas, os sábados e os domingos… Até que desapareçamos nós também na nossa infelicidade e mesquinhez.
Então, um dia, também nossa sombra sumirá de baixo dos nossos pés e aí não restará mais nada e nem sequer os pequenos, os grandes e os patéticos motivos que nos levam todos os domingos a odiar a segunda-feira – pobre dia símbolo dos nossos recalques, culpas e desilusões, como Zezé Brandão já dizia.
De certo, eu só sei que qualquer coisa crível, agora serve. Dobrar uma esquina errada, pegar uma rua errada, continuar por avenidas erradas e nunca chegar a lugar nenhum. Depois ligar pra dizer que um flanelinha me ameaçou de morte, que uma enchente inundou o décimo segundo andar, que uma horda de corintianos me perseguiu. Menos um pneu furado ou a morte de uma vó, que ninguém acreditaria. Ou uma desculpa lógica como uma mão caída na caixa do correio, ou o súbito desaparecimento da minha própria sombra. Assim, todos acreditariam que eu só não fora trabalhar porque alguma coisa realmente de força maior me impediu. E segunda-feira, se for um feriado, a terça faz o mesmo papel, não é mesmo? E pode ser a sexta, a quarta. Apenas não se pode ser feliz as segundas-feiras. E segundo, Loyola, não se pode ser feliz nunca. A segunda-feira é só um pretexto.
Enfim, se algum dia formos felizes, seremos só seis dias felizes. Depois cinco, quatro, três, dois. Até não sobrar espaço algum para felicidade. Aí então, pede-se de vez um decreto em que só exista o fim de semana.
Autor: Ignácio de Loyola de Brandão
Edição: 1
Editora: Global
ISBN: 8526006290
Ano: 1999
Páginas: 168
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