Por: Simone Evangelista, do Ciência Hoje.
Literatura em Cordel
Tem forma orientadora,
Pode ajudar o docente:
Professor e professora
Partindo da afirmativa
Como socializadora.
O livro A Literatura de Cordel no Ensino de Ciências dá o seu recado logo nas primeiras páginas. Ao levar a cultura popular brasileira para sala de aula, docentes de todo o país podem se beneficiar do gênero literário em prol da educação.
A obra é resultado da dissertação de mestrado defendida pelo físico Wilson Seraine em 2009 no curso de Ensino de Ciências e Matemática na Universidade Luterana do Brasil, em Canoas (RS). Para comprovar a hipótese de que a literatura de cordel pode colaborar para a compreensão de conteúdos didáticos, o pesquisador realizou uma pesquisa com alunos da sétima série do ensino fundamental de uma escola privada de Teresina, no Piauí. “Durante a pesquisa, eu e meu orientador verificamos que já havia muitas teses e dissertações sobre o cordel, mas nenhuma que pudesse demostrar de fato como ele ajuda na fixação e memorização das aulas”, conta Seraine. “Por isso optamos por buscar resultados estatísticos”, explica.
Em busca desses dados, o pesquisador pediu à professora de duas turmas que trabalhasse com o assunto “excreção” no mesmo dia em ambas, uma com e outra sem o uso do cordel, que funcionou como grupo de controle. O grupo experimental, cujas médias foram inferiores ao grupo de controle no semestre anterior ao experimento, teve aula com o livro didático e também recebeu um texto em forma de versos, lidos individualmente e de forma coletiva. Na aula seguinte, os dois grupos realizaram um teste com dez questões de múltipla escolha. A turma que estudou o tema com base no texto em cordel desta vez obteve média semelhante ao grupo de controle na avaliação, o que apontou para a eficácia do método. Seraine realizou ainda entrevistas com os estudantes do grupo experimental, que nunca haviam tido aulas com o uso do gênero literário. Segundo ele, quase todas as respostas mostraram alunos interessados na abordagem.
Introdução e conclusão em forma de cordel
Apaixonado pela cultura popular nordestina, Seraine diz que nem sempre é fácil falar sobre o assunto em suas aulas – ele leciona física para alunos de cursos técnicos e superiores do Instituto Federal do Piauí. Entretanto, ainda que não utilize a literatura de cordel como ferramenta pedagógica, faz questão de mencionar rimas e histórias sempre que possível. “Paro em vários momentos para falar da nossa cultura, os alunos adoram. Não importa se a aula é de física, matemática ou filosofia, temos que colocar a cultura dentro de sala de aula”, defende.
“Na maioria das escolas, o professor fala de cultura nas datas comemorativas do ano letivo, e não como algo que faz parte do cotidiano do aluno”
No livro, Seraine afirma que a cultura local é um dos elementos mais significativos para a prática docente e escolar. “Essa valorização deveria ocorrer não só nas aulas de história ou literatura, mas também em todas as disciplinas, haja vista que, na maioria das escolas, o professor fala de cultura nas datas comemorativas do ano letivo, e não como algo que faz parte do cotidiano do aluno”, critica.
Em parceria com o cordelista Pedro Costa, Seraine inova também na apresentação do livro – a introdução e a conclusão vêm em formato de cordel, mostrando na prática ao leitor como os versos podem ensinar. E para os professores que desejam começar a trabalhar com este gênero literário que é a cara do Brasil, um recado: “Durante a pesquisa, encontrei mais de 250 títulos de cordel relacionados à ciência só no meu acervo. É preciso se familiarizar, ver onde tem cordel em cada região do país, pois há muitos cordelistas espalhados por aí. O cordel não é só cangaço, existem diversos temas”, garante ele, que possui uma coleção de 3.000 folhetos de cordel e também é especialista na vida e obra de Luiz Gonzaga.
Comentários
Comentários