Inspiradas no modelo de sucesso na Colômbia, as bibliotecas parque (unidades Manguinhos, Rocinha, Centro e Niterói) tornaram-se rapidamente instrumentos de uso social intenso. Desde que foi inaugurada a primeira unidade, em abril de 2010, o projeto passou por um momento de ascensão, logo interrompido pela má gestão e pelo descaso dos seguidos governos do PMDB: Sérgio Cabral, que governou por quase oito anos, e Luiz Fernando Pezão, que já está há mais de dois anos à frente da administração estadual. Some-se a isso a profunda crise econômica que assola o país nos últimos anos e temos um estado de precariedade absoluta no qual os instrumentos culturais e educacionais são os primeiros a ser sacrificados. Ao custo inicial de R$ 25 milhões ao ano, a rede de bibliotecas parque hoje está garantida pelas prefeituras do Rio e de Niterói com valores bem abaixo destes. O infográfico que preparamos mostra a evolução e declínio pelo qual este importante projeto passou e vem passando. Como será possível perceber ao final, a decadência das bibliotecas parque parece não se dar em função do instrumento em si, mas ao descaso político para com estes. Confira:
2010
- Inaugurada em abril de 2010, a Biblioteca Parque de Manguinhos (BPM) foi a primeira de uma rede implementada pela Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro. Tendo como principais referências as bem-sucedidas experiências praticadas em Medellín e Bogotá, na Colômbia, tornou-se um espaço cultural e de convivência, oferecendo à população ampla acessibilidade, com qualidade física, humana e de serviços. Com 2,3 mil metros quadrados, a BPM passou a atender com eficiência as necessidades comunitárias e tornou-se um modelo a ser seguido.
2011
Julho
- Depois de dois anos em obras, a Biblioteca Pública de Niterói (BPN) foi reaberta com o nome de Biblioteca Parque de Niterói. A restauração e a modernização do acervo custaram R$ 7 milhões aos cofres públicos e o investimento foi feito pelo governo do estado do Rio de Janeiro em parceria com o Ministério da Cultura. Ocupando uma área de 1.812 metros quadrados, sendo 926m² no térreo e 886m² no 2º andar, a BPN se tornou um importante espaço cultural da cidade, tendo um forte vínculo com a comunidade.
2012
Junho
- A Biblioteca-Parque da Rocinha (BPR) foi inaugurada para atender as necessidades culturais da maior favela da América Latina. Com 1,6 mil metros quadrados, a BPR possui cinco pisos, DVDteca, cineteatro, sala multiuso para cursos, estúdios de gravação e edição audiovisual, setor de leitura e internet comunitária, cozinha-escola e café literário.
2013
Junho
- Inaugurada a Biblioteca Parque do Alemão. Localizada na Estação das Palmeiras, a última estação do teleférico Alemão, ela foi criada para incentivar a cultura em uma região que costuma ser destaque nos noticiários apenas pela violência.
2014
Março
- Após cinco anos fechada para reforma, a Biblioteca Parque do Estado, BPE (antes chamada de Biblioteca Pública Estadual) reabriu as portas. “A BPE foi projetada para receber 5000 pessoas por dia, assim como as grandes bibliotecas do mundo, como a Bibliothèque public d’information, de Paris, com a qual inclusive temos um convênio. Ela atenderá um público estimado em 1.5 milhão por ano”, disse a então secretária de estado de Cultura, Adriana Rattes. A Revista Biblioo esteve presente na reinauguração da Biblioteca, ocasião na qual entrevistou funcionários da área do livro e da leitura e personalidades que acompanharam a cerimônia de inauguração. Localizada na Avenida Presidente Vargas, número 1261, no Centro do Rio, a BPE tem 15 mil metros quadradosdivididos por amplos ambientes que incluem salão de leitura, salas de estudo, auditório e até teatros.
Setembro
- Antes de se efetivar plenamente, a Biblioteca Parque do Alemão cede parte de suas dependências a uma clínica da família. Conforme denunciou a época a Revista Biblioo, a construção da clínica foi mais para atender interesses de campanha do então candidato a governo do estado, Luiz Fernando Pezão, do que ao interesse da comunidade. “Na verdade, ainda não somos uma Biblioteca-Parque nos moldes de Manguinhos ou Rocinha. Somos uma ocupação cultural aqui no Alemão”, disse a assessora cultural e coordenadora da Biblioteca Alexandra Silva ao site Opinião&Notícia. A Biblioteca continua funcionando de forma precária, sem empréstimo domiciliar de livros, pois estes sequer foram catalogados. A única bibliotecária da unidade trabalha com mediação de leitura. Notícias dão conta de que por mais de uma vez o confronto entre traficantes e polícia atrapalhou as atividades.
