Existem livros e livros. Há aqueles que são puro entretenimento e aqueles que são puro conteúdo. Há que se dosar ambos na mesma medida e Spohr o consegue. Este livro não é um mero livro, tampouco um mero fenômeno editorial. É um título que marca esse início de década e que tem tudo para ser a grande alavanca do mercado editorial brasileiro. A Batalha do Apocalipse (ABdA) é uma obra, uma grande referência, dessas que marcam para sempre os rumos das escritas que seguirem depois. E digo isso sem medo ou puxa-saquismo, pois tenho total consciência de que a partir de ABdA o mercado editorial brasileiro será forçado a entender que existe um grande potencial em nossos autores e que tudo o que eles precisam é serem acreditados. Não é pedir muito.
Há partes na trama em que é mais fácil acreditar na proposta de Spohr do que na versão apresentada na Bíblia, uma vez que esta não se preocupa em ser coerente ou explicar as coisas na ordem lógica, apenas apresentar os fatos e suas consequências, enquanto o autor dedica-se em tornar coerente fatos obscuros da história da humanidade, de modo que os leitores (estas criaturas desconfiadas e questionadoras) se sentirão mais à vontade nesta segunda opção, sem correr o risco de “aprender errado”, ao contrário, isso vira um estímulo para que o leitor busque a real fonte, os trechos bíblicos, os fatos históricos, e os compare com a trama – e, assim, acaba estudando e aprendendo.
É importante ressaltar que ABdA não é um livro religioso e nem pretende sê-lo.Qualquer analogia nesse sentido é mero descaso e desentendimento da parte do leitor. Se você chegou à essa conclusão, recomendo a releitura. O fato de utilizar elementos comuns às religiões (personagens, nomes, lugares, fatos) não significa que o autor esteja fazendo uma recriação dos fatos históricos, mas sim ficcionalizando em cima destes. E a ficção, meus caros, é livre e inerente ao ser humano.
Ponto alto da jornada é a parte da Babilônia. Narrativa extenuante, dessas que não te deixam dormir até terminar!
Tal título deveria ser adotado em escolas. Por um lado, seria muito mais fácil aos estudantes acompanhar a trajetória da humanidade através dos séculos através das aventuras de Ablon, que acompanha o mundo desde sua criação. Por outro, facilitaria em muito o gosto pela leitura dos jovens, que se identificam muito mais rápido por esse tipo de narrativa e, a partir daí, pulariam para outros gêneros literários.
Spohr criou personagens fortes e corajosos, mas com características humanas, ainda que anjos. Por isso os amamos e torcemos por eles. Até mesmo os vilões são passíveis de compaixão. Não existe uma página, um parágrafo, uma linha escrita por Spohr que você não perceba sua preocupação em tornar sua obra perfeita. Tudo foi calculado e cuidado como um verdadeiro tesouro e com um carinho absurdo. São seiscentas páginas fáceis de ler e difíceis de abandonar.
Mas chega a hora e preciso deixar Ablon e os outros seguirem em frente. O que há de melhor fica em quem leu.
Autor: Eduardo Spohr
Edição: 2
Editora: Verus
ISBN: 9788576861041
Ano: 2010
Páginas: 647
Comentários
Comentários