Desde tempos remotos o ser humano buscou meios de sobrevivência no mundo. A história nos relata as grandes dificuldades que a raça humana encontrou para se manter vivo, em meio as intempéries, ataques de animais monstruosos, e adaptação a lugares ermos e inóspitos. Tudo isso serviu como fatores significativos e desafiantes para que o ser humano pudesse permanecer em sua caminhada na Terra. Entretanto, um fenômeno muito importante deu a esse mesmo ser condições de superar todas as barreiras supracitadas. E qual foi esse fenômenos tão importante para a sobrevivência do ser humano no planeta? A informação!
Informação é um conhecimento que se passa por diferentes meios: pela oralidade, impresso em diferentes suportes na forma escrita, numérica, visual e/ou audiovisual. De forma objetiva, à informação é passada por meio de signos (linguagem) a um ser que possui consciência. Por meio dos sentidos, à informação propaga-se, e o seu objeto primeiro é o conhecimento.
Para se obter o conhecimento é preciso buscá-lo, haja vista que o processo de assimilação do mesmo faz-se em diferentes níveis, de acordo com a capacidade cognitiva de quem o busca. Ter conhecimento é sobretudo ter a capacidade de abrir-se ao novo, quebrar certos paradigmas preestabelecidos, descolonizar o pensamento e submergir no assunto ora analisado. Não se obtém conhecimento sem uma profunda e honesta dedicação, empatia com o assunto e, acima de tudo, responsabilidade consigo e com outrem, pois ninguém adquire conhecimento para guardar para si.
Na segunda metade do século XX pra cá a forma de produzir, armazenar e difundir informação sofreu um processo revolucionário, conhecido como boom informacional. Não foi a primeira vez que a dinâmica informacional sofreu um processo revolucionário. O surgimento da imprensa no século XV é considerado por muitos estudiosos como o primeiro. Pois bem, como todo processo revolucionário que se preze, o boom informacional ocorrido há menos de 70 anos trouxe-nos tecnologia e ferramentas antes só pensadas em filmes de ficção científica (e é este o ponto que quero chegar).
Nunca nos foi tão fácil comunicar-se uns com os outros; nunca foi tão rápido poder falar com uma pessoa (ou um grupo), mesmo que esteja no outro lado do planeta. As facilidades que a tecnologia trouxe são inegáveis e, arrisco em dizer, irrevogáveis. Poucas pessoas fazem uso de meios informacionais e comunicativos de antes. Um exemplo clássico: quem hoje em dia (salvo as correspondências de cobranças) manda cartas pelo correios? Eu mesmo já mandei muitas cartas em minha vida; mandava para pessoas de outros estados que eu conhecia. Mandava até mesmo para amigos da minha própria cidade, para não perder o hábito da escrita. E por mais que eu gostasse de enviar cartas, há um bom tempo eu não faço mais isso.
A internet deu uma dinâmica significativa na vida das pessoas do nosso tempo. Informações que demoravam meses para chegar a certos lugares, hoje chegam ao tempo de um clique no teclado; pessoas que não se viam há anos devido à distância, hoje podem se ver na tela do computador, celular, tablete… Comunidades isoladas da dita civilização, hoje podem manter contato com a mesma, fazendo uso apenas de dispositivos móveis ligados à internet ou via satélite.
Fake News
O mundo globalizou-se como nunca e as pessoas estão altamente conectadas. Em tempo real, os brasileiros (ou pessoas de outras nacionalidades aqui e/ou em qualquer parte do mundo), podem assistir uma sessão legislativa ou um julgamento da mais alta Corte de Justiça; crianças, jovens e adultos podem assistir seus programas preferidos sem ao menos estarem em casa, e por aí vai. Da mesma forma que se globalizou o mundo, e as barreiras que tange à cadeia informacional foram caindo, popularizou-se formas de manipulação da informação e até mesmo a institucionalização de informações falsas, as comumente conhecidas fake news.
