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Arquivo Nacional e Museu Nacional da UFRJ resistem ao tempo

O ano de 2018 está sendo marcado não só pelas crises financeiras, políticas e morais no Brasil, como também por datas bem simbólicas para a cultura e a memória do nosso país. Como mencionei, o Arquivo Nacional completou 180 anos de existência, assim como o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mais recentemente completou os 200 anos. Gostaria de prestar uma singela homenagem a estas duas instituições contando um pouco da sua história. Ambas merecem o nosso respeito por seus valiosos acervos que enriquecem e nos colocam como instituições de renome internacional. Como na música de Chico Buarque: “Apesar de você / Amanhã há de ser / Outro dia”, ambas irão sobreviver e persistir com o esforço e a colaboração de muitos que amam as instituições na qual trabalham.

O Arquivo Nacional foi criado no dia 2 de janeiro de 1838, com o nome de Arquivo Público do Império. A sua criação já estava prevista na primeira Constituição do Império do Brasil de 25 de março de 1824:

“Art. 70. Assignada a Lei pelo Imperador, referendada pelo Secretario de Estado competente, e sellada com o Sello do Imperio, se guardará o original no Archivo Publico, e se remetterão os Exemplares della impressos a todas as Camaras do Imperio, Tribunaes, e mais Logares, aonde convenha fazer-se publica.” Tal documento encontra-se disponível online no Flickr da instituição e está custodiado em seu acervo.

Até ser chamado de Arquivo Nacional, a instituição passou por mais duas mudanças, uma em 1893, quando foi chamada de Arquivo Público Nacional, após a Proclamação da República, e outra, em 1911, com o seu nome definitivo. Assim como houve mudança em seu nome ao longo da história, o Arquivo Nacional ocupou diversas sedes no Rio de Janeiro, entre elas o edifício do Ministério do Império (na rua da Guarda Velha, atual Treze de Maio, em 1838); no edifício na  Praça do Comércio (por cima da rua Direita, atual Primeiro de Março, em 1844); no edifício do Convento de Santo Antônio, em 1855; a antiga sede do Museu Nacional (na Praça da República, em 1907);  em 1985, o Arquivo Nacional é transferido para um dos prédios da Casa da Moeda e em 2004 passa o ocupar também o prédio principal da Casa do Moeda, após reforma e restauração do Iphan.

Durante seus 180 anos, o Arquivo Nacional teve 26 diretores desde 1840, sendo a primeira gestão com Ciro Cândido Martins de Brito (1840 – 1857), e a maior gestão com o diretor Jaime Antunes da Silva (arquivista e historiador, 1992 – 2016). Nos últimos anos, por questões políticas, a instituição teve sete diretores, sendo a atual diretora-geral, Carolina Chaves de Azevedo (advogada), empossada no dia 29 de novembro de 2017 e indicada da deputada federal Cristiane Brasil (PTB).

Segundo a própria instituição, “O Arquivo Nacional conserva, em sua sede, no Rio de Janeiro e em sua Coordenação Regional no Distrito Federal, mais de 55 quilômetros de documentos textuais, cerca de 1,74 milhão de fotografias e negativos, 200 álbuns fotográficos, 15 mil diapositivos, 4 mil caricaturas e charges, 3 mil cartazes, mil cartões postais, 300 desenhos, 300 gravuras e 20 mil ilustrações, além de mapas, filmes, registros sonoros e uma coleção de livros raros que supera 8 mil títulos.” Entre os documentos destacam-se os de guarda da Lei Áurea, das Constituições Brasileiras, da Aclamação de D. Pedro I e II, do Processo de Condenação de Tiradentes, da Fundação do Banco do Brasil em 1808, entre outros.  Os catálogos do Arquivo Nacional encontram-se disponíveis em seu site.

Conjunto arquitetônico do Arquivo Nacional. Foto: Divulgação

O acervo do Arquivo Nacional contribui significativamente para o Projeto Brasiliana Fotográfica Digital que teve início com a Fundação Biblioteca Nacional e o Instituto Moreira Salles.  A Brasiliana Fotográfica Digital tem como objetivo fomentar o debate e a reflexão sobre os acervos de fotografias, abordando-os enquanto fonte primária e enquanto patrimônio digital a ser preservado.

É triste saber que a instituição passa por dificuldades financeiras, devido a cortes orçamentários e que o cargo de direção esteve a mercê de disputas políticas, como podemos ver na reportagem do El país Brasil.

Em 2017, Rodrigo Mourelle (presidente da Associação dos Servidores do Arquivo Nacional – ASSAN) afirmou para o Estadão que neste ano houve um corte de quase 40% do orçamento da instituição (R$ 22 milhões), isso levou a um corte de um terço dos funcionários terceirizados. Ainda sobre as dificuldades dos últimos tempos, ele afirmou “É um descaso com o Arquivo, não se pode fingir que não está acontecendo nada. Mesmo sendo um cargo de confiança da administração direta, a escolha do diretor de uma instituição como o Arquivo Nacional não pode estar ligada à barganha política, não pode ser tratado como apenas mais um cargo. O que queremos é que se levante o debate da eleição geral, com votos de servidores, quem sabe o envio de uma lista tríplice ao ministério”. Neste mesmo ano, houve uma abaixo-assinado virtual para impedir o fechamento da instituição que foi entregue ao Ministério da Justiça a qual, a instituição está vinculada.

