No início de setembro completou um ano do incêndio no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN/UFRJ) em 02 de setembro de 2018. Durante este tempo, li algumas comparações com o incêndio na Catedral de Notre-Dame em Paris, que aconteceu no dia 15 de abril de 2019, me deixaram um tanto perplexa, embora fosse salutar a indignação pela destruição do patrimônio cultural e histórico mundial.
Uma das comparações, que mais circularam nas redes sociais, foi com relação aos comentários feitos por Bolsonaro após o incêndio no Museu Nacional no ano passado:
“Já está feito, já pegou fogo, quer que faça o quê? Questionado sobre as propostas para manutenção do patrimônio histórico do país, candidato do PSL à Presidência afirmou que, embora tenha ‘Messias’ no nome, não tem como ‘fazer milagre’.” (Declaração sobre o Museu Nacional publicado pelo portal G1 – Eleições 2018).
“Em nome dos brasileiros, manifesto profundo pesar pelo terrível incêndio que assola um dos maiores símbolos da cultura e da espiritualidade cristã e ocidental, a catedral de Notre-Dame, em Paris. Neste momento sombrio, as nossas orações estão com o povo francês.” (Publicado em seu tuiter no dia 15 abr. 19).
Através destas declarações ficou evidente o quanto muitos brasileiros, entre eles o próprio candidato e então presidente do Brasil, desconhecem a importância do papel histórico, cultural e científico das instituições brasileiras e valorizam mais o patrimônio estrangeiro, no caso o francês, que o nacional.
Outra questão bem explorada pela mídia, está relacionada às doações arrecadas para a reconstrução da Catedral de Notre-Dame e às doações do Museu Nacional. É triste saber que o Museu Nacional recebeu, em 7 meses, 0,034% de valor doado a Notre-Dame em 24h (publicado no blog de Ancelmo Góis, no dia 17/04), sendo estes valores doados principalmente, por bilionários estrangeiros e brasileiros, entre elas marcas de luxo.
A revista Carta Capital publicou uma reportagem demonstrando que em “Sete meses depois, associação que coordena a restauração do imóvel recebeu apenas 965 mil reais”, sendo que o governo alemão foi o que mais doou para Associação dos Amigos do Museu Nacional e apenas 15 mil reais foram doados por empresários nacionais. A Associação Amigos do Museu Nacional é uma entidade sem fins lucrativos, cuja principal finalidade é apoiar as atividades do MN/UFRJ.
Quanto às doações, também cheguei a ler comentários com relação à tragédia recente dos países africanos do ciclone Idai e das enchentes em Moçambique, Malawi e Zimbábue, deixando milhares de vítimas em março de 2019. Segundo dados da Unicef, em Moçambique, os casos de cólera e malária aumentaram muito e que 1,6 milhão precisam de assistência urgente nos três países. A Unicef havia arrecadado apenas 122 milhões em semanas de arrecadação para as crianças vítimas do ciclone na África.
É mais triste ainda, ver brasileiros comentando, que se tivessem dinheiro doariam para a reconstrução da Catedral francesa, mas que não doariam para o Museu Nacional sob o argumento que aqui o dinheiro não chegaria à instituição ou que não seria usado para a reconstrução do mesmo. Visualizei estes comentários em grupo de mulheres, de patrimônios, entre outros do qual faço parte.
Observei também muitos comentários dizendo que no Museu Nacional foi pior, pois o incêndio foi ocasionado por um problema no ar-condicionado e na Catedral foi porque estava passando por uma reforma. Sinceramente, em ambas situações foram ocasionados pelo fogo e ambas instituições deveriam ter um plano de segurança.
No site “Le Blog” do Pérol, Jean-Philippe Pérol escreveu um artigo intitulado “Notre Dame de Paris abrindo um debate sobre monumentos históricos, cultura e turismo” e coloca que “Se muitas destruições se devem a trágicos acidentes ou a folia humana, não se deve esquecer que a falta de manutenção, bem como o abandono das autoridades, são causas sempre presentes. Um ano atrás, a revista Le Point já avisava que Notre Dame de Paris estava num estado calamitoso e que os 4 milhões de euros de verbas públicas anuais não cobravam 3% dos investimentos necessários. E a destruição do acervo do Museu Nacional se deve tanto ao incêndio que a falta de orçamento suficiente nos últimos anos.”
Com o advento das redes sociais, estamos numa época onde a maioria dos indivíduos, não leem e tem pouco conhecimento científico, mas que deseja velozmente comentar algo expressando apenas a sua opinião como a mais pura verdade. Esta época presente para alguns é a pós verdade. Segundo a Wikipédia, o termo “é um neologismo que descreve a situação na qual, na hora de criar e modelar a opinião pública, os fatos objetivos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais”.
É notório que estamos vivendo numa época de total descrença das instituições públicas brasileiras, mesmo as científicas e as culturais. Além disso, digo que há também a descrença no próximo e a empatia pela dor deste, pois infelizmente, em pleno século XXI, o povo africano ainda não faz parte das prioridades no mundo, estando, muitas vezes, renegados a fome e as cóleras. O diretor e fundador da Biblioteca de Alexandria, o cientista egípcio Ismail Serageldin (1944- ) deu a seguinte declaração ‘A fome é um Holocausto silencioso que não gera debate’.
Caso, você queira doar, não por puro modismo à Europa, e sim para causas mais necessitadas, como as que foram mencionadas, seguem abaixo os dados:
Para ajudar crianças vítimas do ciclone da África:
Saiba como ajudar as vítimas de Moçambique, Zimbábue e Malaui
Para ajudar o Museu Nacional:
Doação no Brasil (Via Associação Amigos do Museu Nacional)
Banco do Brasil Ag.: 3010-4 C/C: 60.618-9
CNPJ: 30024681/0001-99
Se a doação for diretamente para o Museu Nacional, envie o comprovante da doação para: sosmuseunacional@samn.org.br; se for para ajudar as pesquisas dos alunos, envie o comprovante da doação para:rds@mn.ufrj.br. Em ambos os casos, você receberá um recibo.
Doação no Exterior
IBAN: BR3200000000030100000606189C1 – SWIFT: BRASBRRJBHE
PayPal Através de links nos sites www.museunacional.ufrj.br e www.samn.org.br
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