Tenho algumas reservas com componentes musicais criados para serem do tipo “consumo imediato”, o famoso “coma logo senão estraga”. Portanto, quando ouvi o projeto de música experimental e multimídia iamamiwhoami, confesso que fiquei com o ouvido atento, mas não hipnotizado. Não demorou muito para que a inovação e a inteligência criativa da cantora sueca Jonna Lee, co-produzida por Claes Björklund, fincasse bandeira no meu território sonoro. A ideia do projeto começou em 2009, quando teasers do Youtube apresentavam imagens intrigantes, misteriosas e repletas de sequências que precisavam ser decifradas. O ritmo, provocado por elementos musicais pouco usuais, se mistura aos vídeos experimentais, apostando no efeito surpresa como forma inicial de contato.
Minha primeira audição aconteceu com o álbum `bounty’, com Jonna Lee interpretando conceitos para a mandrágora officinarum, uma planta lendária, coberta por mistérios e conhecida por seus efeitos medicinais e alucinógenos. Achei a ideia interessante, mas não me cativou de imediato. As músicas e os vídeos exigem que a audição seja feita com parceria entre som e imagem, instigando a montagem de um quebra-cabeças ao sugestionar – exigir, na verdade – a ligação entre vídeos diferentes.
Em seguida, conheci ‘Kin‘ e comecei a me aproximar do projeto. Aqui não há mais tanto movimento, mas sim uma nuvem tênue e pálida, quase fantasmagórica, que vai se aproximando aos poucos. Mas iamamiwhoami me acertou em cheio com ‘BLUE‘, álbum onde o mar é o protagonista, tornando-se uma metáfora para a era digital. O trabalho prioriza a água e o fato de, segundo Jonna Lee, “termos um pé no mundo físico e a cabeça na água”. É um álbum hipnótico, cativante! Apesar da decepção de uma parte da crítica especializada, que considerou o álbum BLUE como “pop genérico”, que “perdeu a capacidade de surpreender” ou ainda “que há apenas um sintetizador nórdico cintilante, mas nada fora do convencional”, eu arrisco dizer que BLUE tem a pegada musical cativante, sem ser reativa, o que não desmerece em nada o álbum. E aindo digo mais: iamamiwhoami vai além da música, sendo uma fusão de interpretação, signos e conexão. Ouça.
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