Na verdade, penso que foi a Biblioteconomia, pois, aos poucos, me descobrindo desde a infância, percebi que gostava muito de livros e de pesquisar. Em 2004, na minha segunda tentativa no vestibular, uma pessoa me recomendou o curso, pois ela era uma bibliotecária satisfeita com a área. Então fui pesquisar no caderno de vestibular da Universidade Federal Fluminense (UFF), em vários sites e no currículo do curso.
Na época, achei muito interessante, pois não era um curso totalmente da área de humanas, sendo bem diversificado em disciplinas: Línguas, História da arte, Estatística, Sociologia, além das disciplinas específicas (fiz a graduação antes da reformulação curricular que ocorreu em 2007).
Como moro no município de São Gonçalo/RJ, onde há uma carência na área da cultura, já que não temos teatros, bibliotecas municipais e museus e somando ao fato de que nas escolas que estudei não tinha verdadeiramente uma biblioteca (apenas uma estante com livros desatualizados), digo que foi em casa que eu e minha irmã aprendemos o valor do livro e da cultura com os nossos pais.
Nós sempre gostamos de livros e tínhamos muito cuidado com eles. Ainda no período da escola, aprendi com a minha mãe a fazer pesquisas para trabalhinhos escolares, já no formato de um trabalho mais acadêmico, com introdução, desenvolvimento, conclusão e referências bibliográficas.
Pesquisando sobre o curso de Biblioteconomia, vi que, além de livros, eu trabalharia com informática e colaboraria com pesquisas, sempre aprendendo algo novo. Optei pelo curso no vestibular 2004, onde passei para UFF no primeiro semestre ficando entre os primeiros colocados.
Posso dizer que sou uma profissional satisfeita e apaixonada pela área da informação. Primeiramente, gostei muito de ter estudado na UFF, pelos ensinamentos transmitidos pelos professores, acadêmicos com muita experiência e com muita competência, e pela turma que estudei, onde fiz algumas amizades, pois eram pessoas empenhadas em aprender.
Segundo pelos estágios que tive a oportunidade de fazer, pois pude colocar em prática os ensinamentos obtidos na universidade, aprendendo muito neles também. Comecei na Biblioteca Estadual de Niterói (antes da sua reforma atual) como voluntária e fiquei por pouco tempo lá. Lembro com saudades desta época e dos profissionais que conheci.
Estagiei no Ministério do Planejamento-RJ, no Detran-RJ, na Biblioteca de Medicina da UFF, na Biblioteca da Procuradoria Regional da República – 2ª região (PRR2) e na Biblioteca Paulo Santos do Museu Paço Imperial. No primeiro e no segundo estágio, aprendi a higienizar, a conservar e a preservar documentos. Nos outros três seguintes, além do atendimento ao usuário e da guarda da coleção, aprendi o processamento técnico dos livros e de sua catalogação nas bases de dados: Argonauta, Pergamum e PHL, respectivamente.
Nos estágios também pude conhecer um pouco de cada área através dos acervos, como Medicina, Direito, Arte, História etc. Eu me formei em 2008 e para a obtenção do título de graduação, desenvolvi a seguinte pesquisa Charge: imagem e informação, sob a orientação da professora Nanci Gonçalves da Nóbrega. Neste mesmo ano, me inscrevi para a primeira turma do curso de ensino à distância em Empreendedorismo e Inovação, parceria da UFF com a Universidade Aberta do Brasil (UAB), com carga horária de 270h, pois acreditava que com este curso ficaria com uma formação mais completa.
Neste curso tive contato com alunos de diversas áreas como Engenharia, Comunicação, Turismo, entre outros, onde pude ampliar ainda mais a minha visão de mundo.
A partir da conclusão da graduação em Biblioteconomia, fiz alguns concursos, entre eles o da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde fui trabalhar (2009) e permaneço até hoje (2015). Como concursada da UFRJ, trabalhei em uma das 44 bibliotecas vinculadas ao Sistema de Biblioteca e Informação (SIBI), mais exatamente na Biblioteca Alberto Nepomuceno (Escola de Música/UFRJ), que se localiza na Rua do Passeio, Lapa (RJ). Lá, eu era responsável pelo setor de periódicos, onde inventariei e cataloguei no Sistema Aleph, quase toda a coleção deste setor na Base Minerva/UFRJ (www.minerva.ufrj.br). Isto permitiu que o setor ganhasse vida, pois os alunos encontravam o que desejavam.
Em 2010, tive a oportunidade de cursar a pós graduação em latu sensu em Política de Informação e Organização do Conhecimento pela UFRJ em convênio com o Arquivo Nacional (AN) com carga horária total de 420 horas.
Em 2011, fui trabalhar no Museu Nacional/UFRJ, mais especificamente na Seção de Memória e Arquivo (SEMEAR), ou Antigo Arquivo Histórico, localizado na Quinta da Boa Vista, no Bairro Imperial de São Cristóvão (RJ). Para concluir a especialização, desenvolvi a pesquisa na SEMEAR/MN/UFRJ com o título As instituições e o desafio de preservação da memória oral: o Fundo Lygia Sigaud na Seção Memória e Arquivo (SEMEAR) do Museu Nacional/UFRJ, sob a orientação do professor Antonio Jose Barbosa de Oliveira. A banca avaliadora atribuiu o conceito “A” para o trabalho, salientando a qualidade, a relevância do tema e a contribuição para a instituição.
