A cidade do Rio de Janeiro recebeu entre os dias 29 de agosto a 08 de setembro a 16ª edição da Bienal do Livro. As atrações e a programação cultural variaram tentando atender tanto crianças, bem como jovens e adultos. Uma oportunidade para ver de perto autores e grandes nomes do cenário literário a nível nacional e internacional. Mesmo localizada em uma região destacada da cidade, a feira literária recebe uma grande quantidade de pessoas e de alunos das redes pública e particular de ensino, além de profissionais envolvidos com a leitura, dentre eles bibliotecários e professores.
Bem diferente das vantagens divulgadas pelas editoras em relação aos preços dos livros, não parece existir diferença entre os valores encontrados nos stands da Bienal e nas grandes livrarias espalhadas pela cidade. Parece ilusório acreditar que a Bienal do Livro é uma boa oportunidade de encontrar livros com um preço mais em conta.
Entre os corredores da Bienal é possível assistir a eventos e exposições culturais relacionadas com a leitura e até mesmo conseguir uma foto e uma dedicatória do seu autor preferido. No meio da aglomeração de pessoas que se formam em volta dos stands e dos locais de debates é comum ver professores tentando organizar grupos de alunos para acompanhar os eventos e com o cuidado para nenhum estudante se desgarrar. Da mesma forma são os pais que acompanham seus filhos em diversas atrações nos diferentes pavilhões.
E os bibliotecários?
Mesmo sendo um evento literário e relacionado com a leitura, a figura do bibliotecário ainda é tímida nesses espaços no que diz respeito à participação na programação oficial de uma forma em geral. Como seria interessante assistir um bibliotecário participando de uma mesa de discussão em um dos espaços mais disputados da programação, o Café Literário. A participação do bibliotecário, em alguns casos, acontece em eventos simultâneos à programação oficial da feira literária. Uma das poucas vantagens para os profissionais da leitura se resume a ter acesso a uma credencial, pendurada no pescoço, que lhe garante entrada gratuita no evento.
Na edição passada da Bienal havia um stand da Fundação Biblioteca Nacional, que de certa forma, contribuiu para trazer discussões em relação às bibliotecas através de debates com a participação de bibliotecários. Inclusive a Revista Biblioo foi convidada a participar de uma mesa de debates intitulada: Os movimentos sociais e a nova Biblioteconomia. Na edição atual não tem sequer um espaço dedicado a alguma biblioteca pública.
Evidentemente que se trata de um evento tipicamente mercadológico que está mais preocupado com o lucro dos conglomerados editorias do que com o acesso à leitura. No caminho contrário a essa lógica devem se apoiar os bibliotecários, já que o acesso à cultura, a leitura e as bibliotecas públicas são alguns dos objetos principais da profissão. Partindo desse lema, seria interessante que tanto os professores, como os bibliotecários também incentivassem os alunos a irem as Bibliotecas Públicas com a mesma energia que vão a Bienal do Livro. Afinal de contas, as Bibliotecas Públicas estão disponíveis de forma integral e não apenas de dois em dois anos; não se cobra para entrar e os livros podem ser levados para casa por um período sem nenhum custo.
Por outro lado, também se faz necessário que o Ministério da Cultura, a Secretaria de Educação da cidade maravilhosa e até mesmo as grandes editoras disponibilizem verbas, investimentos e energia em ações voltadas para incentivar a leitura nas Bibliotecas Públicas. Como seria interessante ver a prefeitura e o governo do Rio de Janeiro disponibilizando ônibus para as escolas levarem seus alunos as Bibliotecas Públicas da cidade. Dá para imaginar a cena com a biblioteca lotada de crianças, contrariando a lógica do silêncio, mas descobrindo o mundo da leitura e dos livros sem precisar enfrentar filas gigantescas e muito menos pagar para ter acesso à leitura.
No Rio de Janeiro tivemos algumas iniciativas pontuais em relação às Bibliotecas Públicas. A criação das bibliotecas Parque de Manguinhos, Rocinha e a reforma da Biblioteca Pública de Niterói são ações positivas em prol do acesso à leitura e de tornar as bibliotecas espaços mais agradáveis e atrativos. Para isso acontecer se faz necessário que o sistema escolar da rede pública esteja conectado com esses espaços. Quantas vezes no ano uma turma de alunos da rede pública visita uma biblioteca com iniciativa organizada pelas escolas?
Enquanto existir um muro entre escola e biblioteca o sistema educacional continuará engessado e as bibliotecas continuaram sendo espaços sem atrativos. Uma biblioteca sem a visita de crianças e alunos é como uma praia sem mar: a paisagem pode ser bonita, mas a beleza é ofuscada e pouco atrativa. A formação de leitores não pode ser delegada a uma feira literária que só se realiza de dois em dois anos. Por falar nisso, a próxima edição da Bienal do Livro do Rio será em 2015, até lá será que a Biblioteca Pública do Estado do Rio de Janeiro será reaberta?
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