Este texto é o resultado parcial de uma pesquisa que realizei no período de outubro de 2011 a fevereiro de 2013 que consiste no mapeamento dos equipamentos culturais nos municípios do Amazonas, com ênfase para as bibliotecas públicas. No total foram realizadas, até o momento, 25 visitas aos municípios do estado.
O Amazonas possui o total de 62 municípios, sendo dividido oficialmente entre quatro microrregiões e treze microrregiões, que não possuem em todos os seus municípios equipamentos culturais, como museus, teatros, cinemas e bibliotecas públicas.
Estando a pesquisa em andamento, optei por apresentar o resultado de apenas uma das microrregiões do estado, nesse caso a Microrregião de Manaus que é composta pelos municípios de: Autazes, Careiro do Castanho, Careiro da Várzea, Iranduba, Manacapuru, Manaquiri e Manaus.
A ideia para a realização desse estudo decorreu do anseio por conhecer os equipamentos culturais que permeiam o Estado do Amazonas e ainda contribuir com a mobilização nacional iniciada em 30 de setembro de 2011, quando foram convocadas as bibliotecas de todo o Brasil a realizarem o novo Cadastro Nacional de Bibliotecas Públicas, projeto desenvolvido pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN/MinC), através do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP) e o Sistema Nacional de Informação e Indicadores Culturais (SNIIC).
A pesquisa em sua primeira etapa foi realizada com apoio do Núcleo de Estudos e Pesquisas das Cidades da Amazônia Brasileira – NEPECAB, bem como com recursos próprios, e teve início em outubro de 2011 no município de Humaitá, onde pude constatar a existência de uma biblioteca pública. Além desse espaço, o município não possuía outros equipamentos culturais.
Foram utilizados elementos da abordagem quantitativa e como instrumento de apoio, o modelo de formulário criado pela Fundação Biblioteca Nacional para o Cadastro Nacional de Bibliotecas Públicas. Ao longo dos municípios visitados foram realizadas conversas com os moradores objetivando saber o que pensavam sobre a necessidade de bibliotecas públicas, contribuindo ainda com os aspectos metodológicos desenvolvidos pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas das Cidades da Amazônia Brasileira – NEPECAB, numa articulação com a problemática urbana e o estudo de cidades amazônicas.
É válido destacar que o montante de municípios visitados nessa etapa estão localizados no entorno da cidade de Manaus, capital do Amazonas, e em vista desse aspecto geográfico partiu-se do pressuposto de que haveriam bibliotecas públicas implantadas. Contudo, conforme se pode observar no quadro abaixo, dos sete municípios pesquisados, dois não dispunham de bibliotecas públicas ou outros equipamentos culturais, nesse caso os municípios de Autazes e Careiro do Castanho.
As cidades visitadas foram fotografadas em suas peculiaridades. Todas apresentam belezas naturais que poderiam ser mais bem exploradas do ponto de vista turístico, com a valorização dos rios e das matas. A criação de espaços de museus e bibliotecas com vistas para o rio poderiam contribuir para o fortalecimento desse segmento econômico.
No decorrer das entrevistas realizadas nas cidades visitadas, percebeu-se a inexistência de atividades culturais voltadas para os jovens e o desejo destes de seguirem para Manaus em busca de oportunidades.
Não é, porém, objetivo desse relato apresentar informação ou discutir a inexistência dos demais equipamentos culturais (museus, teatros, cinemas e outros), haja vista que o enfoque do trabalho é voltado para as bibliotecas públicas. Porém, torna-se válido destacar que dos sete municípios que compõe a microrregião de Manaus, apenas a capital do estado do Amazonas dispõe de todos os aparatos culturais acima listados.
Segue abaixo, dados restritos sobre cada localidade e as imagens das cidades e bibliotecas visitadas.
Município de Autazes
A pesquisa aconteceu em fevereiro de 2012. Como em todos os lugares visitados, o primeiro passo era indagar aos moradores sobre a existência de uma biblioteca pública. Nessa localidade, as informações eram contraditórias, alguns afirmando que a biblioteca estava fechada. Mas houve quem afirmasse que estava atuante. Ao descobrirmos o local em que estava instalada, pudemos constatar que não havia acervo no interior da pequena casa que trazia em sua fachada o nome Biblioteca Municipal Maria Isabel Soares Stone. O município fica distante, 113 quilômetros de Manaus e detém o título do maior produtor de leite de búfala do Brasil.
Careiro do Castanho
O Município não dispõe de biblioteca pública, tampouco nenhum outro equipamento cultural. Está localizado a 102 quilômetros da cidade de Manaus e surpreende que pela proximidade apresente um quadro de tão pouco desenvolvimento. A cidade tem população estimada em torno de 30 mil habitantes.
Careiro da Várzea
O município do Careiro da Várzea possui a Biblioteca Municipal Luzia Isabel Monteiro Sales Veiga que está cadastrada no Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas. Visitei duas vezes a localidade. Na primeira vez estava fechada, não oferecendo nenhum serviço. Na segunda oportunidade pude constatar que a Biblioteca estava sendo utilizada no período matutino como sala de aula para alunos da Universidade Estadual do Amazonas. Na parte da tarde a biblioteca não realizava outro tipo de serviço, permanecendo fechada. O município está localizado a 25 quilômetros de Manaus e o acesso se dá apenas por via fluvial. Durante a travessia pode-se ver o fenômeno do Encontro das Águas do Rio Negro com o Rio Solimões. A cidade possui população estimada em torno de 24 mil habitantes.