O acervo da SEMEAR é rico em espécies documentais de fontes primárias, isto é, inéditas que retratam a história da instituição e das ciências naturais e antropológicas no Brasil, desde documentos administrativos com a criação do museu, em 1818, a documentos privados de importantes cientistas que tiveram vínculos com a mesma, como da antropóloga Lygia Sigaud (1946-2009), do sanitarista e infectologista Adolpho Lutz (1855-1940), da naturalista, botânica e zoologa Bertha Lutz (1894-1976) e do médico e antropologo, conhecido pelo pioneirismo da radiodifusão no Brasil, Edgar Roquette-Pinto (1884-1954). Mais informações em: http://www.museunacional.ufrj.br/o-museu/arquivo-historico.
Ao entrar na SEMEAR, fiz uma pesquisa para conhecer o público alvo. Com o levantamento nos formulários de pesquisas dos anos de 2009 a 2011, constatei que a maioria dos usuários era profissional/aluno de mestrado e/ou doutorado em busca de pesquisas inéditas.
A SEMEAR é composta por uma equipe multidisciplinar (arquivistas, bibliotecários, historiadores, pedagogos e estagiários do Ensino Médio, alunos do 2 º e 3º ano do Colégio Pedro II e da graduação em Biblioteconomia e História, ambos da UFRJ), onde há trabalhos de extensão com os mesmos.
Atuo como orientadora e supervisora destes no Projeto de Preservação do Arquivo Histórico do Museu Nacional: Contribuição ao resgate da memória científica e cultural da instituição. Este projeto é coordenado pela professora Maria das Graças Freitas Souza Filho, responsável pelo setor e professora do Curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação da UFRJ (CBG/FACC/UFRJ), onde venho atuando como vice-coordenadora ao lado desta.
Quanto ao processamento técnico, venho realizando este trabalho no Fundo Lygia Sigaud ao lado de um arquivista e estagiários. A professora Lygia Sigaud foi uma importante antropóloga do Programa de Pós Graduação em Antropologia Social (PPGAS/MN/UFRJ) de renome internacional por suas pesquisas com trabalhadores rurais de Pernambuco, principalmente, os sem terra.
Em 2012, fui responsável por catalogar algumas Peças Tridimensionais da Coleção da Diretoria que pertencem ao Fundo Artístico Histórico do Museu Nacional: Bens Móveis. Ao todo foram catalogados 45 itens na base de dados Minerva/UFRJ.
Atuar como bibliotecária assim como qualquer profissional, tem suas vantagens e desvantagens. Vejo com satisfação, quando um usuário/pesquisador encontra algo que tanto deseja ou que nem esperava encontrar. A satisfação do bom atendimento, apesar das dificuldades que encontramos nas universidades, como a falta de verba para compra de materiais básicos, além dos recursos tecnológicos e pessoais, que ainda são poucos devido à demanda do acervo e do público em si, é uma realidade bastante comum em diversas instituições brasileiras.
Desde 2014, venho colaborando com a Revista Biblioo Cultura Informação, onde tento trazer um pouco da minha visão sobre cultura e informação. Atualmente, estou com o blog Entre Palavras e Tintas, onde apresento o meu hobby/terapia de pintar quadrinhos e destaco os textos que escrevo para a Biblioo.
Por ter trabalhado em lugares tão diferentes (arquivo, biblioteca e arquivo e biblioteca de museus), desde a época do estágio até hoje, digo que tenho experiência na área de Ciência da Informação, com ênfase em Biblioteconomia e em Arquivologia. Durante a graduação, aprendi o quanto é enriquecedor a participação em eventos acadêmicos por vários motivos: para aprender, se atualizar, para apresentar trabalhos e para fazer networking.
Na SEMEAR/MN/UFRJ, já apresentei alguns trabalhos em eventos acadêmicos e fui orientadora de outros. Participar de eventos é muito prazeroso, pois revemos professores, profissionais e amigos de profissão onde trocamos informações e nos atualizamos.
Como profissional, bibliotecária universitária, gostaria de dizer aos futuros alunos que não escolham o curso como segunda ou terceira opção no Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM), pois como disse Confúcio (551 a.C. – 479 a.C., pensador e filósofo chinês): “Trabalhe com aquilo que gosta e não terá que trabalhar um dia sequer na vida”, pois dessa forma vocês terão prazer em estudar e em trabalhar na área da informação.
E aos formados, dizer que não devemos esquecer as Cinco Leis da Biblioteconomia de Ranganathan (1892-1972): “os livros são escritos para serem lidos; todo leitor tem seu livro; todo livro tem seu leitor; poupe o tempo do leitor; e uma biblioteca é um organismo em crescimento”.
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