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A saga do transporte público do Rio

O relógio desperta as 5h da manhã e lá fora a escuridão revela que o dia nem clareou, mas o jovem Alfredo Dantas precisa levantar para não chegar atrasado na faculdade de Jornalismo.

Ainda sonolento entra no banho para despertar e criar coragem para a batalha diária que o aguarda. Sai de casa 50 minutos depois, cruza a avenida principal do bairro desviando das poças de lama das chuvas da noite anterior que se aglomeram na via pública devido à falta de urbanização.

Percebe que a rua está vazia, atípica para uma manhã de quinta-feira, quando se dá conta que é feriado municipal. Embaixo de um viaduto aguarda a primeira condução do dia que já corta a reta e se aproxima. Alfredo se posiciona no canto da calçada, de longe consegue ver a parte interna do ônibus que está lotado com diversas pessoas exprimidas no corredor e entre as cadeiras do coletivo.

Como o ônibus é a única opção que tem para sair do seu bairro adentra na minhoca de metal, vai disputando espaço e mal consegue chegar à roleta. Com a mochila nas mãos procura se segurar e uma senhora ao seu lado reclama que a frota de ônibus está sendo reduzida e os atrasos são frequentes. Por um instante, lembra das manifestações de junho de 2013. Sente na pele que três anos depois nenhuma política de transporte foi colocada em prática na região metropolitana e a lógica que vigora é a do monopólio empresarial.

Ao chegar ao ponto final da primeira etapa segue caminhando em direção à segunda condução do dia. Observa um grupo de pessoas lendo as capas de jornais penduradas nas bancas com as fotos da vitória do Flamengo. Fica imaginando o motivo pelo qual os jornais não deram ênfase para o debate com candidatos à prefeitura na noite passada. Talvez a foto da camisa 10 rubro-negra seja mais apelativa e contribua para aumentar as vendas dos jornais, afinal de contas, como diz o ditado: “o futebol é a alegria do povo”.

Encara a segunda condução do dia, as barcas. Cruza a roleta da estação Araribóia e a manada de pessoas, juntas e caminhando na mesma direção lembra  a cena clássica de cinema com trabalhadores se dirigindo as fábricas europeias no século XIX. Em 20 minutos está cruzando o centro do Rio de Janeiro em direção à estação Carioca do metrô. Mesmo pagando mais caro prefere fazer esse trajeto para evitar o trânsito caótico da Ponte Rio-Niterói.

Embarca no metrô e dentre 15 minutos está cruzando a rampa em direção à faculdade. Cruza o hall de entrada e mais uma vez a disputa pelo espaço entra no seu caminho, dessa vez no elevador. Finalmente entra na sala de aula atrasado alguns minutos e com a certeza de que amanhã vai enfrentar tudo de novo.

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