Por Walter Sebastião, do Divirta-se
Cinquenta e cinco mil e mais 337 livros, de todas as áreas do saber. Tudo isso você pode levar para casa por até quatro semanas. É o que oferece o setor de empréstimos da Biblioteca Publica Luiz de Bessa (BPLB), localizado no anexo da instituição, na Praça da Liberdade. E muita gente se vale do serviço. Leitores veteranos se sentem em casa no local e avisam: é lugar de experimentar o prazer da leitura. Jovens vão descobrindo o ponto de apoio para aprofundar o conhecimento de personagens, autores e histórias que descobrem na internet. E há quem, às voltas com monografias e mestrados, tem na biblioteca uma importante fonte de pesquisa. Detalhe: o mais procurado é a literatura.
A professora Araci Martins, de 69 anos, só concordou em dar entrevista se não fossem feitas fotos dela. “Faz perder o encanto. As pessoas julgam muito pela aparência”, justificou. Ela é de Sabará, frequenta bibliotecas e leva livros para casa desde adolescente – começou ficando com livros oferecidos por carros que passavam pelo bairro onde morava, incentivando a leitura. Gosta tanto que, depois de aposentada, fez curso de biblioteconomia. Mais: doou todos os livros que tinha. “Livro não foi feito para circular. Mas devemos dar os livros para quem gosta de ler”, ensina.
De 15 em 15 dias, Araci pega livros emprestados na Biblioteca Luiz de Bessa. “É mais prático”, garante, com um gesto indicando que é também mais barato. Ela já leu muita literatura estrangeira, hoje prefere os autores nacionais, livros de memórias e reportagens. Adorou ‘Minha razão de viver’, de Samuel Wainer. “Não tenho mais idade para a ficção, quero coisas mais concretas”, afirma. “Depoimentos de alguém que deixou coisas que valem a pena me dão a sensação de que estou em boa companhia. Somos seres sociais, precisamos trocar ideias”, continua. Leitura, para ela, é mais que ler textos. “Um agricultor, por exemplo, sabe ler as estações da natureza.”
Um grande prazer
“Sou leitor. Leitura para mim é pura e simplesmente prazer”, resume William César, comerciante aposentado, sócio da Biblioteca Luiz de Bessa há mais de 30 anos. “Livros ajudam a viver, é uma espécie de biombo entre nós e a realidade que, às vezes, é insuportável”, acrescenta, avisando que tal consideração não significa que procura fugir da realidade com a leitura. Ele não só pega dois livros emprestados por semana como vai à biblioteca para ler. “Não tenho preferência, leio de tudo. Contos, ensaios e poemas”, explica. Morador do Bairro Concórdia, segue de ônibus até a biblioteca, mas já houve tempo em que ia a pé.
“Ao emprestar livros para as pessoas, a biblioteca está lhes abrindo um novo mundo”, acredita William César. Universo, acrescenta, que é fascinante, como mostrou o escritor argentino Jorge Luis Borges. “Ler é uma delícia”, repete William. “Leiam de tudo: Julio Cortazar, Borges, Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa. Mesmo que não entendam, porque ao final da leitura sempre chegamos a alguma forma de entendimento do que lemos”, recomenda, levando para casa um volume de poemas de Manoel de Barros e um romance de Marguerite Yourcenar.
Juventude que lê
Foi a busca de bibliografia para uma monografia que levou Cássia Aveliz, de 23, estudante de artes e de design, ao setor de empréstimo da Biblioteca Luiz de Bessa. “Se tivesse que comprar tudo de que preciso não ia dar”, observa, Mas ela conta que o hábito de ir a bibliotecas existe desde antes das pesquisas. “Gosto de ler, a biblioteca tem boa variedade de títulos e é lugar muito agradável”, elogia. Considera a leitura extensão do gosto por artes em geral. O único problema, conta, é que ela mora longe, no Bairro Planalto. “Seria ótimo se tivéssemos uma boa biblioteca em cada região da cidade. Só meia dúzia de livros não vale”, ressalta.
Leandro e Alejandro Bessa, com respectivamente 15 e 14 anos, são primos. Foi a tia que, há um ano, providenciou as carteiras da biblioteca para eles. A dupla está adorando a novidade, que aproveitam com frequência, até porque moram na Rua da Bahia, pertinho da BPLB. Depois de ler ‘Poeira das estrelas’, de Marcelo Gleiser, Leandro foi pegar livro sobre Jack, o estripador, personagem que descobriu pela internet. Mas gosta mesmo de ciências, de textos ligados ao real, observa, contando que não tem empatia com livros, por exemplo, de mitologia. “Se estou sem ideia do que ler, é só vir à biblioteca e pesquisar que acho alguma coisa.”
Já Alejandro Bessa, depois de ler ‘Venha ver o pôr do sol’, de Lygia Fagundes Telles – e gostado (“faz pensar como todos temos coisas na vida que são parecidas”) –, pegou emprestado ‘O alquimista’, de Paulo Coelho, cuja sinopse descobriu na internet. Vai logo avisando que não gosta de coisas “muito abstratas”, sem sentido ou explicação. “Mesmo quando não falamos que estamos precisando de ajuda a bibliotecária sabe”, diz o adolescente, satisfeito com o atendimento. “Em muito livro, quase tudo”, surpreende-se.
Os mais emprestados
Adultos
“Cinquenta tons de cinza”, de E. L. James
“A menina que roubava livros”, de Markus Zusak
“Inferno”, de Dan Brown
“A cabana”, de Welliam Young
“A guerra dos tronos”, de George R. R. Martin
Infantojuvenis
“A turma da Mônica”, de Maurício de Souza
“Carrossel”, de Daniella Marcos
“Harry Porter e a pedra filosofal”, de J. K. Rowling
“Estrelas tortas”, de Walcyr Carrasco
“Viagem ao céu”, de Monteiro Lobato
Serviço
Para o empréstimo de livros é preciso ser cadastrado na BPLB. A carteira é feita na hora, sendo necessário apresentar identidade e comprovante de residência atual (que tenha passado pelo correio), além da taxa de R$ 3. Menores de 16 anos precisam de autorização dos pais. Localizada na Praça da Liberdade, 21, Funcionários, a biblioteca funciona às segundas, terças e quartas-feiras, das 8h às 18h; às quintas-feiras, das 8h às 20h (a sede principal até as 18h); e aos sábados, das 8h às 12h. Informações: (31) 3269-1230, 3269-1231 e 3269-1220.
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