Imagem de Ana Cândida Carvalho
Zica nunca mudou. Em setenta anos, seu único ofício consistia na destemida tarefa de matar baratas. Uma após outra, em todos os cômodos e lugares. Uma chinelada bastava para que ela sentisse correndo nas veias o gosto pela selvageria.
Vez por outra, instintos cruéis se apossavam da cândida anciã, fazendo-lhe esmagar com o calcanhar a cabeça de suas prisioneiras. Certo dia, perguntaram à Zica quais os motivos que a levavam a executar uma tarefa tão ordinária como essa.
– Olha – ela respondeu -, barata é como gente que nunca é bem-vinda. Sempre deixam resquícios de podridão.
E vó Zica riu, mostrando a dentadura angélica.
*Conto presente no livro “Os Sonhos de Jurema e Outras Historietas Sem Tempo” de autoria de Mara Vanessa Torres.
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