O espírito de luta parece ter tomado de vez bibliotecários, estudantes e demais entusiastas das bibliotecas, do livro e da leitura. Primeiro foi no Amazonas onde, mobilizados em torno do Movimento Abre Biblioteca, os profissionais conseguiram exercer uma pressão política suficiente para forçar o governo a reabrir a biblioteca estadual fechada já havia anos.
Depois foi no Rio, onde o Movimento Abre Biblioteca Rio trava hoje uma batalha para garantir a manutenção das Bibliotecas-Parque que reduziram dias e horários de atendimento.
Da Paraíba vem a notícia de construção do Movimento Abre Biblioteca daquele estado: “João Pessoa, terceira capital mais antiga do Brasil, celeiro de grandes nomes […], é também a única capital que não possui uma Biblioteca Pública Municipal”, destaca a bibliotecária Cris Mendonça.
Agora é a vez do Ceará. No último dia 20 estudantes e professores do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará (UFC) realizaram um ato no Centro de Fortaleza em protesto contra o deslocamento de professores para assumirem bibliotecas escolares em lugar dos bibliotecários.
“A formulação desse ato se deu devido a informação de que o vereador Acrísio Sena (PT/CE) propunha realocar professores readaptados para reabrir bibliotecas das escolas municipais”, esclareceu a estudante de Biblioteconomia da UFC, Thaiana Barros.
A proposta do vereador gerou muita polêmica nas redes sociais, onde os bibliotecários se manifestaram contrários à sugestão do parlamentar. Mostrando-se disposto a dialogar, Sena marcou uma reunião com a classe para o dia 21 de maio. Bibliotecários, estudantes e professores da universidade se reuniram nas galerias da Câmara Municipal de Fortaleza.
Segundo Thaiana, ao avistar o grupo, o vereador Acrísio Sena solicitou ao presidente da casa legislativa que fosse aberta uma comissão para tratar do assunto, sendo a moção aprovada pela mesa. Em seguida o grupo foi recebido no auditório da casa para dialogar com a comissão, composta pelos seguintess: José Acrísio Sena (PT), líder do Partido dos Trabalhadores na câmara; Didi Nogueira, vice-líder do governo; Regina Cláudia Tabosa Ferreira Gomes (PTC); Marcos Aurélio Bezerra Gomes (PSC); e Tamara Paiva de Lima (PSDC).
“Ao início da reunião, o vereador Acrísio Sena relatou o histórico e o motivo pelo qual fez a polêmica proposta, afirmando que os maiores prejudicados eram os alunos da rede municipal de educação que estão sem acesso às bibliotecas, porém, afirmou que está convencido que a posição de realocar professor não é a decisão ideal, reconhecendo a importância da classe bibliotecária. Os vereadores em geral fizeram questão de ressaltar que essa é a primeira vez que ficam sabendo de uma movimentação por parte da classe para reclamar os seus lugares de direito e a aplicação da lei. Chegou-se a afirmar, inclusive, que se tivessem tomado conhecimento da pauta e sido procurados antes do dia 15 de abril, quando a matéria de concurso para professores do município de Fortaleza foi aberta, poderiam ter sido realizados esforços para incluir vagas para bibliotecários na dita seleção. Fernando Braga, representando o Conselho Regional de Biblioteconomia, defendeu a instituição apresentando ofícios que foram enviados para o vereador Leonelzinho Alencar no início do ano solicitando concurso e outras pautas da classe”, esclarece a estudante.
Terezinha Vieira, representando da Associação dos Bibliotecários do Ceará, ressaltou que não se deve olhar para o passado e sim que esse novo movimento deve se unir para fazer a diferença, tendo sido aplaudida pelos presentes. Jonathas Carvalho, professor da UFC e colunista da Revista Biblioo, presente ao ato, se posicionou explicando que a pauta do movimento não é apenas a realização de concurso e sim a construção de um Plano Municipal de Bibliotecas que contará com estratégias para estruturação das bibliotecas, a construção de um sistema de bibliotecas escolares e, claro, a realização de concurso públicos graduais para atender a lei das bibliotecas escolares, cujo prazo vai até 2020.
Ainda durante o ato, os manifestantes também protestaram contra a desvalorização profissional, exigindo não regulamentação salarial para a categoria. Houve intervenções e doações de livros para os transeuntes de modo a chamar a atenção para a causa.
De acordo com o estudante da UFC, Manoel Messias, “é um dever alertar o público sobre as condições das bibliotecas públicas do estado. Temos que lutar pela reabertura de bibliotecas escolares, além de reivindicar melhores condições de trabalho”.
A próxima manifestação está agendada para o próximo sábado (27), em frente à Biblioteca Pública Municipal Dolor Barreira, localizada no bairro Benfica, em Fortaleza.
“Em nome dos estudantes de Biblioteconomia da UFC, digo-lhes que esse foi o primeiro de muitos atos que virão para tornar a nossa profissão reconhecida e percebida pela sociedade. Não podemos mais nos calar diante das muitas negligências que o poder público gera em torno dos bibliotecários”, diz Thaiana entusiasmada.
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