É tão séria a questão das fake news que o Tribunal Superior Eleitoral do Brasil (TSE) resolveu fazer uma campanha e prometeu endurecer a fiscalização acerca de notícias falsas durante o processo eleitoral que ocorrerá este ano. Como uma parte considerável da população brasileira tem acesso a meios eletrônicos, que possibilitam angariar informação em um espaço curto de tempo, qualquer tentativa de manchar o nome de algum(a) candidato(a) com as fake news será identificada e os seus responsáveis punidos diante da lei (essa é a intenção do TSE).
Enquanto cidadão cumpridor das minhas obrigações, que tem na informação meu campo de atuação primeiro, preocupa-me consideravelmente o fato de ver (sempre!) na internet pessoas compartilhando posts sobre outras pessoas, ou sobre agremiações partidárias, times de futebol, estilo musical, celebridades… que não os seus, ou que não fazem parte da sua dinâmica de vida, sem nenhum controle, sem nenhum filtro, pelo simples fato de ridicularizar o que não é bem quisto por elas.
Há poucas semanas a Câmara de Vereadores do município do Rio de Janeiro aprovou alguns projetos de lei em que a vereadora Marielle Franco (covardemente executada no último 14 de março), figura como autora, e/ou coautora. Um dos projetos aprovados pela casa legislativa versava sobre a obrigação do estado em dar condições mínimas educacionais e de aprendizado visando uma profissão, para jovens com alta vulnerabilidade sócio/econômica, e que por ventura estivesse sob a guarda do estado em decorrência de terem causado infração (em suma).
O que vi nas redes sociais a respeito da aprovação desse projeto pela Câmara municipal, foi um festival de afirmações grotescas sobre o projeto e ofensas gratuitas a uma pessoa que já nem estava mais em nosso plano espiritual. Eu não vou reproduzir aqui os impropérios que li nos comentários de quem publicou um post falando sobre a aprovação do projeto, mas, faço questão de discorrer sobre um, pelo menos. Em outras palavras, o post pedia ao prefeito da cidade do Rio de Janeiro para não confirmar essa aprovação, sob pena de manifestações por toda a cidade (que capacidade de mobilização fantástica tem esta pessoas, não?!). No post que gerou frisson nas redes sociais, o projeto foi desenhado da seguinte forma: “Câmara do Rio aprova projeto da vereadora Marielle, que cria cotas para jovens infratores em concurso público do município”.
Eu sabia que a casa legislativa se reuniu neste dia para debater os projetos da vereadora, mas eu desconhecia o teor desse projeto analisado aqui. O que fiz como um bom profissional que trabalha com a informação e detesta fake news? Acessei o site da Câmara, não tive dificuldades em encontrar o link que me levou ao projeto, baixei o mesmo e fiz uma leitura sem pressa e, acima de tudo, sem pré-requisitos. A vereadora amarrou o projeto no Estatuto da Infância e do Adolescente (ECA) e na Constituição Federal do Brasil (CF/1988). Bem escrito e inegavelmente fundamento.
Pronto, eu havia sanado em mim uma dúvida gerada pelo falacioso post. Não que eu não tivesse a capacidade de desconfiar do mesmo, mas era preciso ter, eu mesmo, as minhas impressões sobre o projeto. O que fiz? Fui as fontes primárias da informação e obtive (na fonte) a resposta que precisava. Infelizmente nem todos pensam ou agem assim. É claro que fui na página da autora do post e escrevi que aquilo era falso e que propagar informações falsas é crime… Ela é uma “patriota”, com dizeres clamando pela intervenção militar na capa da sua página, e uma foto de um candidato à presidência do país batendo continência…
Independente da loucura que será este processo eleitoral que se aproxima, e das convicções programáticas e partidárias que lhe rege, é preciso ter responsabilidade com o que se divulga e compartilha, para que a lei não seja exercida contra você! A dignidade humana ainda reina sobre qualquer ideologia. E respeitando as outras pessoas em todas as formas de expressão que elas entendem certas para si (ou para o mundo), que vamos ter as nossas respeitadas!
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