Apesar das dificuldades e dos fatos citados, o Arquivo Nacional segue erguido, preservando a memória institucional e do país. Recentemente, promoveu o evento II Semana Nacional de Arquivos de 4 a 8 de junho de 2018 na sede do Rio de Janeiro e está com uma exposição sobre os 130 da Abolição da Escravatura.

O Museu Nacional foi criado por um decreto de D. João VI em 6 de junho de 1818 com o objetivo de educação, cultura e difusão da ciência. É a primeira instituição científica do país e foi instalado no Campo de Sant’Anna (atualmente Praça da República, no Centro, RJ) com peças da Casa dos Pássaros e outras peças das coleções reais. A instituição chamava-se Museu Real. Em 1863, foi criada a Biblioteca do Museu Real.

Com a Proclamação da República, o Museu foi transferido para o Paço de São Cristóvão (1892) e passou a ser chamado Museu Nacional.  Ao longo da história, importantes cientistas visitaram o Museu, como Albert Einstein (1925), Marie Curie (1926) e Albert Santos-Dumont (1928). Neste período,  Edgard Roquette-Pinto (1884-1954. médico, professor, antropólogo), enquanto diretor da instituição, criou o primeiro setor educativo em um museu no país baseado nas visitações a museus dos Estados Unidos realizada por Bertha Lutz (1894– 1976, feminista, bióloga e política). Dessas visitações, resultou em um relatório que mais tarde foi publicado como livro A Função Educativa dos Museus (2008)

Anos mais tarde o Museu Nacional (1946), a instituição foi incorporada à Universidade do Brasil, atualmente, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O Museu Nacional é formado pelos departamentos de Antropologia, Botânica, Entomologia, Geologia e Paleontologia,  Invertebrados, Vertebrados, e vários Programas de Pós-Graduação. Além da Biblioteca criada ainda na Monarquia, o Museu possui mais três unidades de informação: a Seção de Memória e Arquivo (SEMEAR) ou antigo arquivo histórico, o Centro de Documentação em Línguas Indígenas (CELIN) e a Biblioteca Francisca Keller (Programa de Pós Graduação em Antropologia Social do MN/UFRJ). Os acervos encontram-se disponíveis na Base Minerva da UFRJ e na Biblioteca Digital de Obras Raras.

O Museu Nacional é o maior museu de história natural e antropológica da América Latina e  possui documentos desde a  sua criação até documentos que registram a história das ciências naturais e o trabalho científico do Brasil nos mais variados formatos (impressos, fotográficos, tridimensionais, museológicos).

Assim como o Arquivo Nacional e diversas instituições de ensino universitário no país, a UFRJ teve cortes orçamentários, que também impactaram o Museu Nacional. Devido a problemas financeiros, o Museu lançou uma campanha de financiamento coletivo No Mundo do Maxakalisaurus  que teve como objetivo de arrecadar verba para reabrir a sala do primeiro dinossauro montado no Brasil.

As comemorações dos 200 anos do Museu Nacional foram iniciadas com a homenagem da Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense no Carnaval deste ano no Rio de Janeiro. Com o enredo Uma Noite Real No Museu Nacional, a Imperatriz Leopoldinense levou para a Sapucaí personalidades históricas e da ciência. Algumas fantasias encontram-se em exposição na instituição. Já a comemoração do Museu Nacional, como tradição foi realizado na Quinta da Boa Vista, no primeiro final de semana de junho (dias 9 e 10), em uma tenda montada da Alameda das Sapucaias com mais de 40 atividades com entrada franca para todos.  Atualmente, o diretor da instituição é o Prof Alexander Kellner. Conheça um pouco da instituição através dos vídeos.

Comemorações dos 200 anos do Museu Nacional. Foto: Divulgação

O Museu Nacional está distribuindo o Passaporte de Museus 2018, nas quintas e nos sábados. Esta ação é promovida pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). Com ele, o visitante poderá visitar gratuitamente 77 museus e centros culturais do Rio e cidades próximas em dias específicos.

ARQUIVO NACIONAL

 Endereço: Praça da República, 173 – Centro, Rio de Janeiro – RJ, 20211-350

Funcionamento:  7h30 às 19h30. Limite para ingresso: 18h

Acesse o Site

MUSEU NACIONAL

Endereço: Quinta da Boa Vista, São Cristóvão. Rio de Janeiro – RJ.

Funcionamento: De terça a Domingo: Abertura da exposição às 10:00 fechamento para entrada do público às 16:00, tendo o visitante até às 17:00 para visita.

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