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O jogo político em meio aos discursos golpistas: estratégias e egos em um tempo de incertezas

Um espectro do passado ronda corações e mentes apaixonados nas terras de Pindorama. Parece surreal ao primeiro pensamento, mas olhando a história do Brasil, perceberemos que esse espectro do passado, na verdade, sempre foi parte do presente. E que espectro é este? Você deve estar se perguntado: acompanha-me nas próximas linhas, que logo saberás!

O ano é 2022, estamos no outono no hemisfério Sul. Tudo parecia bem e normal há 4 anos, mas não estava. Pessoas de diversas partes do território nacional começaram a se sentir à vontade para colocarem para fora suas ideias machistas, homofóbicas, racistas, elitistas, sectárias, dentre outras, pelo fato de encontrarem eco e chancela na voz do chefe do executivo nacional. Há quem diga que tais pessoas passaram a ter esse tipo de comportamento de um tempo para cá; eu penso que elas, de fato sempre tiveram, só faltavam uma “bengala teórica” para se apoiarem, ou em outras palavras: abriram as portas dos bueiros para elas saírem.

Por mais que nossa história oficial seja marcada por golpes e contragolpes, não raro envolvendo militares (já tive a oportunidade de escrever sobre isso aqui na Biblioo), o imaginário social parece não ter percebido que vivemos em um país com fortes discursos e práticas autoritárias. Nossa tendência enquanto nação que enfileirou fatos históricos advindos de acordos, (como nossa independência que completa 200 anos em setembro, por exemplo), é olhar com pouca atenção as sanhas autoritárias que vez por outra aparecem, e nem sempre ganham destaque.

O atual governo do Brasil, e falo do governo mesmo, não apena do chefe do executivo, parece ter adotado um discurso altamente autoritário como sendo a fala oficial do próprio governo. Ministros, secretários, agentes do estado com cargos na máquina governamental, parlamentares que constroem à base do governo no parlamento federal, e outras autoridades que não tem nada a ver de forma direta com o governo federal, como vereadores e deputados estaduais, assumem também eles, uma postura autoritária no trato com desafetos, a começar pela imprensa.

Embora estejamos ouvindo o mantra do golpe, e isso é deveras perigoso, pois vai se infiltrando na dinâmica social até ser absorvido e tratado como algo normal, a imagem que nos vêm sobre o golpe, principalmente se há militares envolvidos, são de tanques e tropas nas ruas. Na atual conjuntura em que o mundo se encontra, acho pouco provável que isso de faça e desta forma. Entretanto, o desejo autoritário de controlar o país sem obedecer às regras preestabelecidas e consagradas pela constituição vigente, é cada vez mais latente na voz e atos do chefe do executivo nacional, acompanhado por quem o tem como “mito”.

Escrevi em agosto passado, aqui mesmo na Biblioo, que teríamos eleições em 2022, apesar de Bolsonaro. Já são 9 meses desde a publicação do texto, e o discurso golpista e autoritário vêm ganhando cada vez mais terreno. Penso que as instituições brasileiras demoraram para reagir, embora seja nítido que algumas continuam “deitadas eternamente em berço esplêndidos”, repousando sob o céu azul de brigadeiro e contemplando “o lábaro que ostenta estrelado”.

Também percebo pouca movimentação da sociedade civil organizada, da Igreja católica, que sempre tem o que falar sobre tudo, dos movimentos sociais, dos setores produtivos, da cultura, etc. Não que haja um silêncio geral nesses setores supracitados, mas as vozes que se levantam são tão poucas, que quase não dá para ouvi-las.

Sobre tudo que eu levantei até agora, um amigo de longa data me disse que “estamos em ano eleitoral, e que as preocupações daqui para frente é a sucessão presidencial e a composição das assembleias e o congresso nacional”. Tive que concordar com ele, embora estejamos vivendo um momento atípico até mesmo no cenário político eleitoral. Corremos um sério risco de não termos eleição, e isso não é uma constatação fatalista!

Constantemente o presidente do país atacada o sistema eleitoral, ataca o órgão que cuida das eleições, órgão esse que completa 90 anos este ano, tempo mais que suficiente para que se possa ter ao menos, respeito pela instituição. Falas que não se ouviam há 5 anos, hoje ganha destaque nas conversas entre os cidadãos. Nunca na história das urnas eletrônicas, um candidato que foi eleito por elas na maioria das vezes em que se candidatou, fez ataques tão vis e perenes às próprias urnas. O curioso é que ele fala, acusa, questiona, mas nunca apresenta uma prova sequer para ratificar o que vem falando.

No lado do campo democrático, surgem candidaturas que, ao meu ver, provam que o campo político nacional precisa de uma renovação urgente; renovação de quadros, de sistema, etc. Encabeçando às diversas pesquisas que estão sendo apresentadas, aparece o ex. presidente Luiz Inácio; em segundo lugar no cenário da corrida ao Planalto, surge o atual presidente; a terceira opção de votos dos eleitores ouvidos nas pesquisas fica com Ciro Gomes, e depois desse, vem a chamada “terceira via”, que de resto nem um postulante que seja unânime conseguiram escolher.

As últimas pesquisas apresentadas apontam para uma vantagem do primeiro colocado, de tal sorte que, se o terceiro colocado abdicar da candidatura, há chances reais de o primeiro colocado vencer às eleições ainda no primeiro turno. Para questões de fortalecimento da democracia contra os discursos golpistas que estão cada vez mais se avolumando, seria uma boa resposta aos saudosistas de regimes totalitários. Todavia, como diz a lenda da crônica esportiva, “é preciso combinar com os russos!”

Ciro Gomes já deu sinais de que não vai abrir mão de sua candidatura, e eu não o julgo por isso. Dos três candidatos melhores avaliados nas pesquisas, Ciro é o que já tem um plano de governo pronto e publicado, e ele fez isso em forma de livro, para que mais pessoais pudessem ter contato com seu plano. Li o livro intitulado de: “Projeto nacional: o dever da esperança”, e confesso que, uma vez colocadas em práticas tais ideias, acho que o país caminharia para uma dinâmica melhor.

Embora hoje o candidato Ciro Gomes não apareça tão bem assim nas pesquisas, do ponto de vistas de ir para o possível segundo turno, em 2018 ele tinha plenas condições de vencer o atual presidente no segundo turno. O partido dos trabalhadores sabia disso, mas não abriu mão de sua candidatura para favorecer a candidatura do pedetista. O que aconteceu depois dessa decisão, é história e das mais trágicas já imaginadas!

Derrotar o candidato das ideias golpistas no primeiro turno é a meta, e isso deveria ser agenda de todos os democráticos, porém, muitos são os egos inflamados que ainda transitam na política nacional. Parece que de uma forma geral, perdemos a capacidade de fazer autocrítica. As vontades pessoais sucumbem os desafios nacionais; claro que aqui me refiro ao agente político, e não o cidadão comum (embora este também deve pensar numa questão macro).

O desafio em tela é derrotar o agente do retrocesso de forma democrática, embora, convenhamos, suas ideias nefastas ganharam corpo entre pessoas ressentidas e raivosas, que pregam o ódio, o preconceito e a intolerância sem desfaçatez. Vai demorar para consertar os erros e vícios plantados pelo atual presidente, mesmo que ele não seja reeleito (e torcemos para que isso aconteça). Que as forças democráticas se unam em torno de um só objetivo: preservar à democracia no Brasil!

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