Iranduba
Com uma população de cerca de 42 mil habitantes, Iranduba dispõe de duas bibliotecas públicas. A biblioteca Pública oficial, porém, não possui espaço próprio, funciona em uma das salas de um prédio da maçonaria e sem placa de identificação. Poucos moradores da cidade tem conhecimento de sua existência.
Em uma praça bem centralizada da cidade, está instalada a Biblioteca do Projeto Indústria do Conhecimento do SESI, que consiste numa parceria entre o SESI e a Prefeitura de Iranduba. Esse modelo de biblioteca tem sido implantado em várias cidades do país. Em Iranduba, porém, quando visitei o espaço em janeiro de 2012 havia poucos títulos nas prateleiras das estantes e os computadores com acesso a internet não estavam em funcionamento.
Manacapuru
O município possui uma biblioteca pública desde os anos 70 e o local é popularmente conhecido como Casa da Cultura. Com expediente das 08 às 22 horas, nos três turnos em que segue aberta, seis funcionários se revessam para atender aos serviços que consistem somente em leitura local. Há ainda um funcionário para atender no setor de informática, tendo em vista que existe um espaço para inclusão digital com vários computadores. Contudo, durante as duas vezes em que visitei o local, não havia atendimento por que o contrato com o serviço de internet não estava funcionando. A primeira vez em que estive na Biblioteca Pública Municipal Professora Elizabeth Lima de Almeida foi em janeiro de 2012. Um ano depois, em janeiro de 2013, ao retornar, constatei que havia sido retirada a placa de identificação da biblioteca, uma perda relevante, tendo em vista que a porta de entrada do edifício não se dá para a rua principal da cidade, fator que dificulta o acesso ao interior do espaço. Manacapuru tem uma população com cerca de 87 mil habitantes e está a 84 quilômetros de distância de Manaus.
Manaquiri
A apenas 54 quilômetros de Manaus é um dos municípios que integram a Região Metropolitana da capital. Possui um espaço reservado para a Biblioteca Pública, contudo, não houve possibilidades de adentrar o local para entrevistar os responsáveis, pois a visita foi realizada em um final de semana, quando não há expediente. As condições do prédio são precárias. Muito pequeno, não devendo comportar mais de 15 pessoas no interior do imóvel que estava em péssimo estado de conservação, com marcas de infiltração e umidade.
Manaus
A capital do Amazonas dispõe de duas bibliotecas públicas. A Biblioteca Pública Estadual do Amazonas, que foi reaberta em janeiro de 2013, após ter passado quase sete anos em reforma, e a Biblioteca Pública Municipal João Bosco Pantoja Evangelista, que também passa por reformas, mas que foi reativada em um prédio alugado no Largo de São Sebastião em abril de 2013.
Manaus dispõe ainda de várias outras bibliotecas mantidas pelo estado e por outras instituições. A cidade possui teatros, museus, galerias, centros culturais, salas de cinema, arquivo histórico e outros.
Do ponto de vista da criação de bibliotecas públicas em Manaus, poucas pessoas sabem, mas desde 2009 vem sendo viabilizada a criação da Casa de Leitura Thiago de Mello, obra financiada pelo Ministério da Cultura que deverá ser administrada pela Universidade Federal do Amazonas. Funcionará em dois prédios históricos da área portuária de Manaus, no Armazém Quinze e no antigo Prédio do Tesouro.
Ao longo do processo de restauro e reforma da área onde está sendo viabilizada a Casa de Leitura Thiago de Mello, realizei várias visitas objetivando dispor de informações e imagens das transformações operadas no local. A biblioteca quando finalizada deverá marcar significativamente a cidade, não apenas do ponto de vista do acesso ao conhecimento e a cultura, mas ainda da possibilidade de vislumbrar de forma mais cômoda o Rio Negro, hoje tão pouco acessível à população.
Uma biblioteca em cada município para o Amazonas
Essa pesquisa faz parte da minha colaboração no programa desenvolvido pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas das Cidades na Amazônia Brasileira – NEPECAB. Meu desejo é alcançar os 62 municípios do estado. Contudo, sendo um trabalho tão extenso e custoso, deve ser viabilizado em partes.
Em vários municípios do Amazonas não existem ainda bibliotecas públicas, e a maioria, quando as possui, são dotadas de ambientes desinteressantes e sem serviços. Salvo raras exceções, não foram identificados profissionais com formação em biblioteconomia atuando no interior do estado na promoção da biblioteca pública e seus propósitos.
Um dos objetos desse estudo é refletir mais adiante sobre a biblioteca pública e sua relação com a cidade numa perspectiva que possa contribuir para pensar o equilíbrio e a melhoria das condições de vida dos cidadãos amazonenses. Nesse sentido, os ambientes culturais se configurando como elementos de direito onde serviços públicos devem funcionar visando à obtenção de garantias e acessibilidades.
Encerro esse relato destacando que viajar pela Amazônia incide algo de ousadia. As distâncias são enormes, os barcos, rios e ventos, imprevisíveis, os custos muito elevados e por isso mesmo o trabalho é lento e às vezes sacrificado. Do ponto de vista das bibliotecas, as condições desanimam, mas servem de aprendizado, e aliado a isso, desfrutamos das belezas regionais e a simpatia do povo que ajuda muito. Acima de tudo é boa a perspectiva de saber que algo pode ser mudado, uma vez que seja revelado.
Comentários
Comentários