No ano de 2015, os representantes das redes de bibliotecas comunitárias, assessoradas pelo programa Prazer em Ler do Instituto C&A, estiveram reunidos em Salvador, em frente à Baía de Todos os Santos, local conhecido pelo axé, que na língua Iorubá significa poder, energia ou força, presente em cada ser ou em cada coisa.
Foi a partir dessa energia criadora existente em cada integrante e com a latência do desejo de promover mudanças relevantes na área do livro, da leitura, da literatura e da biblioteca que foi fundada a Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias – RNBC.
A partir daí foram iniciados os processos de organização e estruturação para consolidar o trabalho coletivo, continuar promovendo a formação de leitores e atender às demandas em incidência política, que se apresentaram de forma mais contundente no país, nos últimos dois anos nas esferas municipal, estadual e nacional.
A RNBC já surge como um importante coletivo popular que valoriza ações permanentes de formação de leitores nas comunidades, nos espaços das bibliotecas comunitárias e no entorno delas.
E dessa forma elas se tornam passíveis de serem reconhecidas como espaços de resistência e formação sócio-cultural, muitas vezes únicos espaços de congregação de mulheres, crianças, jovens e idosos dessas comunidades. Diante do importante trabalho que realizam, as bibliotecas comunitárias precisam de recursos para manter vivas as suas atividades permanentes de formação de leitores.
E além de fortalecer a participação em editais e buscar financiamentos públicos e privados, o trabalho em rede potencializa a promoção da luta pelas políticas públicas por meio da incidência política na área do livro, leitura, literatura e biblioteca.
Pensar em ações em rede, por si só já nos remete à sensação de potência e capilaridade. Por isso mesmo é preciso que os processos de organização interna e articulação sejam pensados, colocados, dialogados e referendados pelo coletivo, sem hierarquia, daí a importância da construção de metodologias operacionais que promovam a reflexão, as decisões democráticas e a multiplicidade de representação.
No caso da RNBC, os diferentes sotaques, saberes, fazeres e costumes regionais se congregam numa rede plural, diversa, democrática e que através da gestão compartilhada busca garantir esses elementos. Para fazer valer essas proposições, a rede se organizou na forma de um Conselho Gestor, com dois representantes de cada rede local de bibliotecas, em três Grupos de Trabalho (Comunicação, Mobilização de Recursos e Incidência Política) e uma equipe de PMA (planejamento, monitoramento e avaliação).
Apesar dos diferentes cenários políticos e das diversas cidades em que a RNBC está presente, através de redes locais, o objetivo é o mesmo: garantir políticas públicas para a área em questão, e a leitura como um direito humano.
Nessa perspectiva a luta não é só pelas bibliotecas comunitárias, mas também pelas bibliotecas escolares através da cobrança do cumprimento da lei 12.244 de 24 de maio de 2010, que afirma a obrigatoriedade de biblioteca escolar nas escolas públicas municipais ou estaduais; pela elaboração e efetivação dos planos municipais e estaduais de livro e leitura como lei e com fontes de recursos; a valorização e modernização das bibliotecas públicas; pela inclusão de um estudo mais aprofundado em bibliotecas comunitárias por parte dos currículos acadêmicos da área de biblioteconomia.
A rede vem recebendo o reconhecimento de vários segmentos e acaba de ganhar o Prêmio IPL – Retratos da Leitura, do Instituto Pró-Livro, na categoria Bibliotecas, com o projeto: Programa Prazer em Ler e RNBC. Para 2018, a rede segue aprimorando os seus processos de estruturação e articulando novos parceiros que agreguem essa luta com força, coragem, seriedade e muito amor.
Viva as Bibliotecas Comunitárias!
Axé!
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