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José Francisco de Almeida Pacheco, idealizador da Escola da Ponte

professor José Francisco de Almeida Pacheco

Por Fernanda Duarte, da EBC.

Idealizador de um projeto educacional que tem como base uma escola sem séries, sem prova, sem “aula” e focada na autonomia e protagonismo do aluno, a Escola da Ponte, em Portugal, o professor José Francisco de Almeida Pacheco é um crítico do sistema tradicional de ensino. Para ele, a aula tradicional é um sistema obsoleto de reprodução de conteúdos que deixa a desejar naquilo que é o mais importante objetivo educacional: a humanização do indivíduo.

Creative Commons – CC BY 3.0O professor José Pacheco, da Escola da Ponte, durante palestra na Universidade de Brasília (Foto: Fernanda Élle)

Apaixonado pelas ideias de teóricos brasileiros como Paulo Freire, Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, entre outros, Pacheco, que é especialista em Leitura e Escrita e mestre em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, se dedica atualmente a disseminar as experiências da Escola da Ponte pelo Brasil, oferecendo consultoria a projetos educacionais e realizando palestras a educadores.

E foi em um evento desses, realizado esta semana na Universidade de Brasília (UnB), que o Portal EBC conversou com o educador português sobre os desafios da escola incentivar o protagonismo dos alunos, o uso de tecnologias na educação, além de questões como a reorganização escolar em São Paulo e da terceirização e militarização do ensino em Goiás. Confira a entrevista.

Portal EBC: A Escola da Ponte é tida hoje como um modelo de educação inovadora de sucesso, sendo referência em todo o mundo. Quais foram as principais dificuldades que vocês tiveram para implantar esse projeto há 30 anos?

Professor Pacheco: As dificuldades que a Ponte encontrou 40 anos atrás foram as mesmas que escolas onde eu estive 50 anos atrás encontraram, e são as dificuldades que as escolas brasileiras de excelente qualidade, excelência acadêmica e inclusão social enfrentam. O primeiro grande obstáculo sou “eu”, é a minha cultura pessoal e profissional, de professor formado nesses cursos de pedagogia que aí estão. O segundo grande obstáculo é, para além da renovação da cultura pessoal e profissional, a renovação da cultura do aluno. O aluno quer aula, quer prova, e vai reagir mal. O terceiro obstáculo é a família e a sociedade, que pensam que a escola tem que ser como é. O Brasil nunca sairá dessa tragédia em que se encontra se a escola não seguir o caminho que essas escolas de que eu falo seguem. Ou seja, deixar de ter aula, turma, série e outros absurdos que não fazem sentido no século 21. Outra dificuldade foi exatamente o poder público. As secretarias, as prefeituras que criaram obstáculos imensos.

Outra [dificuldade] é a formação do professor, que é miserável no Brasil. Aliás, é miserável na Europa também, porque ela reconduz a uma escola do século 19. Ela reproduz um modelo social, um modelo escolar que não faz sentido nenhum, só provoca a ignorância.

Então os obstáculos são imensos, mas o maior obstáculo sou eu. Então, gostaria de deixar essa ideia de que nós deveríamos ser aquilo que nós desejamos que o mundo seja, aquilo que quisermos que a escola seja. O Brasil tem excelentes escolas, que não precisam de Polícia Militar, nem de OSs [organizações sociais], que acabaram de uma vez com esse modelo da aula, das turmas, do século XIX e são as melhores escolas do país, com os melhores índices de desenvolvimento na Educação Básica, e eu penso que o poder público tem que estar atento a isso; as universidades têm que se aproximar e ajudar que essas escolas desenvolvam práticas coerentes com os projetos em que estão envolvidas.

Por falar em organizações sociais, aqui no Brasil os estudantes, principalmente os secundaristas, estão se organizando contra a chamada terceirização do ensino, em que o Estado de Goiás, em uma iniciativa tida como pioneira, está entregando a administração das escolas para organizações e entidades sociais. Os alunos estão se colocando contra isso e houve algumas experiências em que a Polícia Militar assumiu o comando de algumas escolas a partir de 2014. Muitas vezes as pessoas têm a impressão de que as escolas militares por terem maior disciplina de bom desempenho nos rankings de avaliação do ensino são melhores. O que o senhor acha sobre isso?

