Por Xandra Stefanel da Rede Brasil Atual
Muito antes de a escritora feminista Simone de Beauvoir escrever que “ninguém nasce mulher, torna-se” no clássico O Segundo Sexo (1949), a autora inglesa Mary Wollstonecraft lançava, em 1792, o livro Reivindicação dos Direitos das Mulheres, obra considerada como um dos documentos fundadores do movimento feminista. Publicado em um contexto histórico muito diferente do atual, o livro se mantém importante já que, mesmo passados quase 225 anos, a luta pela equidade de gênero ainda está longe de ser vencida.
No Brasil, o livro acaba de ganhar, pela Boitempo Editorial, uma edição comentada, cujo lançamento contará com debates e roda de bate-papo em São Paulo e no Rio de Janeiro. Na capital paulista, o evento no dia 18 de abril conta com debate com presença da socióloga, Maria Lygia Quartim de Moraes, da escritora Rosane Borges e da ativista Diana Assunção. No dia 2 de maio, no Rio, o lançamento reúne a professora Adriana Facina, a jornalista Lola Ferreira, a historiadora Rejane Carolina Hoeveler e a escritora Daniela Lima.
Reivindicação dos Direitos das Mulheres foi escrito como uma resposta à então recém-lançada Constituição Francesa, que não incluía as mulheres na categoria de cidadãs. Mary denuncia a exclusão das pessoas do sexo feminino ao acesso aos direitos básicos no século 18, em especial o direito à educação formal. “É hora de efetuar uma revolução nos modos das mulheres – hora de devolver-lhes a dignidade perdida – e fazê-las, como parte da espécie humana, trabalhar reformando a si mesmas para reformar o mundo”, afirma a autora.
Mary Wollstonecraft não só questionava o discurso dominante no que se referia às mulheres, mas também à raça. Ao lado da feminista francesa Olympe de Gouges, ela militou como abolicionista e, na vida pessoal, travou duras batalhas contra a moral sexista e conservadora da época por ter se separado do marido e ter sido mãe solteira. “É um feminismo que se opõe à escravidão dos africanos e indígenas e à escravidão doméstica. Ambas viveram tempos históricos em que a mulher estava excluída da educação formal, das universidades e das possibilidades de uma carreira de nível superior. E em que o casamento a transformava numa dependente legal do marido, que não podia gerir os próprios bens nem trabalhar sem consentimento”, escreve a professora e socióloga Maria Lygia Quartim de Moraes no prefácio do livro.
Segundo Maria Lygia, Mary e Olympe militavam em prol da cidadania plena para todos. “Essas duas feministas europeias inauguraram a idade do feminismo como movimento social que emergiu juntamente com os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Um feminismo que defendia a República laica e a cidadania plena para todos. Um feminismo como movimento de radicalização da democracia. E, para além da esfera dos discursos, um feminismo de sujeitos do próprio desejo, de superação da dependência financeira”.
Para Diana Assunção, resgatar a obra de Mary Wollstonecraft é muito importante para os movimentos feministas da atualidade: “Para dar continuidade à obra de Mary Wollstonecraft, hoje o protesto feminista precisa ser também anticapitalista e se ligar à classe trabalhadora, a classe revolucionária da nossa época. É um grande acerto a Boitempo Editorial resgatar essa voz contra a cruel opressão cotidiana, uma voz que continua viva em milhões de mulheres – meninas, negras, indígenas e imigrantes em todo o mundo”, escreve a ativista na orelha da obra.
Em declaração à TV Boitempo, Maria Lygia afirma que Reivindicação dos Direitos das Mulheres mantém-se atual porque ele “trata exatamente dos temas que ainda hoje permanecem importantes para as mulheres”. Confira a entrevista completa:
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