Era um dia desses em que a gente acorda e não quer acordar, no rádio as primeiras notícias matinais com os engarrafamentos de todo dia e em seguida, aquela canção que me faz parar no engarrafamento do meu coração. Que me fez lembrar-se dela.
No entanto, ela já se foi. E há muito, deixou para trás seus passos ausentes do meu lado e suas queixas de cada dia. Nossas idas no cais a olhar no fundo a ponte. Eram tardes lindas daquele tempo de outrora. Suas disciplinas e suas carícias e também o seu intenso olhar que eu nunca esquecera e que ainda encontro em qualquer lugar por onde passo, também ficou.
O seu beijo deixou saudade e o seu perfume, se impregnou na minha pele. Que coisa!
Mas já faz tanto tempo! Penso. Entretanto, sigo acreditando que um dia irei vê-la, pois a vida também engarrafa de vez em quando e você acaba por encontrar aquela pessoa que um dia passou na sua vida.
Comigo, não foi diferente. Não podia ser. Depois de encontrá-la nas redes sociais e vários convites negados do tipo: me adicione! Por favor, me adicione! Desesperadamente, me adicione! E por ai vai… Finalmente, depois de desistir, eis que ela me adicionou.
Nos falamos e foi seco, inerte. Também, depois de sete anos, o que esperar? Não podia muita coisa.
Mas as coisas foram ganhando força e os sentimentos foram se aflorando. Havia coisas indefinidas ali. Reviramos o passado e decidimos: vamos nos ver!
Eu embarquei, fui ao seu encontro. Era uma manhã primaveril. Uma manhã linda e primaveril. Eu estava na rodoviária e esperava ansioso por um rosto que não via já fazia sete anos. Sete longos anos. O coração era bateria de escola de samba e as mãos suavam frias. Eu estava inquieto e olhava para todos os desembarques, eu estava apreensivo. Queria vê-la. Ter a certeza que viria. E por fim, ela desembarcou e de cara me olhou e foi como se o mundo parasse ali. Ela estava linda. Eu, perdido. Gaguejava. Seu olhar era cativante e era profundo e sua pele exalava o perfume mais suave e doce que nenhuma flor conseguiu exalar e se invejou.
Conversamos sobre tudo, sobre nós, relembramos os dias chuvosos do cais e houve um silêncio. Olhamo-nos como nunca antes e nos beijamos. Perdemos o chão e a razão por instantes que pareciam eternos e que parecia ter voltado no tempo e foi mágico, lindo, sublime.
Os cartões postais que eu havia lhe mandado ainda estavam lá, mas o tempo e a cidade já não eram iguais. Ela queria ficar, mas tinha de ir, pois era tarde demais. Já não podia mais voltar por que era único aquele momento. Eu tentei entender, tantas coisas, tentei entender naquele momento e foi no último beijo que ela se despediu; que ela disse adeus.
Ela embarcou e eu nunca esqueci aquele rosto, lindo rosto de outrora. Rosto admirado pelo qual me apaixonei. Pelo qual me encantei. Mas pensei: o engarrafamento começou a seguir na vida. E as buzinas, inúmeras buzinas, diminuíam. Os sentimentos seguiam. E ao longo da avenida, a paisagem ia ficando pra trás…
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