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Um lugar onde fantasmas não dormem

A fixação do cineasta mexicano Guillermo del Toro pelo horror fantasioso, somada ao legado literário de Henry James, transforma A Colina Escarlate (original Crimson Peak, 2015) em uma história que poderia ser contada por Byron, Percy Shelley, John Polidori e Mary Godwin, futura Mary Shelley, em um de seus saraus. Há algo de tenebroso e burlesco na trama que mistura horrores e amores góticos, começando com o seguinte aviso espectral dirigido a uma criança enlutada: “Cuidado com A Colina Escarlate”.

A criança em questão cresce e alimenta o sonho de ser escritora profissional. Na virada do século 20, Edith Cushing (Mia Wasikowska) escreve narrativas sobrenaturais e tem como inspiração Mary Shelley, autora de Frankenstein. Edith é filha única de um rico empreiteiro e, datilografando na empresa do pai, ela conhece o baronete –título de nobreza – Thomas Sharpe (Tom Hiddleston).

Vindo da Inglaterra ao lado da irmã, a megera Lucille (Jessica Chastain), Thomas tenta obter investimentos para seu negócio. No entanto, os irmãos precisam enfrentar a desaprovação e suspeita do pai de Edith, até que a misteriosa morte do empreiteiro acaba impulsionando a união entre Thomas e a jovem.

Ao lado do baronete, a ingênua Edith deixa os Estados Unidos e parte para a inóspita propriedade do marido, localizada em terras inglesas. Na mansão decadente, onde o teto desabou e todos os cômodos e rachaduras parecem escorrer uma eterna gosma vermelha – fruto do negócio dos irmãos -, Edith é assombrada por misteriosos pesadelos e segredos macabros.

Com um design primoroso, ao estilo do fantástico O Labirinto do Fauno, o longa metragem concentra a atenção em efeitos especiais e na criação de um eficiente ambiente de pavor: as mariposas mortíferas, os fantasmas desmembrados, quase cômicos, que brotam de todo lugar, o cheiro da morte escondido em móveis e utensílios. No entanto, o enredo vai se arrastando como drama mexicano e, apesar de não perder a essência da proposta, só consegue ganhar fôlego no final, etapa em que todas as revelações são feitas.

Na pele da irmã dominatrix Lucille, Jessica Chastain chama toda a atenção para si. Sua indumentária gótica e os olhos que parecem explodir de raiva a toda instante roubam a cena em muitos momentos. Já Mia Wasikowska e Tom Hiddleston são responsáveis pela mistura dicotômica entre o amor ingênuo e pitadas espaçadas de erotismo, elementos ultrarromânticos. Hiddleston, a propósito, poderia sacar o microfone do bolso e começar a cantar um cover da banda finlandesa HIM – não provocaria tanto estranhamento, tal é o perfil de seu personagem.

Já Mia Wasikowska, metida em longos vestidos amarelos que irradiam luz na soturna mansão, ainda conserva a fragilidade e inexperiência própria de uma Alice no país das maravilhas. A trilha sonora, assinada por Fernando Velázquez, assalta determinadas cenas com uma boa dose de melodrama – apesar de bela, sem dúvida.

Quem espera abrir o baú do terror sanguinário, pode acabar esbarrando em um medo que não alcança o êxtase. Nesse caso, vai precisar se contentar com a ideia do terror, impregnada em frames bem trabalhados, mas não com a face do horror em si. Interessante, A Colina Escarlate faz jus ao ditado: “Não se pode ter tudo”.

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