Por Fábio Prikladnicki, do ZH Entretenimento.
Sentada em uma poltrona sobre o piso restaurado do casarão da Rua Riachuelo, 1.190, [Centro Histórico, Porto Alegre – RS], Morgana Marcon desabafa:
– É muito bom voltar para casa. Não são apenas os frequentadores que têm uma relação de pertencimento com este prédio. Os funcionários também estão radiantes.
A diretora da Biblioteca Pública do Estado [do Rio Grande do Sul] desde 2003 comemora a volta do atendimento ao público na antiga sede depois de oito anos operando na Casa de Cultura Mario Quintana. Para lá havia sido deslocado, temporariamente, um acervo de 40 mil títulos, que cresceu para cerca de 60 mil, todos já de volta ao prédio histórico construído entre 1912 e 1922. Nesse meio-tempo, o casarão da Riachuelo esteve aberto ao público exclusivamente para atividades culturais (como saraus e recitais) e visitações pontuais. O retorno do atendimento será a partir desta terça-feira, às 9h.
Os frequentadores encontrarão uma Biblioteca Pública parcialmente restaurada – as obras foram o motivo da temporada fora de casa. Alguns aspectos serão visíveis, como os pisos dos três andares e as aberturas com vidros coloridos. Outras melhorias ficam fora do alcance dos olhos, como os entrepisos (a parte que fica abaixo da superfície), agora resistentes à ação de cupins, e a instalação de tubulações que incluem a renovação da parte elétrica e o preparo para a instalação de sistema de ar-condicionado. Outra novidade é a disponibilidade de wi-fi para os usuários. Segundo Morgana, a demora da reabertura se deveu à dificuldade de captação de verba, aos trâmites burocráticos do Ministério da Cultura, à necessidade de aprovação dos órgãos de patrimônio histórico (o prédio é tombado em nível estadual e federal) e ao cuidado requerido pelo trabalho de restauro, que deve respeitar as características históricas dos elementos.
A obra foi financiada com R$ 2,55 milhões do BNDES, obtidos por meio da Lei Rouanet, além de uma complementação no valor de R$ 65 mil do Sinduscon-RS. O trabalho de recuperação havia começado em 2007, com verba de R$ 465 mil do Programa Monumenta, que serviu apenas para problemas emergenciais. Mas o trabalho ainda está longe de terminar. Na verdade, agora vem a parte mais cara. Um outro projeto aprovado no final de 2012 pela Lei Rouanet autoriza a captação de R$ 8,97 milhões para a instalação de climatização, restauro de lustres, mobiliários e ornamentos e adequações de acessibilidade, entre outros itens. As pinturas murais que adornam internamente o casarão também devem ser recuperadas futuramente. O secretário de Estado da Cultura Victor Hugo, que assumiu o cargo no início de 2015, afirma:
– Quero chamar a comunidade empresarial (para investir), porque temos o projeto aprovado. Sei que o país vive um desaquecimento econômico e sei que os patrocínios não estão fáceis, mas vamos para frente.
Durante a temporada na Casa de Cultura, a procura dos usuários caiu para um terço da média de atendimentos diários registrada antes da mudança, conforme Morgana. A expectativa é que o público agora volte a frequentar com intensidade a Biblioteca, que tem cerca de 8 mil sócios ativos. Eles pagam uma anuidade simbólica de R$ 5 para acessar um acervo de 250 mil títulos. Mas a última compra de livros com recursos do governo do Estado foi em 2006. O acervo tem crescido com exemplares recebidos como contrapartida de leis de incentivo ou por meio de parcerias com editoras locais, comprados pela associação de amigos da Biblioteca e doados por pessoas físicas.
Em 2013, um artigo do poeta e crítico Armindo Trevisan publicado em Zero Hora discutia a necessidade de uma nova sede para a Biblioteca. Ainda naquele ano, dezenas de pessoas realizaram um abraço simbólico no prédio em defesa da causa, que tem simpatia da direção da instituição. Uma segunda sede garantiria a expansão do acervo e a implantação de novos serviços.
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