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Web Social e Movimento Hip Hop

A Ciência da Informação (CI) é responsável por tratar dos estudos informacionais de diferentes alcances na sociedade a partir da transdisciplinaridade e interdisciplinaridade usando elementos produzidos em estudos científicos para melhorar questões relacionadas ao usuário. Ambas as formas são aplicadas com o intuito de desenvolver maneiras inclusivas e novas metodologias para melhor atender as necessidades informacionais da sociedade para proporcionar a ampla inclusão na sociedade da informação por meio de políticas sociais que ofereçam maneiras de desfrutar as informações, a fim de que todos se beneficiem dos avanços na área da Ciência da Informação.

Com a evolução das plataformas na Internet, a Web atualmente torna-se o ambiente privilegiado de inclusão nas questões digitais. Ela permite aos usuários colaborar e expor suas opiniões através de seus aplicativos. A comunicação que antes era feita apenas de uma forma e controlada por apenas poucas pessoas, inverte a ordem de apresentação dos elementos e as possibilidades de autoria múltipla dos conteúdos dão mais espaço de participação aos integrantes.

Formas alternativas de difusão do Hip Hop

O estudo apresentado sobre o Movimento Hip Hop se relaciona a essas questões na medida em que ele pode ter a oportunidade de encontrar nos meios da Web contemporânea o espaço certo de divulgação dos seus elementos. O Hip Hop sempre foi uma manifestação mal vista aos olhos da sociedade por várias razões, entre elas o fato de ser uma manifestação que acontece da periferia para o centro da cultura e ser de origem africana e afro-americana. E como outro movimento de mesma origem, encontra resistências.

A verificação da falta de espaço que os jovens praticantes da cultura Hip Hop sempre enfrentaram nos diversos setores da sociedade, inclusive nos meios de comunicação, nos leva a pensar nos meios digitais proporcionados pelos aplicativos Web da atualidade como formas alternativas de difusão e até mesmo de justiça social, pois foram poucos e curtos os programas nas diversas mídias da indústria cultural que abordaram os assuntos ligados ao Hip Hop.

As novas possibilidades de acesso, favorecidas pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), são atualmente a aposta para haver inclusão dos membros dessa cultura, pois são instrumentos disseminatórios decisivos, e também para o desenvolvimento social das classes menos favorecidas que podem, através do bom uso dessas TICs, ser beneficiadas pela chance de expressão do individual e grupal.

As propostas de melhoria e de inclusão por meio da Web devem ser mais estudadas a fim de explorar e possibilitar o uso dos seus recursos que são muito bem vindos por toda a população, mas principalmente pela cultura Hip Hop, que necessita de oportunidades e espaços como esses para ter a autonomia, a qual é reivindicada há muitos anos nos meios de comunicação brasileiro.

A expressão Hip Hop foi criada por AfrikaBambata, um DJ que propôs a pacificação entre as gangues do Bronx através de encontros dos B.Boys, DJ e MCs, e a tradução do termo significa: “Hip” quadril e “Hop” pular, ou seja, é um conjunto de movimentos que expressa “sacudir os quadris”. Porém o significado vai muito além da ação de movimentar o corpo, pois a conotação “jogo de corpo”, daí derivada, se aplica ao cotidiano dos tantos seguidores dessa cultura que têm que ter essa agilidade de se desvencilhar dos problemas sociais em que vivem.

 

Em busca do espaço merecido

Os elementos que são seus pilares independentemente de qualquer lugar onde esteja acontecendo são: o Grafite, que representa o desenho, a arte de registrar através da plasticidade e da pintura; o Break, que é a arte de dançar, representada pelo B.Boy e B.girl; o DJ, disc jockei, que representa a sonoridade através dos tocas- discos e o MC, mestre de cerimônia, que é o cantor, mensageiro de todo discurso cantado nas letras de rap.

