Artes visuais, literatura, música, dança, teatro, medicina, arquitetura, esporte, religião, política… A exposição Tarsila e Mulheres Modernas no Rio, que começou ontem (12) no Museu de Arte do Rio (MAR), celebra a atuação de grandes figuras femininas em todas as áreas. Fazem parte da mostra 200 peças, entre pinturas, fotografias, desenhos, gravuras, esculturas, instalações, documentos, material audiovisual e objetos pessoais.
Segundo um dos curadores da exposição, a intenção é mostrar a importância e o peso das mulheres nas mais diversas instâncias. “A mulher não contribuiu para a arte brasileira – constituiu-a, pois contribuição só sugere a adesão a um processo dirigido por homens. Ela deu chaves estéticas ao Brasil e, no Rio de Janeiro, impôs ações decisivas”, afirma Paulo Herkenhoff, curador da mostra ao lado de Hecilda Fadel, Nataraj Trinta e Marcelo Campos. “É a primeira vez que Tarsila é contextualizada para além do campo das artes, abordando também o período pelo qual o país passava, de lutas pelos direitos das mulheres que assumiam seu papel na sociedade, (e assumiam também) seus corpos e desejos”, comenta Campos.
Não é à toa que Tarsila do Amaral é o ponto de partida da exposição. Uma das figuras centrais da pintura e da primeira fase do movimento modernista brasileiro, Tarsila é representada na mostra por 25 pinturas e dez desenhos. Ela está ao lado de outros grandes nomes como Djanira, Maria Martins, Maria Helena Vieira da Silva, Anita Malfatti, Lygia Clark, Zélia Salgado e Lygia Pape.
Também ganham visibilidade as mulheres retratadas por Debret no século 19, em ilustrações que mostram o uso de muxarabis, uma espécie de treliça de madeira que ocultava a figura feminina nos lares. Por outro lado, a exposição relembra por meio de fotografias e recortes de jornais a luta feminina pela conquista do direito ao voto. O reconhecimento do trabalho das domésticas e o papel das mulheres na arquitetura carioca e na música também serão relembrados.
Peças mostram incursão de artistas mulheres nos night clubs do Rio de Janeiro, que na época eram considerados ambientes “predominantemente masculinos”. Músicas e outros documentos revivem a rica história de grandes divas do rádio, como Emilinha Borba e Marlene, e apresentam a primeira dançarina negra do Theatro Municipal, Mercedes Baptista.
Na literatura, Tarsila e Mulheres Modernas no Rio traz facetas menos conhecidas da escritora Clarice Lispector, com crônicas femininas escritas sob o pseudônimo Helen Palmer, pinturas e fotos de sua intimidade. Uma das raridades expostas é o manuscrito do livro O Quinze, de Raquel de Queiroz.
Também fazem parte da mostra a música de Chiquinha Gonzaga, a ousadia da dançarina Luz del Fuego, a história de Pagu, primeira presa política do país, Leila Diniz e os tabus que quebrou em plena ditadura militar, a ativista Gabriela Leite, criadora da grife Daspu, e a busca desesperada de Elizabeth Gomes da Silva pelo corpo de seu marido Amarildo, assassinado por policiais militares no Rio de Janeiro. Nesta exposição, arte e gênero andam de mãos dadas.
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