O que eu penso e o que eu sei é que o fato dos colégios militares terem os melhores alunos no vestibular, por exemplo… eles são os melhores em que? No domínio cognitivo? E o resto da pessoa humana, onde é que está? E mesmo esses bons resultados são de uma pré-seleção desses colégios dos próprios alunos. E dentro desses colégios eles são submetidos a uma decoreba permanente de conteúdos sem sentido que eles não aprendem. Eles decoram para pôr em prova e é isso que acontece. Eles são conhecidos como os melhores: melhores em quê?

Esta questão de poder entregar [as escolas] às OSs e para a Polícia Militar é um mau caminho. É um caminho que não conduz a nada, mas que cria a ilusão de uma boa escola.

Quanto à entrega às OSs em Goiás, é absurda também. Mas a gestão da escola não tem que estar na mão dos professores. Tem que estar na mão de comunidades. Não de empresas, mas na mão de pedagogos, na mão de membros da comunidade que redijam um projeto e o façam desenvolver baseado em valores, princípios; que desenhem uma nova humanidade, um novo Brasil. Quanto aos colégios que tiveram a ocupação da Polícia Militar, quando eu soube do primeiro, que foi em Valparaíso de Goiás, eu fui lá, falei com o comandante e percebi que aquele homem tinha uma boa intenção, só que estava profundamente enganado. Eu vi jovens batendo continência para os mais velhos, vi ordem unida, que me fez recordar quando eu estava no serviço militar. Não é com essa solução que as coisas mudam. Goiás é um estado que é um mau exemplo; um exemplo daquilo que não se deve fazer. Porque não é por aí que as coisas vão. Não é entregando à Polícia Miliar nem a uma OS. É modificando o modelo de escola, é criando um novo modelo de desenvolvimento, é criando uma nova constituição social da aprendizagem, que os políticos não sabem mas podem desenvolver. Já há bons exemplos aqui no Distrito Federal e eu sugiro ao governador do Estado de Goiás e à Secretaria de Estado que venham aprender com aquilo que já acontece aqui, que é o caminho.

Nós também tivemos no ano passado muitas manifestações dos estudantes secundaristas contra o projeto de reorganização escolar proposta pelo governo Alckmin no estado de São Paulo, com os estudantes chegando a ocupar as escolas e se organizando para o feitio da merenda, de atividades culturais, artísticas, debatendo política, propondo soluções para os problemas da escola. Eles, enquanto alunos, buscavam o seu protagonismo e a escola, em muitas falas desses alunos aparecia como o ente que podava esse tipo de atitude. Isso é muito sintomático da sociedade em que a gente vive hoje?

Sim. Na época em que a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo colocou para fora essa reorganização, eu tive a oportunidade de conversar com o autor dessa proposta. E perguntei-lhe qual era o referencial teórico da proposta. E foi me respondido que era uma pesquisa que tinha sido feita pela Secretaria. Eu perguntei: Qual pesquisa? Quais foram as conclusões e eles não souberam responder. Quando o secretário Herman [Voorwald] anunciou na televisão, eu achei aquilo um absurdo. Mas ele disse que era baseado em informação, só que era pseudocientífica, ou seja, não tem fundamentação alguma. Foi muito boa a reação dos estudantes. Eu estranhei foi a falta de reação dos professores. Foi bom que os estudantes tivessem assumido essa posição de ocupar as escolas. Eles fizeram perante motivações que não serão aquelas que poderão evitar que outros absurdos sejam consumados. Porque quando os estudantes ocuparam as escolas, foi para que as escolas não fechassem, para que não houvesse venda de edifícios – era essa a intenção, infelizmente, para que não fossem irmãos obrigados a se separarem, para que não tivessem que percorrer distâncias, enfim, absurdos.

Me parece que os estudantes que fizeram as ocupações, eles sabem a escola que eles não querem, mas eles não sabem qual é a escola que merecem e isso é um risco muito grande, porque abre a porta para novas investidas dessas secretarias, enfim, que não sabem o que fazem, mas que têm o poder burocrático, de impor formas de organizações absurdas.

