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Bibliotecários muito além dos livros

Igor Garcez, Mariana Zattar, Vagner Amaro, Elizabeth Gonçalves e Deborah Ambinder em evento promovido pela SDC/UFF. Foto: Luciana Rodrigues

Na última semana aconteceram na Universidade Federal Fluminense (UFF) eventos comemorativos ao dia do bibliotecário, comemorado em 12 de março. Na segunda-feira (25) aconteceu a roda de conversa “Ética e Responsabilidade Social na Biblioteconomia” no Espaço Cultural da Biblioteca Central do Gragoata (BCG) que contou com a presença das professoras curso de Biblioteconomia e Documentação da UFF Marielle Moraes e Esther Hermes.

Neste avento também estavam presentes estudantes dos cursos de biblioteconomia e arquivologia, além  de profissionais da instituição como Deborah Motta Ambinder de Carvalho, superintendente de Documentação (SDC), e Sandra Lopes Coelho, coordenadora de Bibliotecas (CBI/SDC), ambas da UFF.

Marielle abordou o tema responsabilidade social como algo antigo em nossa sociedade, existente já na Idade Média, e que veio ganhando destaque após a década de 1950, sendo este mais utilizado pelo mercado. Disse que a primeira menção do termo responsabilidade social em biblioteca foi na década de 1920, que antes estava relacionado apenas com a preservação da memória e que, nas últimas décadas, volta-se para o usuário.

Segundo ela, nos anos dois mil o termo foi marcando presença nos currículos universitários para a formação de futuros profissionais. A professora enfatizou que a categoria precisa trabalhar com a alfabetização da informação em nossa sociedade e no combate às fake news. Com isso ficou claro que os profissionais da informação precisam ter consciência democrática, pois, segundo Marielle, “ler e escrever é um ato democrático”.

A professora da UFF, Marielle Moraes, falou ao público sobre responsabilidade social na biblioteca. Foto: Luciana Rodrigues

Esther Hermes, por sua vez, apresentou a ética como algo da conduta humana, da nossa razão, pois segundo a mesma, a ética é racional, sendo estudado pela filosofia. Ela fez algumas comparações com o reino animal e a presença da ética em diversas épocas da história da humanidade. A professora enfatizou também a formação humanista dos profissionais da informação e que temos o dever de combater as notícias falsas.

Por fim, Deborah Ambinder, junto a Sandra Coelho, falaram rapidamente sobre as suas trajetórias dentro da instituição e agradeceram a presença de todos.

Na quarta (27), a SDC promoveu o encontro “Muito além dos livros: Acesso à informação e democracia” com uma mesa redonda, oficinas e música. Na abertura do evento estavam presentes além da superintendente de Documentação, Deborah Ambinder, o reitor da UFF, Antonio Claudio Lucas da Nóbrega. A primeira mesa foi composta por Igor Garcez, Mariana Zattar, Elizabeth Gonçalves, Wagner Amaro e Deborah Ambinder.

Igor Garcez, arquivista da UFF, tratou do tema “Lei de Acesso à Informação no Brasil” desde a criação do Projeto de Lei em 2003 e sua aprovação em 2011 e suas perspectivas atuais no cenário brasileiro comparando com a lei de acesso do México.

Mariana Zattar, professora do curso de Biblioteconomia e Gestão da Informação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CBG/ UFRJ) abordou a temática da competência informacional e citou o trabalho que vem desenvolvendo no projeto de extensão no curso relacionado ao combate às fake news.

Elisabete Gonçalves de Souza, professora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI/UFF) abordou o tema da função social na biblioteconomia sob três pontos: das Bibliotecas e da Universidade; da função da biblioteca universitária; e a relação informação-mediação-direito-cidadania.

Destacou que a biblioteca tem a função utilitária e a de lugar da memória, sendo fonte de pesquisa e receptadora de trabalhos. Enfatizou a presença do direito à informação na Declaração dos Direitos Humanos (1948), no código de ética da IFLA (2012, artigo 9) entre outros manifestos, declarações e leis.

Por fim, apresentou os desafios que os bibliotecários têm no presente que é o combate à desinformação, na desmaterialização de documentos, na censura, nas fake news etc. Mais do que nunca se faz necessário o profissional ter atitudes proativas e não passivas diante de tantos desafios que temos que superar.

Por fim, o bibliotecário e editor Vagner Amaro trouxe para o público a “Diversidade na formação do acervo, na mediação da leitura e divulgação literária na Biblioteca” e abordou uma pesquisa realizada sobre a editoração de livros no Brasil, onde há pouca diversidade de autores num país tão diversificado como é o Brasil.

Segundo ele, a pesquisa concluiu que os autores mais publicados são do gênero masculino, brancos, heteros e, geralmente, são jornalistas. Contou que muito recentemente pequenas editoras vêm abrindo espaço para que haja publicação de livros de autores com outros perfis, como é o caso da editora criada por ele, a Malê.

Após as palestras, houve um cofre break onde os bibliotecários confraternizaram-se, depois seguiram para as oficinas (decoupage em marcadores de livros, patchwork e papelaria) ministrados por bibliotecárias da instituição e, por último, ouviram a música.

Público participa de oficinas de decoupage em marcadores de livros, patchwork e papelaria. Foto: Luciana Rodrigues

Foi entregue marcadores de página com o juramento do bibliotecário, o qual temos que sempre ter em mente: “Prometo tudo fazer para preservar o cunho liberal e humanista da profissão bibliotecário fundamentada na liberdade de investigação científica e na dignidade da pessoa humana.”

Para mim, a temática dos eventos mostrou o quanto os profissionais da informação estão preocupados com a sua atuação no momento de crise nacional. O que podemos fazer para melhorar a sociedade? Como podemos agir para fazer o nosso mundo melhor? Como combater a desigudade e a ignorância informacional?

Finalizo com a síntese da apresentação da professora Elisabete: “A biblioteconomia, como ciência social, traz em sua epistemologia o dever histórico, outorgado pela tradição humanista, de defender os direitos sociais e humanos; de defender as instituições públicas, como a Universidade, de defender o acesso à leitura, à informação, à educação, à liberdade de expressão de todos os coletivos sociais que procuram abrigo em nossas bibliotecas, que precisam de espaços para discutir suas pautas, suas lutas e reivindicações.”

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