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Histórias em Quadrinhos

A representação é a forma que os bibliotecários têm de projetar a informação que está no meio real e que seja passível de recuperação quando necessário. Todo mecanismo que vincula a informação deve ser passível de representação. As histórias em quadrinhos, também chamadas de HQs, são um veículo de disseminação de informações e exercem muita influência no meio social e cultural, pois é uma forma de entretenimento.

As Histórias em quadrinhos dispõem de várias definições, dependendo de cada região do mundo em que se estabelecem. A partir de estudiosos sobre o assunto, tem-se a percepção que todos admitem e concordam com o significado de História em quadrinhos ser composta basicamente por pictografia e narrativa. As incongruências entre eles estão calcadas em como ocorre a interação entre esses dois principais aspectos.

Segundo Robson Costa, as narrativas que estão nos quadrinhos são acompanhadas por uma sequência espacial, que é permeada pelo próprio leitor, pois depende de quem está lendo a narrativa para transmitir movimento e ação para a história e a sequência das imagens. Esta forma de perceber o quadrinho é a arte sequencial.

Definição

As HQs são formas narrativas que se desenrolam em uma sequência de quadros pictográficos. Essa sequência, no princípio, seguia um padrão linear, da esquerda para a direita, mas atualmente já se apresenta em esquemas organizacionais diferentes, cuja ordem é orientada por recursos gráficos, como o tamanho e forma dos quadros, por exemplo.

Os quadros pictográficos compõem a principal característica das HQs e, sem eles, não se constitui o gênero textual histórias em quadrinhos. Este lança mão de códigos linguísticos (as palavras, o escrito) e pictóricos (as imagens, o visual) para construir a narrativa, sobressaindo ao leitor a imagem, de modo que é possível haver narrativas quadrinísticas sem texto.

Os quadrinhos desenvolveram ao longo do tempo elementos que atualmente lhe são característicos como balões e as onomatopéias (transcrição de sons) que auxiliam na transmissão da mensagem e na expressão da narrativa. Possuem inúmeros títulos e temas e abarcam leitores de todos os gêneros e idades.

Breve histórico

Apesar de ser possível falar de vários começos, as histórias em quadrinhos se consolidaram enquanto produto da indústria cultural de massa no fim do século XIX, em especial na imprensa norte-americana, onde floresceram.

Tendo sido inicialmente publicadas em jornais, foi observado que sua presença contribuía para o aumento das vendas: os jornais que traziam HQs vendiam mais exemplares do que aqueles que não as traziam. Descoberto e comprovado seu potencial comercial, a partir da década de 30, passaram a constituir revistas independentes, o que “possibilitou a ampliação do meio para praticamente todos os países do mundo”, segundo Waldomiro Vergueiro em seu artigo de 2005, “Histórias em quadrinhos e serviços de informação: um relacionamento em fase de definição”.

Por aliarem recursos visuais e escritos são bastante atraentes para o público em geral, o que as tornou um meio de comunicação de massa de grande alcance.

Entretanto, as HQs foram marginalizadas, estereotipadas e vistas com preconceito e desconfiança pela sociedade por muitas décadas, o que pode parecer estranho para as gerações que cresceram lendo as histórias de super-heróis e aprenderam a ler com a Turma da Mônica.

Consideradas materiais de segunda ou terceira categorias, elas enfrentaram forte rejeição por parte das camadas mais abastadas, que as tinham como prejudiciais no desenvolvimento intelectual de suas crianças. Apesar de seu sucesso de público, enfrentaram forte oposição, chegando até a haver queima de exemplares em praças e escolas.

Estudiosos atribuem essa rejeição à sua proximidade com outros gêneros do discurso polêmicos, como a caricatura e a charge e também ao fato de serem herdeiras diretas dos romances de folhetim dos séculos XVIII e XIX.

Apesar da resistência, os quadrinhos conquistaram seu espaço e milhões de leitores, dentre eles um “público fiel, sempre ansioso por novidades”, de acordo com Vergueiro. Milhões de revistas de histórias em quadrinhos são publicadas diariamente a nível mundial com tiragens que chegam a ultrapassar 100 mil exemplares por edição. Subliteratura no passado, elas hoje vêm ganhando status de arte e movimentam um mercado de milhões de dólares.

