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Roger Chartier

RIO – Em passagem recente pelo Brasil, o historiador francês e um dos principais teóricos da leitura na atualidade, Roger Chartier, proferiu palestras, dentre as quais a do segundo Encontro de Bibliotecas Escolares (SESC). Na ocasião tivemos a oportunidade de fazer estas breves perguntas ao simpático intelectual.

Chico de Paula: Eu gostaria de fazer uma pergunta mais de cunho pessoal. Os livros já estavam presentes em sua vida desde a infância?

Roger Chartier: Não gosto muito das perguntas autobiográficas porque nunca damos uma resposta sincera. Este tipo de pergunta se refere a reconstrução imaginária ou desejada do que foi. Me parece muito perigoso perguntar isso porque vamos construir uma reposta para dar uma imagem de si mesmo, seja para você, seja para eles depois, levando a criar uma história fabulosa que sempre havia lido, sempre estava com os livros. De fato não sabemos, não lembramos como reconstruir. Então não sei. Ler livros e ir a escola como crianças. Me parece com que se tem, não podemos fazer isso agora. Numa pesquisa sobre esse tipo de pergunta a primeira coisa é de não acreditar na verdade da resposta e tentar compreender porque nós construímos de si mesmo uma representação através da referência aos livros que vai permitir dar sentido ao passado e dar uma imagem frente a uma entrevista. Então me parece uma resposta mais sutil do que contar a minha própria infância.

C. P.: O senhor tem construído uma relação muito forte com o Brasil, não é?

R. C.: Sim! A partir de 1994 fui convidado para várias situações. Mas como sou historiador da cultura escrita, do livro e da leitura, o Brasil é um campo de pesquisa que tem uma dimensão única. Se compreende a relação do problema de alfabetização e letramento, se compreende porque as faculdades de educação também estão desenvolvendo pesquisas, que são de ciências humanas e sociais. O Brasil é o único país que possui uma associação de história da leitura. Então a concordância própria com esses interesses e o mundo acadêmico que enfatiza o problema da leitura, leitores, dos livros por razões objetivas tem criado essa multiplicação de convites. É único porque também sou historiador. Mas uma relação com o número de convites é poder entrar um pouco mais na cultura, no pensamento e tentar aprender um pouco mais do português. Penso uma relação objetiva entre o meu trabalho e o mundo acadêmico recíproco do Brasil.

C. P.: Em relação as diferentes práticas de leituras que o senhor tem observado em suas viagens, o que o senhor pode destacar?

R. C.: Em primeiro lugar, a diferença seria uma questão ainda existente: o analfabetismo. Uma segunda diferença seria a preocupação para a leitura. Aqui no Brasil existe uma preocupação toda de uma vez: o pedagógico, o político, o cívico, o social para a leitura. A consequência é um diagnóstico um pouco sombrio ou negativo. Vejo que existem bibliotecas escolares municipais; uma produção editorial imensa com feiras de livros de editoras independentes. Me parece que são mais numerosas no Rio de Janeiro do que em Paris. Então existe uma atenção e uma obsessão para a leitura que compreendo e compartilho ao mesmo tempo em que pode algumas vezes esconder uma realidade objetiva. Não seria tanto comum acreditarmos que ler é uma maneira de transformar a sociedade – o ser, o individuo -, mas não particularmente salvo o problema, um paradoxo. Um dos problemas mais fortes no Brasil é o analfabetismo. Mas para a sociedade alfabetizada as práticas de leitura, o acesso possível a leitura são mais fortes do que em muitos países europeus.

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