Os termos historicidade e simbolismo remetem a múltiplas interpretações e heurísticas humanas e sociais. Quando falamos em historicidade estamos constituindo ad infinitum recortes de uma perspectiva temporal e espacial que contextualizam as ações humanas baseadas em documentos e experiências que possibilitam um processo de apreensão e apropriação crítica de conteúdos. Com relação a simbologia, é uma das atividades científicas mais antigas da história da humanidade que se insere na interpretação e criação de símbolos que interferem na construção social e cultural. A simbologia tem a qualidade de subsistir em uma variação de sentidos que une a arte e o contexto sócio-cultural por meio de representações.
Em verdade, esse discurso inicial é um procedimento metonímico para mostrar que o dia do bibliotecário, comemorado no Brasil em 12 de março (é preciso considerar que em outros locais do mundo há uma variação de datas comemorativas) apresenta uma efetiva característica de historicidade e simbologias.
A priori, uma data referencial para comemoração parece ser um fenômeno eminentemente positivista, mas essa percepção depende de quem e como se analisa. A referencialidade da data em si até pode constituir uma percepção positivista, mas as interpretações e fundamentações históricas de caráter crítico podem auxiliar na superação de uma concepção positivista.
O caráter de historicidade e simbologia do dia do bibliotecário pode ser pensado a partir de sua institucionalização/legitimação pelo Decreto nº 84.631, de 12 de abril de 1980 em homenagem a data de nascimento de Manuel Bastos Tigre que foi um expoente da Biblioteconomia brasileira (também considerado poeta, escritor, jornalista, publicitário e outras atribuições), de modo que era Engenheiro de formação e quando resolveu se especializar em eletricidade nos EUA estabeleceu contato com Melvil Dewey, o que motivou a largar a área de Engenharia e atuar na Biblioteconomia, especialmente quando foi considerado o primeiro bibliotecário do Brasil quando passou em concurso para o Museu Nacional do Rio de Janeiro.
A historicidade desta data remete a alguns níveis: o primeiro é profissional, uma vez que indica as perspectivas de atuação do bibliotecário, principalmente em seu viés organizacional e gerencial. O segundo é referente a institucionalização da Biblioteconomia enquanto área do conhecimento de nível superior, especialmente a partir da abertura do curso de Biblioteconomia promovido pela Biblioteca Nacional que se configurou como fundamento sine qua non para o desenvolvimento do ensino e pesquisa em Biblioteconomia no Brasil.
A simbologia desta data pode ser representada por vários motivos, a saber:
a) pela tomada de decisão de um profissional reconhecido em sua área para construir a área de Biblioteconomia;
b) como corolário do ponto anterior, essa tomada de decisão se estabelece como identidade afirmativa e um incentivo para os componentes da Biblioteconomia (estudantes, profissionais, professores, órgãos de classe) a refletir/repensar sobre sua dedicação/atuação na área;
c) a concepção de que o bibliotecário é um profissional dinâmico, polivalente, regado a construção de parcerias e inovações, especialmente no que toca aos processos, fluxos e gerência de informação.
Diante dessas historicidades e simbologias, é possível afirmar que o dia 12 de março é um momento de comemorações e compartilhamentos, mas acima de tudo é um momento para mostrar os êxitos e os problemas a serem enfrentados/resolvidos pela área. É um momento de valorizar a construção histórica da profissão, suas percepções teóricas e aplicações profissionais, assim como alçar a simbologia no patamar de efetivo reconhecimento da profissão.
Em suma, histórica e simbolicamente a Biblioteconomia é um instrumento. As pessoas e grupos que conduzem a Biblioteconomia é que possuem a responsabilidade de promover construções históricas e simbólicas que fundamentem e representem de forma sólida a identidade da área por meio de um orgulho explícito e de uma dedicação permanente de construção de sentidos sociais e profissionais.
Façamos como Manuel Bastos Tigre: sejamos múltiplos e plurais na Biblioteconomia em seus mais variados devires acadêmico, profissional, social e político-institucional. A união dessas multiplicidades/pluralidades é que fundamenta o sentido do dia 12 de março: uma profissão que cresce, amplia, oportuniza, valoriza e não tem receio de lidar com problemas, críticas e, muito menos, de insuflar seus méritos.
Viva o dia do BIBLIOTECÁRIO!!! Viva o momento de dialogar, respeitar, duvidar, enaltecer, compartilhar, analisar, refletir, discutir, criar… E consolidar o caráter múltiplo, plural e informacional da profissão.
Fecho este texto com uma poesia publicada em alusão ao dia do bibliotecário de 2012 no ‘Jornal O Povo’ intitulada A informação pede passagem: 12 de março é o dia do bibliotecário que busca conceber historicidades e simbologias da profissão.
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