Então, eu espero que esses jovens não desistam, porque com a ordem, com a disciplina e o respeito que puseram nisso, que agora continuem 20 o modelo de escola obsoleto que eles herdaram. Aquilo que eu vi, passado algum tempo, na internet, foi um professor, ao fazer a recuperação de aula – uma coisa absurda também porque a aula não se recupera, a aula é pra acabar com ela -, que fez algo diferente porque ensinou já sem dar aula. Então eu vi um professor que estava sentado em um semicírculo dando aula. Não é pra isso que se faz uma ocupação de escola, é para acabar com a aula. É para substituir a aula por um novo modelo de aprendizagem, que é possível, que já acontece e que justifica todas as ocupações atuais e as futuras.

As escolas têm batido a cabeça muito com a questão do protagonismo do aluno. Como é trabalhar com base na própria autonomia do aluno para seu aprendizado?

No Brasil e também na Europa isso acontece. Todos os movimentos que visam modificar e transformar a escola herdam a influência do movimento chamado Escola Nova, ou escolanovismo, e o Brasil tem uma tradição com Anísio [Teixeira], Lourenço Filho etc. Considera-se nesse caso que o centro da atividade escolar é o aluno.

Quando eu li Paulo Freire e quando li outros autores, eu compreendi que o centro não é o aluno. O protagonismo juvenil, infantil, o protagonismo do aluno, ele acontece na relação que se estabelece com o outro. Nós aprendemos uns com os outros, mediatizados pelo mundo, como diria assim reciprocamente.

Então, o protagonismo do aluno eu traduziria por autonomia. A autonomia é um conceito relacional. Como eu costumo sublinhar, um professor sozinho em sala de aula não é autônomo. Ele é autossuficiente e portanto ele não transmite a autonomia; ele transmite individualismo. Resumidamente, é bom que nós sigamos um pouco das pistas da Escola Nova, mas compreendendo que a aprendizagem acontece no estabelecimento do vínculo afetivo. Ou seja, acontece entre seres humanos, em que ambos são autônomos, portanto cada um exercendo autonomia em relação ao outro, e protagonistas, isto é, sujeitos da sua própria aprendizagem e não objetos. E temos o Martin Hilbert que nos ajuda a compreender isso.

Creative Commons – CC BY 3.0Alunos em atividade na Escola da Ponte, em Portugal (Fonte: Divulgação)

O senhor fala também da intimidade e da necessidade de se construir um vínculo afetivo para a aprendizagem poder acontecer. Nas escolas que temos hoje no sistema público há salas de aula com 40, 50 alunos e um professor, e escolas enormes, com mil, 2 mil e até mais alunos. Como criar um vínculo num ambiente desses? É possível?

Escolas com mil ou 2 mil alunos não são escolas. São depósitos de alunos. Para haver aprendizagem tem que haver vínculo. E esse vínculo não é só cognitivo, é também afetivo, emocional, ético, estético, espiritual. Vínculo entre quem quer aprender e quem pode fazer a mediação da aprendizagem. Então, essas escolas que têm salas de 30, 40 alunos só as têm porque querem. Se tu dividires o número de alunos pelo número de educadores, eu nunca encontrei uma escola brasileira em que a relação de professor e aluno fosse maior do que um para 10. Então, porque turma de 30 ou 40? É porque as escolas brasileiras não são geridas pela pedagogia, são geridas pela burocracia. Aquilo que se passa dentro dessas escolas não serve.

Como foi que nós [Escola da Ponte] conseguimos? Muito simples. Foi abrindo a escola à comunidade, fazendo com que a escola fosse um módulo de uma rede de aprendizagem, trabalhando com sonhos e necessidades pessoais e sociais da comunidade; entregando a gestão da escola à comunidade, não a empresas, e fazendo um contrato com o Estado. A Escola da Ponte tem um contrato de autonomia.

E dentro do projeto nós exercitamos aquilo que chamamos de tutoria, em que um professor acompanha a vida de forma mais próxima de oito a 10 alunos. E tendo esse vínculo afetivo permanente, estabelece relação com a família, transforma a comunidade, faz a autoavaliação da aprendizagem e aprende com os jovens também.

