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Igor Mayworm

RIO – Igor Mayworm, presidente da União Estadual dos Estudantes do Rio de Janeiro, fala sobre a retomada do Movimento Estudantil e das recentes ocupações de reitorias.

Chico de Paula: Igor, como está sendo esse processo, essa mobilização dos estudantes em torno das reivindicações e quais são essas reivindicações que vocês estão trazendo hoje para as universidades?

Igor Mayworm: Primeiro eu acho que é importante contextualizar. Essas manifestações na UFRJ não acontecem isoladas de outras manifestações. A grande maioria das universidades federais do país tem realizado ocupações; manifestações em defesa de transformações estruturais e de mais assistência estudantil, o que também não está deslocada da realidade do mundo. A gente vê o mesmo no Chile, na Inglaterra e nos países árabes. A juventude em 2011 tem se revelado, tem participado mais da política, a fim de garantir melhorias e avanços, e aqui na UFRJ não é diferente. Essa quinta-feira [22/09] é, na verdade, a terceira quinta-feira consecutiva em que os estudantes se organizam nos mais diversos Centros Acadêmicos; estudantes de diversos cursos, campi da UFRJ, e diga-se de passagem, das mais diversas correntes de opinião e matrizes ideológicas se uniram em defesa de um bem comum, que é o avanço na assistência estudantil,  a abertura de bandejões, não só aqui no Fundão, mas como nos campi afastados; um reajuste das bolsas e uma data fixa para pagamento dessas bolsas; abertura dos bandejões noturnos e reformas estruturais na universidade. Tudo isso acontece como fruto de uma expansão que a universidade viveu recentemente com o REUNI [Plano de Reestruturação das Universidades]. A universidade viveu um processo de reestruturação de expansão. A UFRJ também aprovou recentemente que 100 % de suas vagas seriam preenchidas através do SISU [Sistema de Seleção Unificada] e que 30% de suas vagas seriam reservadas para alunos de baixa renda oriundos de escola publica. Portanto, entrou na universidade uma parcela que precisa muito mais da assistência estudantil para que possa se manter. O problema do acesso à universidade é um problema muito evidente em nosso país. Hoje nem 5% da nossa juventude, de 18 a 24 anos, está dentro da universidade pública. O REUNI deu passos tímidos no sentido de solucionar esse problema e quando entra essa parcela da juventude mais depauperada do ponto de vista financeiro na universidade, sem dúvida nenhuma a questão da assistência estudantil ganha maior relevância e culmina nessa grande efervescência de participação política do movimento estudantil em defesa de transformações positivas na universidade.

C. P.: Ou seja, ela se transfere do acesso para a questão da permanência, seria isso?

I. M.: Exatamente isso! A gente vive dois problemas que precisam ser tratados de forma comum, mas que são problemas distintos. Um é o problema do acesso. Grande parcela da nossa juventude não tem nem a perspectiva de entrar na universidade, porém, com medidas como, REUNI, PROUNI [Programa Universidades para Todos], a gente tem dado passos no sentido de resolver esse problema. Eu acho que a gente não deu nem 10% dos nossos passos ainda pra resolver o problema na raiz e solucionar de vez. Agora, de fato, o problema do acesso tem tido avanços, e aí o problema da permanência se torna cada vez mais evidente. Porque o acesso é uma coisa e a permanência é outra. Quando o estudante entra e tem dificuldade pra se manter na universidade, porque são custos muito altos, com xerox, livros, alimentação, transporte, enfim, essas questões vêm à tona e o movimento estudantil se mobiliza pra garantir essas transformações necessárias para que o estudante de baixa renda possa não só ingressar na universidade como se formar e aí sim, alterar a pirâmide social de nosso país.

C. P.: E vocês têm alcançado vitórias?

I. M.: A gente crê e está muito na expectativa de vitórias importantes no dia de hoje. Na primeira quinta-feira, aqui na UFRJ, a gente teve uma grande vitória que foi o agendamento do CONSUNI [Conselho Universitário], órgão superior de deliberação da universidade ao qual, inclusive, o reitor da universidade tem que se submeter. A gente conseguiu esse agendamento para quinta passada um CONSUNI extraordinário que debatesse única e exclusivamente a pauta da assistência estudantil. Na semana passada infelizmente o CONSUNI não terminou e a gente retornou essa semana, agora com maior organização, maior combatividade e mais unificação pra garantir que esse CONSUNI tenha começo, meio e fim e a tendência é que a gente consiga provar que um pacote de medida garanta avanços, no que tange a assistência estudantil para os estudantes da UFRJ.

C. P.: Igor, qual a sua instituição?

I. M.: Eu faço História na Universidade Gama Filho, e estou aqui solidarizando com a luta dos estudantes da UFRJ, até porque eu fui eleito também com o voto deles pra representá-los.

C. P.: E essa perspectiva pra você que é da universidade particular, como você lança esse olhar pra essa questão da reivindicação dos estudantes?

I. M.: Eu primeiro vejo que é uma reivindicação extremamente justa e importante que inclusive a gente vive também nas universidades particulares.  Pelo fato de ter um ambiente mais antidemocrático, mais repressor, a luta não se dá da mesma forma, mas na universidade particular a gente tem um exemplo clássico que é o PROUNI. Estudantes de baixa renda entram na universidade, mas também têm diversas dificuldades pra se manter. Também têm os mesmo gastos com transporte, xerox, alimentação, livros e, também, com a mensalidade quando ele não é bolsista integral. Portanto, a gente compreende também e é uma luta do movimento estudantil que se crie uma bolsa permanência pra o estudante do PROUNI, para que ele tenha condição não só de ingressar na universidade, mas também de se formar. Inclusive a gente vê que é a realidade de muitos estudantes da faculdade particular, um pouco em contradição com a realidade da maioria dos estudantes da universidade pública, é que os estudantes da particular precisam trabalhar; eles não se dedicam de forma exclusiva pra conseguir sustentar seus estudos, e a gente compreende que o poder público precisa assumir mais essa responsabilidade para si, porque é investir mais em seres humanos, investir na nossa juventude, é investir no Brasil. É um investimento fundamental que precisa ser feito. Até porque a universidade pública e particular precisam se relacionar com projeto de soberania nacional, de desenvolvimento nacional e a gente compreende que ela não pode estar isolada da sociedade; ela precisa se relacionar com a sociedade. E o Brasil também vive um momento de otimismo. A gente cresceu mais de 7% do nosso PIB no ano passado; a gente vai sediar as Olimpíadas e a Copa do Mundo; a gente descobriu imensas jazidas de petróleo em baixo da camada pré-sal e todo esse momento de otimismo que o Brasil vive, se não for acompanhado de um grande desenvolvimento e muito investimento em educação… Inclusive é uma reivindicação que a gente faz agora, que está tramitando no Congresso Nacional, o Plano Nacional de Educação, no qual a gente, através da UNE [União Nacional dos Estudantes] apresentou sessenta e duas emendas, entre elas garantir 10% do PIB na educação; porque a gente precisa de muito mais investimento na educação para impedir que o Brasil viva um apagão de mão de obra qualificada num futuro próximo; devido a esse momento de otimismo e crescimento econômico que o nosso país vive, não só na visão da mão de obra, mas também na visão de formar cidadãos críticos, capazes de dirigir o nosso país num futuro próximo.

 

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