Tendo sido fundado em 14 de maio de 1837, por cerca de 40 portugueses, entre médicos, advogados e empresários, o Real Gabinete Português de Leitura completou 180 anos de existência neste ano de 2017, sendo a instituição o primeiro núcleo associativo da colônia portuguesa no Brasil.
No prédio imponente do Real Gabinete foram realizadas as primeiras sessões da Academia Brasileira de Letras, sob a presidência de Machado de Assis. Após sua fundação, foram criados outros gabinetes como o de Recife (1850) e o de Salvador (1863). A instituição dispõe da maior biblioteca de autores portugueses fora de Portugal e vive do pagamento mensal de seus sócios.
O edifício do Real Gabinete é um projeto com características neomanuelinas, elaborado pelo arquiteto português Raphael da Silva e Castro. A construção foi iniciada em 10 de junho de 1880 quando Dom Pedro II lançou a pedra fundamental, sendo que a sua inauguração aconteceu em 10 de setembro de 1887, com a presença da Princesa Isabel e do Conde d’Eu.
Durante a solenidade de inauguração do prédio, o escritor Ramalho Ortigão discursou: “Se um dia o nome de Portugal houver de desaparecer da carta política da Europa, esta Casa será ainda como a expressão monumental do cumprimento da profecia: […] não se acabe a Língua, nem o nome português na terra.”
Uma bela descrição do edifício do gabinete foi feita no livro da Edição Comemorativa do 140º aniversário de sua fundação em 1997: “vasto salão da biblioteca – são 400m² de área – ‘cujo aspecto, pela sua importância e pelas suas proporções, deslumbra os que nele entram pela 1ª vez.’ Continuemos porém, a servir-nos do ‘Resumo Histórico’: ‘Mede o soberbo recinto 20mX20m e tem, de altura, 23,50m na vertical tirada do pavimento ladrilhado a mosaico à clarabóia de vitrais coloridos que ilumina e cobre toda a sala. Ao centro do salão e desta mesma clarabóia pende o artístico e monumental lustre de ferro e bronze que ilumina todo o recinto nas noites de grande solenidade. A cinco metros do pavimento ladrilhado e em torno de toda a sala, assente sobre sólidas colunas de ferro, corre ampla varanda guarnecida de artística grade e a que dão acesso duas escadas internas, também em ferro.’ (Actualmente há uma destas escadas; a outra deu lugar a um elevador)”.
O acervo bibliográfico do Real Gabinete Português de Leitura é muito valioso para a cultura portuguesa e está disponível para o público. A biblioteca do Gabinete guarda, aproximadamente, 350 mil volumes entre obras raras, manuscritos, cartas e primeiras edições. Esta recebeu de Portugal, pelo estatuto do “depósito legal”, um exemplar das obras publicadas no país, sendo a única instituição, fora do território português, que mantém este privilégio. Ela também recebe jornais regionais de Portugal.
Para montar esse grandioso acervo, a biblioteca recebeu doações que merecem destaque: da biblioteca de Manuel de Melo, da biblioteca de António Alves Ferreira, da biblioteca de Carlos de Magalhães, da biblioteca de Paulo Barreto, da biblioteca do escritor Carlos Malheiro, entre outros. Recebeu uma valiosa coleção de livros brasileiros do Conselho Federal de Cultura constituída de 500 volumes, que possui grande utilidade e valor didático para a biblioteca.
Logo nos primeiros anos da sua fundação, a biblioteca passou a adquirir milhares de obras, algumas raras, dos séculos XVI e XVII, entre os quais se destacam obras raras como a edição princeps de Os Lusíadas (1572), que pertenceu à Companhia de Jesus; as Ordenações de dom Manuel (1521), por Jacob Cromberger; os Capitolos de Cortes e Leys que sobre alguns delles fizeram (1539) e outras. Entre os manuscritos possui Amor de Perdição (Camilo Castelo Branco) e o Dicionário da Língua Tupy (Gonçalves Dias).
Como a biblioteca é pública, esta recebe diariamente usuários variados, que vão desde alunos do Ensino Fundamental II até pesquisadores. A consulta é realizada no salão da biblioteca, com o auxílio das bibliotecárias através do Catálogo. Algumas obras raras ou manuscritos podem ser consultados por investigadores e especialistas com autorização especial.
No local funciona também um museu. O Real Gabinete guarda uma importante coleção artística (numismática e pinturas) de Malhoa, Carlos Reis, Oswaldo Teixeira, Eduardo Malta e Henrique Medina. Também merece registro o Relicário da Saudade, em homenagem a Sacadura Cabral e que contém pergaminho com assinaturas do Papa Pio X; do Rei de Portugal, Dom Manuel II; do Rei da Espanha, Afonso XIII; o Altar da Pátria; e uma placa oval de prata e marfim, de homenagem a Camões.
Além da biblioteca e do museu, funciona também no prédio o Centro de Estudos do Real Gabinete Português de Leitura. Entre suas atividades estão a edição da revista Convergência Lusíada, a promoção de cursos (Literatura, Língua, História, Antropologia e Artes) e de conferências, palestras, congressos etc., e também o intercâmbio e a colaboração com universidades e institutos culturais e artísticos, do país e do exterior. Funciona ainda o Pólo de Pesquisa de Relações Luso-Brasileiras.
O magnífico Real Gabinete Português de Leitura localiza-se na Rua Luís de Camões, 30, no Centro da cidade do Rio de Janeiro. Está aberto de segunda a sexta das 9 às 18h. Quem ainda não teve a oportunidade de conhecer, vale a pena, pois é encantador. A Revista Time em 2014 publicou as 20 bibliotecas mais bonitas do mundo e o Real Gabinete Português de Leitura ficou no 4º lugar.
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