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Com a palavra, eleições municipais

Outubro de 2016, o Brasil se depara com anúncios de reformas por parte do governo (sem votos) federal (reformas essas nem tão bem vindas pela maioria da população), novas incursões da Polícia Federal no âmbito da Operação Lava-Jato e os murmurinhos que pairam no espectro eleitoral brasileiro, pois outubro de 2016 é o mês de eleições municipais, em que foram disputados centenas de milhares de cargos legislativos (vereadores/as) e executivos (prefeitos/as).

Desde o início do corrente ano as informações de bastidores no tocante às eleições corriam soltas, não apenas nos municípios, mas também no Congresso Nacional. Isso se deve pela grande disputa por cargos no âmbito municipal, de congressistas que atuam no legislativo federal. Quando os deputados/as e os senadores/as não estavam participando diretamente da disputa eleitoral, atuavam como uma espécie de padrinhos/madrinhas político de candidatos/as da sua afeição.

Isso posto volto o meu olhar de análise para a questão do município do Rio de Janeiro. Para a minha surpresa, apresentaram-se 10 candidatos para o cargo de prefeito/a do Rio de Janeiro. Isso mesmo: dez candidatos/as! Nas minhas contas preliminares, o número não chegava a seis candidatos/as, mas acabei me surpreendendo com a quantidade de pessoas que gostariam de assumir a prefeitura da cidade maravilhosa. Os/as candidatos/as são os seguintes: Carmen Migueles (Partido Novo), Jandira Feghali (PC do B), Carlos Osório (PSDB), Cyro Garcia (PSTU), Flávio Bolsonáro (PSC), Alessandro Molon (Rede), Pedro Paulo (PMDB), Índio da Costa (PSD), Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL).

Depois de relatar os nomes de todos os candidatos/as que se inscreveram na Justiça Eleitoral como aptos a concorrer às eleições para a prefeitura do Rio de Janeiro, e da sopa de letrinhas que são dez partidos diferentes, proponho-me a analisar a estratégia da esquerda carioca, e os riscos que essa correu em lançar quatro candidaturas individuais, em detrimento de alianças.

Eu poderia analisar o que corresponde a cada candidatura dos 10 expoentes à prefeitura do Rio, mas este texto tornar-se-ia longo, e por que não enfadonho (?). Vou me debruçar, assim, tão somente em analisar (baseado nas minhas convicções, até por que esta coluna é de opinião), sobre a estratégia que a esquerda carioca abriu mão nesta eleição.

Fora o Cyro Garcia (que com todo respeito, não oferece medo aos demais adversários), Jandira Feghali, Alessandor Molon, e Marcelo Freixo representam uma significativa votação em qualquer pleito. Ora, qualquer pessoa que esteja interada no universo político/partidário do Brasil, sabe que esses três nomes representam uma força considerável de forma individual, quanto mais juntos!  Aí está a questão que me motivou a escrever este texto.

Entendo as implicações programáticas de cada candidato (me refiro aos três supracitados), suas inclinações políticas e posição que ocupam no jogo do poder eleitoral (não me vestirei da capa da inocência, fingindo não saber que cada um representa uma posição dentro da esquerda). O que para mim se mostrou perigoso foi a não unidade da esquerda carioca, frente a uma onda conservadora crescente no país, e que por aqui (Rio de Janeiro), se personifica por exemplo em Flávio Bolsonáro e Marcelo Crivella.

Ao se lançar na corrida eleitoral com três fortes nomes seguindo cada qual o seu curso, a esquerda carioca tomou para si a responsabilidade de fazer uma campanha clara, sem parecer velha, com a juventude (majoritariamente) ganhando às ruas, tendo que desmistificar a associação que estão fazendo com a corrupção (coloca-se a culpa de a esquerda está assim no PT), além de ter tido uma árdua tarefa: vencer o candidato da situação (Pedro Paulo – PMDB), e impedir que o conservadorismo radical ganhasse a corrida já no primeiro turno.

Hercúlea campanha que a esquerda do Rio teve pela frente, mas por opção! Ao não firmar uma aliança com os três nomes mais expoentes desta corrida à prefeitura, a esquerda decide corrir o risco de perder esta batalha, mas lanças três fortes nomes para concorrer ao cargo máximo da municipalidade carioca.

Bom, não é novidade para ninguém que o candidato Marcelo Freixo (PSOL) foi alçado ao segundo turno das eleições para disputar com outro Marcelo, o Crivella (PRB). Na véspera do primeiro turno, uma pesquisa de opinião anunciou que Crivella era o líder das intenções de voto com cerce de 35% das preferências, seguido por Marcelo Freixo com cerca de 18%, e Pedro Paulo com 15% (aproximadamente). Muitos eleitores da Jandira e do Molon, em uma estratégia de garantir que a esquerda estivesse no segundo turno, votaram no Freixo; repito, isso foi por uma estratégia! Com isso, Freixo foi para o segundo turno com o Crivella, e disputa com o Bispo licenciado da Universal a cadeira de prefeito do Rio.

Muitos dizem que a estratégia da esquerda deu certo, eu já sou um pouco mais comedido nesta afirmação. Acho que a mobilização para levar o Freixo ao segundo turno sim, deu certo, mas ter três candidaturas com nomes de peso ao invés de se chegar  a um consenso e ter uma “pesadíssima” candidatura, acho que mostrou mais uma vez o quanto a esquerda no Brasil é fragmentada e pouco unida. Acredito ser muito válido que a esquerda seja fragmentada, pois opiniões divergem sempre, e ter uma única forma de pensar, para mim, é uma fórmula fadada ao engessamento, e posteriormente ao fracasso! Mas, por favor, esquerda do Brasil, sem tanto susto assim.

Vivemos em um ambiente político “anti-petista”, e isso ficou muito claro com os resultados do primeiro turno das eleições. O Partido dos Trabalhadores saiu destroçado deste pleito; há quem diga que o PT vai precisar de mais 30 anos para se erguer novamente. Acho que o PT está colhendo exatamente o que plantou, mas o que é grave é que o PT leva consigo toda a esquerda deste país. Os partidos de esquerda que não fazem alianças com o PT são acusados de quererem ser outros PTs, que com o passar dos tempos, mostrará a sua face corrupta.

O cenário não é dos melhores para esquerda, mas temos esperança de que bons ventos possam soprar a partir de 2017. Das capitais brasileiras que terão segundo turno, o Rio de Janeiro tem a presença de Marcelo Freixo (PSOL), contra Marcelo Crivella (PRB); nas demais, o cenário é o seguinte: Fortaleza PDT x PR; São Luís PDT x PMN; Recife PSB x PT; Aracajú PC do B x PSB; Belém PSOL x PSDB, Macapá REDE x PMDB (as demais capitais que terão segundo turno, a disputa será entre a direita e o centro).

Quem viver verá o avanço do conservadorismo no Brasil, ou uma pequena, mas resistente presença da esquerda em capitais de estado; é esperar para ver o que acontece!

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