2015
Abril
- O governo do Rio anuncia a redução dos dias e dos horários de atendimento das bibliotecas parque.
Maio
- O Movimento Abre Biblioteca Rio, criado com objetivo é pressionar o Governo do estado a rever os cortes na área cultural, especialmente nas bibliotecas parques, divulga seu manifesto. O documento destaca o contexto de sucateamento do setor cultural que, segundo o Movimento, não é exclusivo do estado do Rio.
- No dia 29 de maio, o Movimento Abre Biblioteca Rio realiza um ato em frente à BPE. Bibliotecários, professores, estudantes, usuários e até parlamentares compareceram ao protesto.
Junho
- A pressão feita pela sociedade civil organizada em torno do Movimento Abre Biblioteca Rio parece ter começado a surtir efeito. Após o ato em frente a BPE, a Secretaria de Estado de Cultura do Rio informou que todas as unidades da rede de bibliotecas parque passariam a receber o público das 11h às 18h30, de terça a sábado e não mais de 12h às 18h30, como vinha sendo feito.
Novembro
- Com a crise financeira se acirrando no final de 2015, o governou deixou de repassar ao Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), organização social responsável pela gestão das bibliotecas-parque, os valores previstos no contrato. Dos R$ 20 milhões que deveriam ter sido repassados até aquele momento, só R$ 11 milhões haviam sido destinados às bibliotecas. Além do prejuízo em relação ao acesso à cultura, o fechamento da BPE que se anunciava colocou em risco o emprego de cerca de 150 trabalhadores que chegaram a entrar em aviso prévio.
- No dia 28 de novembro de 2015 a Revista Biblioo foi até a Biblioteca Parque Estadual e a mesma estava fechada. Durante o período que nossa equipe permaneceu no local, diversas pessoas foram entregar livros e utilizar o espaço, mas não conseguiram.
- Após o anuncio do fechamento das bibliotecas parque, a prefeitura do Rio informou que garantiria a manutenção dos espaços até o final de 2016 ao custo de 1 milhão e meio de reais. O valor anunciado era menos de um terço do que o governo do estado do Rio repassava mensalmente ao Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), organização social responsável por gerenciar as bibliotecas. A Prefeitura do Rio passou a custear a manutenção das unidades da Rocinha, Manguinhos e do Centro da cidade. A de Niterói foi assumida pela administração local.
- O Movimento Abre Biblioteca Rio realiza mais um ato em frente à Biblioteca Parque Estadual, no Centro do Rio em protesto à crise que atinge não só as bibliotecas, mas todos os instrumentos culturais do estado.
2016
Setembro
- Contrariando o discurso reiterado do governo do estado do Rio sobre a crise, a então secretária de Cultura do Rio, Eva Doris Rosental, informou em entrevista a TV Biblioo que o executivo pretendia construir pelo menos outras dez bibliotecas parque no estado até o final da gestão do governo em 2018. Segundo ela, a ideia era implantar um total de dez novas unidades na Baixada e no interior do estado através de um programa de parceria público-privado nos mesmos moldes das outras quatro que já existem.
- A Biblioteca Parque Estadual atingiu a marca de mais de um milhão de visitantes desde a sua reinauguração. O fato parece comprovar o grau de adesão do público ao modelo de bibliotecas parque.
Novembro
- Incorporada à Secretária de Ciência, Tecnologia e Inovação, a pasta de Cultura passa a ocupar um lugar subalterno na estrutura administrativa do estado após o pacote de medidas anunciado no início deste mês pelo governador Luiz Fernando Pezão. Além de colocar a Cultura numa posição inferior, as medidas – chamadas pelos movimentos populares de pacote de maldades – promovem um cenário de incertezas em relação a vários instrumentos culturais. Faziam parte da estrutura da antiga Secretaria de Cultura do Estado do Rio a Superintendente da Leitura e do Conhecimento, além das quatro unidades de bibliotecas parque, que agora ficam com futuro incerto.
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