O Brasil está com uma consulta aberta, desde novembro e que vai se encerrar no próximo dia 15 de março, a respeito do projeto da Base Nacional Comum Curricular. Mudar o currículo é um avanço para a educação brasileira? Vai ajudar a transformar as nossas escolas? É um caminho?

Eu li a proposta da Base Curricular Nacional, eu li as críticas que foram feitas e eu li os textos da consulta pública. É um absurdo. Mais um. Infelizmente. A equipe que preparou essa proposta é constituída por pessoas que eu conheço, respeito, são inteligentes, são bondosas, mas que fizeram um mal serviço. Como é que se pode partir para uma base nacional curricular não questionando a estrutura da escola da comunidade. [A proposta] parte já do pressuposto que têm que haver Fundamental 1, Fundamental 2, Fundamental 3, essa divisão cartesiana em anos iniciais, anos finais. O que é isso? Onde é que isso tem sustentação teórica? Onde é que isso tem fundamento científico? Em lado nenhum.

Então, o que vai acontecer é que [a Base Nacional Comum Curricular] é uma nova proposta que nasce velha. Depois, quando se fala em adaptações locais, em componentes curriculares locais, o que se está a espera? Uma escola que está, enfim, padecendo em uma cultura de autossuficiência, de isolamento, que nem conhece a comunidade, nem sabem o que lá se passa…

Quando eu vejo a carga de disciplinas que lá estão e quando vejo, por exemplo, as artes serem considerada uma disciplina, dando mais importância à matemática e à língua portuguesa… Artes não é uma disciplina, disciplinas são educação musical, educação visual e tudo mais. Ou seja, há uma supervalorização de “áreas nobres” em detrimento daquilo que é o desenvolvimento humano mais genuíno que é da sensibilidade, da ética e da estética. Então, nós temos que perceber que as pressões devem ter sido algo imenso. Pressões de ordem ideológica, dos sindicatos, órgãos patronais, disciplinares, conduziram ao transbordamento curricular, um currículo que nunca será posto em prática. Eu considero que foi um mal serviço e é uma pena que eu fale assim, porque as escolas que desenvolvem currículo contemporâneo no Brasil, as escolas que desenvolvem práticas que dariam, enfim, grandes pistas para essa nova base nacional curricular não foram consultadas. O que é que se foi ver? Currículo australiano, currículo dos gringos. Isso não vale nada, que não é nada. Essa importação de modas curriculares, essa síndrome do vira-lata que as pessoas padecem foi o câncer de origem desse documento. O documento é formalmente bem construído, a introdução é ótima, só que não vejo como essa introdução possa corresponder a uma prática efetiva. Eu lamento que tenha se perdido tempo, lamento que as escolas que desenvolvem currículo à medida do Brasil, do sistema educacional brasileiro não tenham sido escutadas. Tenho pena que não tivessem escutado os ótimos teóricos que aí estão, alguns já falecidos e outros que estão aí e que poderiam dar imensos contributos.Tenho pena que seja mais uma iniciativa para o insucesso.

O uso de mídias e da tecnologia tem sido muito utilizado como um aparato para a modernização da escola, mas, o que se vê, muitas vezes, é que, apesar dos recursos, a forma de ensinar continua a mesma. Como o uso dessas tecnologias pode ser pensado para uma educação que realmente consiga fazer com que o aluno aprenda?

Também tenho assistido com preocupação a introdução das novas tecnologias nas salas de aula, porque as novas tecnologias não devem servir para mitigar as salas de aula ou a aula, não faz sentido nenhum. Ter uma lousa digital é a mesma coisa que ter um quadro-negro, só muda a qualidade do material. Entregar um laptop a um aluno é um disparate! O aluno não aprende sozinho com o laptop, transforma-se em um monstrinho da tela que não vê nada do lado. Não adianta nada criar laboratórios digitais, não sei como eles chamam, [de informática], sem criar lixo digital de curto prazo. As novas tecnologias são incontroláveis. A criação de plataformas digitais de aprendizagem que mandem sinais são indispensáveis, a internet é uma nova sociedade que ninguém pode escapar de pertencer.

O que eu penso é que as novas tecnologias têm que ser um caminho de humanização das práticas escolares e não do mitigar desse velho modelo obsoleto que aí está.

