Festas carnavalescas, mês de fevereiro, folião, Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo… Neste período, a fantasia e a brincadeira acabam por não sair dos pensamentos, e a ginga insiste em ficar na ponta dos pés. Há os que não gostam da festa, mas há os que gostam das fanfarras, das máscaras, da batucada e da oportunidade de assistir à apresentação do seu artista e músicos da sua preferência.
Em fevereiro do ano anterior, a Biblioo trouxe a você um texto meu intitulado de Entre carnavais. Nesse texto eu abordei a atual situação do carnaval das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, e a atuação público/privado (RIOTUR, LIESA e Rede Globo), nessa festa conhecida em todo o mundo. Este ano, a pedido da Revista, eu falarei sobre o carnaval de Salvador (cidade que moro há quase dois anos), mas, contarei com a participação de uma cara colega baiana de nascimento, que entende melhor do que eu das transformações ocorridas no carnaval soteropolitano que, como o do Rio, é conhecido no mundo todo.
No carnaval tem alegria, tem encontro e desencontros, amor, paquera, surpresas, decepções e muita emoção envolvida. É certo dizer, que por mais que seja uma festa popular e de rua, os espaços identitários afloram em todo o percurso dos festejos carnavalescos. Se partirmos do sentido da origem da festa até o presente momento, é perceptível que muita coisa mudou, ou seja, novos elementos foram acrescentados, acabando por dar um outro toque ao grande cenário que caracteriza a festa.
O carnaval sempre foi um tempo em que as diversas camadas da sociedade aproveitavam os dias de folga para extravasar na alegria, fantasias, diversão. Muitos até hoje acham que o período do carnaval é um período sem lei. Reservando o achismo, o carnaval é de fato uma festa em que o povo pode brincar mais livremente, e de forma mais universalista, ou seja: o carnaval é a (independente da sua conta bancária) ou já foi à festa do povo?!
Ora, mediante as transformações ocorridas nos últimos tempos na dinâmica do carnaval de diversas cidades, porque não falar do carnaval da Bahia, uma das maiores festas de rua conhecida nacional e internacionalmente, e bem vendida na grande mídia? Todavia, acontece que em muitos momentos essa festa tornou-se um evento para baiano vê, e não diretamente curtir como deveria. Isso mesmo, ao povo da terra coube assistir aos festejos pela televisão; aos que vão aos circuitos para ver os artistas preferidos, é preciso equilibrar-se na ponta dos pés e levantar a cabeça para vê-los, afinal o palco desses são os grandiosos trios elétricos. Com sorte, ele, o povo, conseguirá ver o seu artista preferido, e se esse descer do trio elétrico melhora um pouco, por que ainda assim o músico estará cercado pelos seguranças e pelos foliões que pagaram para estar no bloco.
O evento carnavalesco em Salvador está assim: com grandes e luxuosos camarotes que ocupam áreas cada vez maiores ao longo do percurso. Cada um vende o que há de melhor em seus espaços, diferentes atrativos é o que dá o valor a ser pago, como a festa open bar, com apresentações musicais, conforto, salão de beleza, buffet variado e segurança: vai quem pode pagar pelo serviço ofertado, e isso cabe a cada vez menos soteropolitanos!
Como foi citado acima, espaços identitários, de fato isso acontece. Para início de conversa, os espaços dos grandes camarotes estão reservados para os que podem pagar. Do mesmo modo os blocos, ainda que exista uma tabela variada de opções e preços a serem pagos. E para o folião “pipoca”, aquele que curte a festa sem custos, o que fica? Para esses estão reservados os espaços da rua: uma esquina, uma viela, uma transversal à rua principal, ou a rua principal quando há um intervalo entre um bloco e outro.
Quem melhor sabe dizer sobre isso são aqueles que optam por curtir a festa como pipoca. Isto acontece por situações variadas. Seja pela falta de opção (recurso), ou pelo fato de simplesmente gostarem de ser e estar na pipoca. As ruas que compõem os Circuitos Dodô e Osmar (Av. Sete de setembro e Carlos Gomes) são demarcadas por moradores de diferentes bairros de Salvador, que não raro não possuem uma relação amistosa. O que não significa que um morador de outro bairro ou até mesmo o turista não possa ter acesso a essa ou àquela rua, não é isso. O que acontece é que em muitos casos pessoas de uma determinada localidade se preservam a ficar em uma determinada rua para garantir a sua participação na festa, bem como a evitar algum tipo de desconforto com algum grupo no qual o mesmo não pertença. Pois, como há uma “guerra” entre alguns bairros, a briga generalizada acontece por várias vezes durante o carnaval.
Contudo, a festa acontece na paz e na alegria, o axé music é ouvido entre as ruas da cidade. Mas é preciso destacar outros personagens. Afinal, quem foi que disse que baiano só é de festa? É também de trabalho e muita correria. Destaque para os catadores de latinha, os cordeiros e o vendedor ambulante; sem esses, acreditem, a festa não ficaria completa.
E aproveitando o ensejo, o tema do carnaval de Salvador deste ano foi: “vem curtir a rua”, tendo atrações musicais de destaque como Ivete Sangalo e Bell Merques, que fizeram a festa sem cordas, nos primeiros dias dos festejos momesco. Todavia, esta saída sem cordas não foi de iniciativa das celebridades musicais, mas sim uma promoção do governo do estado, ou seja: as cordas foram ao chão porque o dinheiro do povo financiou isso!
A Bahia é música, é festa, é praia, é carnaval, é gente arretada de boa. E quem não gosta de festa?! Deixo para você a resposta, caro(a) leitor(a). Como bem cantou Caetano Veloso em sua música, cuja letra nos conduz aos festejos carnavalescos: “Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu…”.
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