Segundo a história oral, há um provérbio árabe que diz: “Confia em Deus, mas amarra o teu camelo”. Baseado em seu período de gestão municipal, o senhor Marcelo Crivella, bispo licenciado da Igreja Universal, atual prefeito da cidade do Rio de Janeiro, parece desconhecer completamente o teor e a carga de ensinamento desse ditado popular ancestral.
Desde que se elegeu (2016) e assumiu o cargo (janeiro de 2017), Crivella tem conquistado poderoso índice de rejeição. Sinceramente, ainda acho pouco. A cidade vive submersa no abandono e no descaso com saúde, educação e engrenagem de políticas urbanas, só para citar alguns exemplos que figuram abaixo da precariedade. Tal cenário de devastação é acentuado a cada nova tragédia ou situação de risco.
O caso mais recente envolve o temporal que desabou no início da noite desta segunda-feira, 08 de abril, na cidade do Rio de Janeiro. Dez pessoas perderam suas vidas em consequência da tempestade, milhares ficaram ilhadas, vários pontos da cidade foram destruídos e dezenas de cidadãos tiveram suas casas invadidas pela água.
Na noite de ontem, vi o rio Maracanã, que corta os principais pontos da Tijuca, na Zona Norte do Rio, transbordar. Vi suas águas invadindo ruas e calçadas. Presenciei carros voltando na contramão, quase batendo uns nos outros e em pedestres igualmente desesperados; vi trabalhadores perdendo suas motos e bicicletas, crianças mergulhadas debaixo de chuva e sem entender o que estava acontecendo; observei lixos, plásticos e resíduos orgânicos espalhados por todos os lugares. Mas há pessoas que nunca mais verão seus entes queridos e há também os que perderam o pouco que possuíam.
Onde está o prefeito-bispo Marcelo Crivella quando a cidade que o elegeu a um cargo público precisa dele? Aparentemente, justificando sua inércia e criando novas desculpas, culpando a “força da natureza”, a “falta de oportunidade para realizar algo efetivo”, “a agenda apertada”, “os recursos escassos” e a parábola do filho pródigo revestida da constatação óbvia: “nós falhamos”.
O Rio e seus moradores não precisam de explicações desidratadas e notinhas mal escritas por assessorias de imprensa. A cidade, tão bela e pulsante, dona de um passado histórico de importância inquestionável, está agonizando. A comunidade está submersa. Submersa em caos, desemprego, violência, descontrole, apatia, tragédias…
Renegada pelo servidor público que ocupa o mais alto posto do executivo municipal – e que deveria, por dever, compromisso, respeito, responsabilidade, honra e amor (uma palavra que o bispo-prefeito parece gritar apenas para o espelho e para o seu círculo familiar) -, a capital fluminense atravessa uma das piores gestões das últimas décadas.
Quantos mais precisarão pagar pela incapacidade de um homem que não dá o seu melhor e não faz valer o cargo que ocupa?
Amarrar o camelo, senhor prefeito, é noção básica, primária, quase infantil. E já passou da hora da população carioca ter um gestor à altura de sua confiança. As eleições de 2020 darão uma nova oportunidade para a verdadeira renovação. Que possamos recuperar a capacidade de fazer diferente e de pensar no coletivo.
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