E o que eu vejo é exatamente isso. A gamificação é mais um mito.Game. Agora parece que as escolas todas vão ser cassinos. Eu estive na Quest to Learn, em Nova Iorque, e eu percebi que aquilo lá não vale nada. Ter conteúdos na internet que o aluno possa procurar, mas procurar por quê? O aluno tem que ter uma ideia de projeto para procurar o conteúdo. Portanto, tudo isso que aí está, Salman Khan e tal, é ótimo, mas não da forma como está sendo utilizada. É um desastre. Então, eu penso que essas novas tecnologias são incontroláveis, as escolas com que eu trabalho utilizam-nas. Os alunos têm acesso à internet através do iPod, do iPhone, através de tudo, mas para fazer pesquisa, para procurar e selecionar informação, para analisar, criticar, transformar, comparar, avaliar, sintetizar e comunicar a informação, todos processos complexos que o aluno precisa dispor para ir à internet. Mas o aluno vai à internet para pegar a informação que não aprende, que não transforma em conhecimento. E o professor que utiliza as novas tecnologias em sala de aula não sabe o que faz. A aula [tradicional] é coisa para desaparecer não é coisa para usar novas técnicas. Eu espero que haja bom senso, que não se desperdicem recursos na compra de materiais. Eu encontrei aqui, em Brasília, no Distrito Federal, uma escola onde encontrei nos armários por utilizar 700 laptops. Custaram uma fortuna e nunca foram utilizados nem nunca serão. O Brasil não tem falta de recursos, o Brasil desperdiça recursos.

Se você fosse Ministro da Educação do Brasil por um dia, qual seria sua primeira medida?

Eu emitiria um decreto, mais um, o Brasil já tem tantos, tantas leis, tem mais de um milhão. E este decreto só teria um parágrafo: fecha-se o Ministério da Educação, encerra-se o Ministério da Educação, extingue-se o Ministério da Educação. A partir daí, entregaria as escolas aos municípios, com um sentido de grande responsabilidade de coesão nacional, através de um órgão que fosse efetivamente pedagógico e não burocrático e as escolas assumiriam a autonomia e iriam contrair com o Estado termos de autonomia pedagógica, administrativa e financeira, seriam responsáveis pelos projetos que assumissem e então, o Estado, através dos seus órgãos de poder iria definir quem iria acompanhar esses projetos.

O Ministério da Educação tem gente maravilhosa dentro dele, tem grandes pedagogos, grandes técnicos, gente bem preparada cognitivamente, mas é um monstro burocrático, que tem nas secretarias [estaduais, municipais] seus tentáculos que impedem que as escolas mudem.

As secretarias são instrumento, salvo aquelas que eu conheço e que realmente são secretarias que valem a pena trabalhar [nelas], as secretarias são quase sempre impassíveis à mudança, baseiam-se em burocracia e em leis sem qualquer sentido para impedir que as escolas mudem para melhor. O que está acontecendo no Brasil, que o Brasil desconhece, são dois Brasis: um que mantém uma escola obsoleta caucionada pelo estado, escolas fora do lei porque o que põem nos projetos escritos não fazem na prática, as pessoas incorrem em falsidade ideológica porque dizem nos projetos que vão desenvolver seres humanos para serem cidadãos autônomos e fazem o contrário, criam criaturas que elegem corruptos e que não são autônomos, porque numa aula [tradicional] não se pode desenvolver autonomia, que priva as escolas à autonomia que têm direito. Então, há outro Brasil, o Brasil do Darcy [Ribeiro], do Anísio [Teixeira], do Florestan [Fernandes], do Nilton Santos, do Agostinho da Silva, da Nise da Silveira, entre tantos. Esse é um Brasil que o Brasil tem que conhecer, um Brasil que merece um Ministério da Educação. Mas eu não sou derrotista nem generalista. Ainda recentemente o MEC lançou uma chamada pública para a inovação e descobriu que tem centenas de projetos de inovação. Eu espero que agora não apenas tornem visíveis esses projetos, mas que os acompanhe, os avalie, porque o Brasil tem tudo o que precisa para se melhorar. Só precisa que os órgãos de poder, o ministério e as secretarias não sejam empecilhos à mudança. Espero que isso aconteça.

* Colaborou Ana Elisa Santana.

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