Desde seu surgimento, o Hip Hop brasileiro ainda não teve o espaço merecido nos meios de comunicação da grande mídia. Esse fato impede a disseminação dessa cultura para população brasileira, pois as chances de mostrar os seus elementos foram e até hoje são escassas. Esses meios têm se mostrado conservadores e temerosos em abrir espaço às manifestações culturais vindas das periferias e sempre exigiram normas restritivas para as apresentações. Assim, a relação entre os tradicionais meios disseminadores e às manifestações ligadas ao Hip Hop se dá de forma conturbada.

Os meios que o Movimento Hip Hop teve até hoje na “grande mídia” para mostrar sua cultura são: 1) No rádio, a 105 FM foi a primeira no Brasil a dar espaço para essa manifestação. O programa Balanço Rap está no ar desde 1998, proporcionando aos ouvintes a sua participação direta na programação; 2) O Black 105, um programa de Black Music em que algumas das músicas que fazem parte das raízes afro como o rap, entre outras, são tocadas em sua programação; 3) Espaço Rap é o mais ouvido entre os programas citados e divide-se em parte I e parte II, que vai ao ar diariamente; 4) Charme da 105, que dedica a programação para a música black em geral; 5) Festa do Dj Hum é um importante programa disseminador de música negra, pois contempla os estilos de: Samba Rock, Rap, Soul, Funk, Boogie e RareGrooves.

Basicamente são esses os espaços que o Rádio direciona para o Movimento Hip Hop, mas há muito a se conquistar, pois os rappers não se sentem representados totalmente através dessas programações, que não são puras e exclusivas para que possam de fato ter autenticidade voltada exclusivamente á eles. As revistas impressas sobre o Hip Hop tiveram duração de aproximadamente dez anos em circulação, mas saíram do mercado entre os anos de 2008 e 2009. São elas: Pode Crê! Rap Brasil, Rap BR, Cultura Hip Hop, Planeta Hip Hop, Rap News e Grafite.

A televisão brasileira também não dedicou muitas possibilidades de cooperação para o Movimento Hip Hop. A primeira emissora que fez um programa aberto foi a MTV Brasil com o programa YO! Mas devido a desentendimentos entre a produção e os apresentadores do programa, ele saiu do ar. Em Sergipe e Porto Alegre é comemorado com sucesso o Hip Hop sul que já está há dez anos no ar e é exibido pela TVE. No ano de 2008 a TV Cultura finalmente abriu espaço para as manifestações da Periferia e passou a exibir o programa Manos e Minas. Entre desentendimentos com os apresentadores e algum tempo fora do ar, o programa atualmente é a maior referência da manifestação da cultura Hip Hop em uma mídia de comunicação de massa.

Há um reconhecimento por parte dos seguidores dessa cultura que apontam a Web como principal potencializadora do Movimento Hip Hop, pois nenhum dos meios elencados acima têm cem por cento de espaço dedicado á cultura. Alguns sites que estão em veiculação são: Portal Rap Nacional; Portal Central Hip Hop; www.enraizados.com.br; www.radarurbano.com.br; www.rapevoluson.com.br; e www.centralhiphop.com.br. Pois esses espaços em ambiente Web são os que de fato oferecem a expressão máxima de comunicação entre os seus indivíduos.

Essa abertura em função da construção coletiva do conhecimento pode melhorar e unificar a cultura Hip Hop caso exista um ambiente em linguagem wiki especifico para ela, como um WikiHipHop, que crie convergências para o grafiti, o break, o mc e o dj, juntamente com links para discussões que crie esse universo como a literatura marginal, gênero literário que surge para representar os tramas das periferias, assim como as letras de rap e seus conteúdos reivindicatórios.

Percebe-se assim que a Web Social pode ser uma potencializadora de espaços digitais onde os usuários possam colaborar para construir maior autonomia nas informações, principalmente comunidades e produções periféricas que são estereotipadas ou não representadas nas mídias tradicionais.

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