Se um dos objetivos da “LER – Salão Carioca do Livro” era valorizar os espaços públicos da cidade do Rio de Janeiro, o propósito parece ter sido cumprido com êxito. Tanto nas atividades realizadas na Biblioteca-Parque Estadual (BPE), quando no Campo de Santana, o que se viu foi a grande participação, especialmente dos jovens, que foram a estes lugares aproveitar a intensa e rica programação finalizada hoje (24).
A exemplo do ano passado, a BPE abrigou várias atividades como “Café do Livro Sesc”, a “Esquina do Autor”, o “Salão SEBRAE de inovações”, além de oficinas, palestras e saraus. Mas estas atividades atravessaram a rua e chegaram até o Campo de Santana que recebeu a “Tenda dos Autores”, uma grande estrutura que abrigou diversos eventos, bem como o “BiblioSesc”, a barraca dos autores independentes e diversos espaços infantis.
“É importante que as pessoas entendam que a cultura e a leitura ocupam os espaços públicos e precisam estar nesse norte. [A LER] está com uma programação muito diversificada, com temáticas necessárias nessa sociedade contemporânea. E é muito legal a gente pensar que tem todo um processo de formação, que acontece agora na LER e na próxima semana também com educadores”, promete Volnei Canônica, um dos curadores do evento.
Uma das provas do sucesso do evento foi a quantidade de pessoas que passou pela LER nos cinco dias de programação: cerca de 185 mil segundo os organizadores, sendo 51 mil estudantes. Além disso, o evento reuniu 1.100 autores, 750 atividades em 30 palcos, bem como 125 editoras. Para se ter uma ideia, no passado foram cerca de 112 mil visitantes, 345 autores e 35 editoras e livrarias.
Além de valorizar os espaços públicos, a LER também busca valorizar jovens escritores e editoras independentes. É o caso da jovem escritora Janda Montenegro, que aproveitou o espaço proporcionado pelo evento para expor seus livros, que são focados em “romance romântico” e voltados em geral para leitoras que vão dos 16 aos 30 anos. “Eu tenho essa pegada mais brasileira, mais real, mais possível da realidade, não tão fantasiosa, porque eu sou muito apegado à realidade”, garante a escritora.
“O fato da LER está ocupando pelo segundo ano seguido o espaço da Biblioteca-Parque é fundamental, porque a própria Biblioteca tem uma trajetória de resistência, depois de ter fechado as portas [durante quase um ano]. Tem a importância de ocupar este espaço público, no coração do Centro da cidade. E também tem a importância de ser mais um evento literário, que é gratuito, num local que é central na cidade, de fácil acesso”, explica Janda que já publicou cinco livros.
Para Amélia Seba, da Editora Piraporiando, editoras como a que ela trabalha se abastecem de eventos com a LER, que proporciona uma troca direta com o público. A Piraporiando é uma editora de arte e educação focada na diversidade em que as histórias dos seus livros são voltadas à assuntos antirracistas, antipreconceito e antibullying. “É uma editora onde os livros têm uma característica através do afeto”, explica Amélia.
“Nós somos uma editora de uma escritora só. Então a Janine Rodrigues, que foi ambientalista durante muito tempo […], ela lançou esse primeiro livro, que foi o ‘Reino de Pirapora’, pelo amor mesmo, e ele teve muito sucesso, por ter uma ótica diferente, ele é um livro que conta a história da solidão de quem pratica o bullying. Ai ele [o livro] teve uma adesão, e ela [a escritora] viu que podia fazer disso um trabalho”, garante Amélia.
“A gente está num momento muito difícil em que o Estado está se ausentando como fomentador da cultura e da educação nesse país. Então, eventos como a LER, e todos os eventos literários e educacionais, têm passado por muitas dificuldades, não só pela falta de apoio financeiro, mas também de apoio institucional, de entender e compreender isso como algo fundamental para a sociedade”, explica Volnei.
“Mesmo com as dificuldades, a gente precisa entender que as coisas precisam acontecer, e a LER uniu todos os esforços, os artistas estão aqui apoiando esse evento, para que a gente possa mostrar para a sociedade, e também pro Estado, que a gente não vai se ausentar do nosso dever como cidadão, o nosso dever como fomentadores da cultura e também o nosso dever de brigar, no bom sentido, para que eles possam fazer a ação que eles têm que fazer”, diz o curador.
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