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Tudo velho de novo

Com a chegada de mais um ano novo é comum surgirem novos sonhos e promessas para serem realizados em 2013. Em busca de cumprir o que foi prometido, vale apelar para a roupa branca, amarela, vermelha, rosa, para o pé direito ou então se espelhar em uma celebridade ou algum herói para satisfazer o ego. Talvez toda essa superstição não seja suficiente para afastar as continuidades que insistem em nos assolar na alvorada dos últimos anos.

Mais um ano se inicia e parece que é tudo velho de novo. Assim como em anos anteriores, mais uma enchente causa transtornos, mortes, e deixa vários desabrigados. O Big Brother Brasil chega a sua décima terceira edição, a passagem do transporte público ficou mais cara, mais uma vez, o José Genoíno, condenado no caso do mensalão, volta a ter cargo político e uma vereadora desaparece depois da posse. Parece roteiro de filme de terror, mas nesse caso é a realidade nua e crua.

A maneira mais fácil de esconder os grandes culpados em momentos como esses é ocultar os crimes cometidos ou então desviar a atenção dos fatos. No caso das enchentes que atingiram o Rio de Janeiro, mais especificamente a baixada fluminense, a culpa está sendo colocada na quantidade de chuva que caiu sobre a região, nos moradores de encostas e de beira de rios que são rotulados como “irresponsáveis” por residir em áreas de risco. Na verdade é o que sobra para eles, e nesse caso são vitimas que sofrem com a carência de políticas públicas consistentes de moradia e de prevenção contra chuvas.

As contradições

O município de Duque de Caxias está entre os quinze municípios mais ricos do país, com um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 25,7 bilhões, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas parece que toda essa economia não trás benefícios e avanços para a região. Basta consultar os indicadores sociais ou o índice de desenvolvimento humano (IDH) para comprovar que essa riqueza não está sendo socializada. Um dos municípios mais ricos do estado, figura como uma das maiores mazelas sociais. Uma verdadeira contradição.

Vitor Abdala, repórter da Agência Brasil, aponta estudo realizado pela Organização não governamental Trata Brasil que “coloca Duque de Caxias entre os dez municípios do país com mais de 300 mil habitantes com os piores índices de coleta e tratamento de esgoto – assim como outros três vizinhos da Baixada: Nova Iguaçu, São João de Meriti e Belford Roxo”.

A gestão do ex-prefeito Zito reflete a forma como as autoridades lidam com essa riqueza: fraudes na área da saúde, descaso com a educação etc. De fato não tem como levar a sério um prefeito que não consegue nem realizar a limpeza pública, já que o município ficou sem coleta de lixo durante três meses devido à falta de pagamento da empresa responsável pela coleta. Montanhas de lixo se acumularam pelas ruas. Cinquenta mil toneladas de detritos abandonados nas ruas, entupindo saídas de esgotos e deixando um ambiente favorável às enchentes.

Em entrevista a BBC Brasil, Marcelo Motta, geógrafo e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) afirmou que “as prefeituras se equiparam melhor com as Defesas Civis e com os sistemas de alertas e sirenes, mas nosso atraso é anterior, no que diz respeito ao planejamento das cidades, ao planejamento urbano”.

Para Elson Antonio do Nascimento, professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense (UFF), remover as pessoas que moram em áreas consideradas de risco pode ser inviável devido aos altos custos. Elson defende que as áreas ocupadas devem receber obras de infraestrutura como escoamento das águas e contenção de encostas.

As trocas de favores e o esquecimento

No primeiro dia do ano os prefeitos e vereadores eleitos são empossados. Uma data bem sugestiva para cerimônia de posse, já que grande parte da população está curando a ressaca e nem lembra mais em quem votou nas últimas eleições. Essa sonolência de início de ano é o ambiente ideal para os pseudopolíticos pagarem os investidores e empresários que financiaram as campanhas. Não é à toa que logo nos primeiros dias de janeiro os reajustes nas passagens dos coletivos são anunciados na sutileza e sem questionamentos acatamos as tarifas mais caras aliadas a uma rede de transportes de péssima qualidade.

O povo brasileiro antes de tudo é um forte. Recupera-se de suas tragédias com garra e com um sorriso estampado no rosto. Daqui a pouco tudo cai no esquecimento e a vida volta ao normal, ninguém mais se lembra dos mortos no deslizamento de Angra dos Reis, das vítimas do morro do Bumba em Niterói, dos desaparecidos da região Serrana e da incapacidade do poder público em adotar políticas de prevenção contra essas catástrofes. Como de costume, depois da tragédia anunciada, os governos estadual e federal anunciam um pacote de investimentos na recuperação das áreas atingidas; milhões são destinados, mas são poucas as ações concretas.

Desde 2010 as obras de recuperação da região Serrana ainda não foram concluídas; as moradias para os que ficaram desabrigados com o desmoronamento do morro do Bumba ainda não estão terminadas, e parte das verbas e mantimentos destinados aos desabrigados de Petrópolis foram desviados e nem chegaram a quem de fato necessitava. Pelo andar da carruagem, a tragédia da baixada fluminense também será esquecida. Em breve os heróis do Pedro Bial vão ocupar lugar de destaque na programação da tevê, o próximo paredão será a principal capa dos jornais e vamos afogar as mágoas no clima de carnaval e nas bundas das rainhas de bateria.

Mas depois que a banda passar cantando coisas de amor, tudo vai voltar ao seu lugar e o povo vai se despedir da folia e voltar a sua dor. O ano finalmente será iniciado e a esperança que 2013 venha com novos rumos talvez fique somente nas cores das roupas e nas promessas juradas na queima de fogos do réveillon de Copacabana.

Cortar o tempo

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.

(Carlos Drummond de Andrade)

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