No Brasil, as HQs seguiram um pouco a trajetória dos comics, aparecendo num primeiro momento em jornais para depois conquistar sua independência em revistas. A “O Tico Tico”, de 1905, foi considerada a primeira revista de Histórias em quadrinhos brasileira. Os quadrinhos brasileiros sofreram, e ainda sofrem, grande influência estrangeira, entretanto contam com o trabalho de artistas de grande qualidade que conquistaram, inclusive, fama internacional.

As revistas de HQs brasileiras também são conhecidas como gibis, nome que vem da revista “O Gibi”, lançada em 1939. No passado, havia grande resistência por parte dos editores em publicar revistas de HQs com temas e personagens brasileiros. A primeira a superar esse obstáculo foi “O Pererê”, de Ziraldo, publicada em 1960, cujo personagem principal era um saci.

Os personagens da famosa “Turma da Mônica”, de Maurício de Sousa, apareceram pela primeira vez em tiras de jornal, em 1959. Só constituíram uma revista, em 1970, que hoje predomina no mercado brasileiro em termos de grandes tiragens. Neste ano a XVII Bienal Internacional do Livro no Rio de Janeiro trouxe Maurício de Sousa, criador da turma da Mônica, como um dos homenageados no evento.

Representação e quadrinhos

Segundo o Dicionário Básico de Filosofia de Hilton Japiassú e Danilo Marcondes, representar “é a operação pela qual a mente tem presente em si mesma uma imagem mental, uma ideia ou um conceito correspondendo a um objeto externo”, o que significa que o ato de representar é externo ao que se representa. “A função de representação é exatamente a de tornar presente à consciência a realidade externa, tornando-a um objeto da consciência, e estabelecendo assim a relação entre a consciência e o real”.

A relação que se estabelece entre objeto e consciência não pode ser vista simplesmente como uma relação de causa e consequência: aquilo que se representa não constitui o duplo do representado e um não substitui o outro.

Não se pode tomar aquilo que é representado como o próprio, entretanto, deve-se garantir que aquilo que se representa corresponde fielmente àquilo que se propõe representar.

Pode-se dizer que a relação oficial que se estabelece entre quadrinhos e representação inicia-se com a entrada das HQs nas bibliotecas – embora ainda poucas, processo que levou décadas, devido aos preconceitos sofridos pelo gênero já acima mencionados – e com o advento da criação e atuação das chamadas gibitecas.

Como somos incapazes de representar aquilo sobre o que não temos quadro de referência, é importante, antes de representar uma HQs, buscar conhecer as características deste gênero e não apenas isso, devemos também buscar conhecer o leitor de quadrinhos, pois a representação ideal também deve essencialmente fazer sentido para quem é direcionada.

A partir dos conceitos apresentados, pudemos perceber que as histórias em quadrinhos possuem sua origem desde o início da história do homem, exercendo atuação como meio de comunicação de massa nos finais do século XIX com ajuda da imprensa sensacionalista.

A representação do real ou imaginário por meio das histórias em quadrinhos utiliza a integração de texto e imagem, o que facilita a leitura e compreensão de suas tramas, contribuindo para o processo de formação de novos leitores e despertando um senso crítico diante dos temas abordados.

As histórias em quadrinhos constituem material de informação e representação da realidade por meio de temas cotidianos e situações semelhantes à vida das pessoas. A junção de texto e imagem, aliados aos recursos visuais e textuais, auxiliam sua compreensão, bem como o despertar de um entendimento subjetivo e, ao mesmo tempo, diversificado de interpretações de suas histórias.

Ainda há um caminho longo a ser percorrido pelas HQs para que se consolidem no mercado editorial e recebam um tratamento mais adequado, livre de preconceitos, tendo em vista sua indiscutível contribuição como linguagem informacional.

Sendo assim, as histórias em quadrinhos transmitem informação de maneira clara e direta, com suas características próprias, exercendo importante papel como ferramenta de incentivo à leitura por utilizar imagens em sua constituição e atuar na propagação de conteúdo político-social de um povo em determinada época.

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