Luciana Melo, ou simplesmente Luba Melo, é bibliotecária, dirigente sindical do Sindsep (Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo). Desde quando se tornou bibliotecária na Prefeitura de São Paulo (SP), em 2009, ela vem atuando em diversas frentes políticas pelos direitos não só dos profissionais da biblioteconomia, mas da Educação e da Cultura em geral. Em 2017, por exemplo, ela estave com outros profissionais envolvida na luta contra a terceirização das bibliotecas paulistanas e do Centro Cultural São Paulo. Agora se engaja na luta contra a Proposta de Reforma Administrativa, que promete acabar com um série de direitos dos servidores e desmantelar o serviço público, onde a maioria dos profissinais bibliotecários estão hoje empregados. Nesta entrevista ela fala sobre sua atuação política, o cenário atual de atque à cultura e à educação e analisa o cenário eleitoral para 2022.
Você é conhecida por sua intensa atuação política, sobretudo no movimento sindical. Como se deu sua inserção na política, na atuação política? Nos conte um pouco da sua história, por favor.
Eu comecei a trabalhar na Prefeitura de São Paulo como bibliotecária em 2009. E logo me filiei ao Sindsep-SP [Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo], porque entendia que somente com a organização sindical iria conseguir lutar pelos nossos direitos. Nesta época estávamos lutando por uma gratificação específica do nível universitário, organizamos diversas ações importantes como manifestações, notas, mesas de negociação e tudo isso me empolgou muito. Logo me envolvi na luta sindical e hoje tenho muito orgulho de fazer parte da diretoria executiva de um sindicato classista, democrático e com compromisso com a classe trabalhadora como é o Sidnsep-SP.
Muitos bibliotecários e bibliotecárias questionam a atuação política dos seu pares, mesmo fora da seara partidária. Você acha essa uma crítica válida?
Eu acho necessária a crítica construtiva, só assim vamos conseguir desenvolver uma atuação boa para todos e todas. Mas acho que cada vez mais é necessário que nossa categoria ocupe os espaços de poder para defender seus interesses e infelizmente somos poucos bibliotecarixs nesta luta.
Em 2017 você estave com outros profissionais envolvida na luta contra a terceirização das bibliotecas paulistanas e do Centro Cultural São Paulo. Qual o cenário hoje das bibliotecas da capital paulista?
Hoje, com o avanço neoliberal na cidade de São Paulo, temos problemas sérios nas duas Secretarias com maior número de bibliotecários: Educação e Cultura. Na educação enfrentamos a luta contra a terceirização dos doze novos CEUs (Centro Educacionais Unificados), que aguardam desde 2019 a criação de cargos, dentre esses o de bibliotecário. Na Secretaria de Cultura podemos perder a Seção de Bibliografia e Documentação da Biblioteca Infantujuvenil Municipal Monteiro Lobato e seus bibliotecarios poderão ser transferidos. O cenário não está nada fácil.
A ascensão de um movimento conservador e reacionário, a reboque da eleição de Bolsonaro, promoveu no Brasil uma guerra cultural onde os livros e as bibliotecas têm posição central. Como bibliotecários e bibliotecárias podem se posicionar contra isso?
Primeiro é fundamental que nosso engajamento seja nas redes ou nas ruas com todos cuidados durante a pandemia. A exemplo do que aconteceu com a Cinemateca Brasileira na Vila Leopoldina, que sofreu um grande incêndio por conta do descaso de governantes, a cultura hoje no Brasil padece. Cada vez menos temos investimentos sérios nesta área tão importante para nosso país.
Nos últimos meses os atos de rua contra Bolsonaro vem ganhando força. Como você, que tem uma posição pública de esquerda e contra o presidente, vê esse movimento?
Hoje com tantos escândalos e a CPI da covid consumindo o governo Bolsonaro, ele perdeu força, isso é fato. Ele e seus aliados, em uma atitude desesperadora, tenta desmoralizar as urnas eletrônicas e insiste no voto impresso, pra mim é uma cortina de fumaça para esconder os escândalos de seu governo. Por isso, cada vez mais é necessário que as pessoas ocupem as ruas em protesto contra esse governo que foi negligente durante a maior pandemia de nossa história, vimos o colapso da saúde e o desmantelamento da economia com mais de 14 milhões de desempregados. É preciso reagir com resistência.
Os bibliotecários e as bibliotecários são profissionais muito ameaçados pela proposta de reforma administrativa do governo Bolsonaro, pois embora não sejam “carreira típica de estado”, têm no serviço público uma das suas principais áreas de atuação. Como você enxerga essa questão?
A PEC 32, a chamada Reforma Administrativa, prejudicará toda população, não somente os servidores públicos de carreira. Fala-se muito em privilégios, mas a reforma deixa de fora alta cúpula do estado como juízes, parlamentares e militares e quem mais vai sofrer são carreiras como professores, policiais, bibliotecários, auxiliares, enfermeiros, merendeiras, técnicos que em sua maioria no país recebem até 3 salários mínimos.
A população poderá ficar sem saúde pública, sem educação pública, sem segurança pública e outras políticas públicas essenciais.
Com o fim dos concursos teremos a volta do apadrinhamento, ou seja, será o trem da alegria dos políticos que poderão colocar nas escolas, bibliotecas, hospitais qualquer assessor de seu interesse. O concurso público é o que garante a contratação sem nenhum tipo de influência política, filosófica ou religiosa. Por isso precisamos estar engajados contra a PEC 32 e dia 18 de agosto é dia de paralisação em todo país
Que cenário você projeto para 2022? Já é possível pensar na derrota de Bolsonaro e do bolsonarismo?
Hoje, diante de um país aos frangalhos, creio que a população está enxergando a realidade do governo Bolsonaro e a política nefasta de Paulo Guedes e a resposta está nas ruas cada vez mais cheias nas manifestaçoes. E para 2022 pesquisas do Datafolha já apontam vantagens de Lula e queda de Bolsonaro. Ainda é muito cedo para afirmar este placar, mas continuaremos nas ruas e nossa intenção como militantes é a derrubada deste governo ainda em 2021
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