O advento da eletricidade abriu caminho para o desenvolvimento do país e propiciou uma série de avanços que beneficiam a sociedade até os dias atuais. Com intuito de preservar e pesquisar a memória do setor elétrico, em 1986 foi criado o Centro da Memória da Eletricidade no Brasil. Localizado na Avenida Presidente Vargas, 409, 13º andar, no Centro do Rio de Janeiro, a Memória da Eletricidade, em mais de três décadas de atividades, publicou mais de 100 livros, dentre eles, “Energia elétrica e urbanização na cidade do Rio de Janeiro”. Lançado em março de 2017, a obra foi uma das atrações apresentadas durante a primeira participação da Memória da Eletricidade na 15ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty.
O Centro da Memória possui um acervo histórico formado por documentos arquivísticos de natureza pessoal, institucional, com mais de 500 horas de gravações de depoimentos de história oral, fotografias, documentos bibliográficos sobre energia elétrica, política, história, economia e documentos tridimensionais. A Memória da Eletricidade também é responsável pela organização da Biblioteca Léo Amaral Penna, que conta com acervo de cerca de 12.300 exemplares entre títulos de livros, periódicos, entre outros.
Nos dias 25 e 26 de setembro, a Memória da Eletricidade vai promover a quinta edição do Preserva.ME – Encontro Internacional de Preservação e Memória. Com temática voltada para levantar questões a respeito da “Preservação de Acervos na Era Digital”, o Preserva.ME vai reunir pesquisadores e profissionais de diversas áreas no Museu de Arte do Rio.
Nesta entrevista concedida à Biblioo, Amanda Carvalho, gerente de acervo e pesquisa da Memória da Eletricidade revela como será a programação da quinta edição do Preserva.ME e apresenta as principais atividades e serviços desenvolvidos pelo Centro da Memória.
O que vem a ser o Centro da Memória da Eletricidade no Brasil?
O Centro da Memória da Eletricidade no Brasil foi criado em 1986 por iniciativa das empresas do setor de energia elétrica para auxiliá-las no resgate e organização de sua história. Nesse período, prestamos assessorias e consultorias para o desenvolvimento de projetos de preservação de memória, como a criação de centros culturais, gestão documental e elaboração de publicações e exposições temáticas. Publicamos mais de 100 livros, entre os projetos desenvolvidos para empresas e aqueles sobre tópicos de interesse e estudo na nossa instituição, como o último “Energia elétrica e urbanização na cidade do Rio de Janeiro”, que examina as relações entre o desenvolvimento do tecido urbano e a chegada e implantação da eletricidade na antiga capital federal.
Na condução das pesquisas históricas para esses projetos, principalmente com o programa de história oral, começamos a receber doações de acervos contendo documentações institucionais e arquivos pessoais, e, com o passar do tempo, constituímos um acervo considerável a respeito do setor de eletricidade no país, com mais de 38 mil documentos textuais e 17 mil documentos iconográficos.
Temos também no acervo uma parcela pequena de objetos tridimensionais, com medalhas, capacetes, quadros e uma série de aquarelas que retratam usinas elétricas de autoria de Mário Bhering, ex-presidente da Eletrobras e fundador da Memória da Eletricidade. Além do acervo arquivístico, mantemos a Biblioteca Léo Amaral Penna, que é composta por aproximadamente 12 mil livros e periódicos relacionados ao setor de energia e assuntos afins. É uma biblioteca especializada, que conta com acervos históricos que auxiliam pesquisadores internos e externos.
Então hoje a nossa atuação se dá pela criação e consultoria em projetos de preservação histórica e memória institucional para outras empresas, mas também pela pesquisa, conservação e difusão do acervo sob nossa guarda.
Quais são as principais atividades e projetos desenvolvidos pela Memória da Eletricidade?
A instituição trabalha em um tripé que compreende consultoria e prestação de serviços em projetos de memória empresarial, pesquisa, gestão e organização de acervos e curadoria de exposições. A Memória da Eletricidade está incorporando ainda mais a tecnologia nos projetos de gestão da memória, informação e conhecimento. A temática do Preserva.ME 2019 nasceu desse movimento da instituição e procurou incluir os principais desafios que vemos em projetos de preservação histórica alinhados à essa nova dinâmica da era da informação.
A expansão da atuação da Memória da Eletricidade para além do setor de energia elétrica é, de certa forma, reflexo da compreensão do valor da história como ativo institucional. Temos percebido um interesse maior das empresas pela organização de sua memória institucional, com foco na acessibilidade e segurança documental e valorização corporativa.
Ainda sob o viés tecnológico, estamos desenvolvendo projetos que apresentem a narrativa histórica para além dos livros, com abordagens mais imersivas e dinâmicas. Acreditamos que a preservação da história está justamente na difusão da informação e a tecnologia está nos ajudando nisso.
O Preserva.ME está chegando à sua quinta edição. Quais são as perspectivas e principais atrações da programação?
O Preseva.ME surgiu em 2014 muito focado nos profissionais ligados à preservação histórica no setor de energia elétrica, como arquivistas e bibliotecários. Em cada edição, centrávamos as discussões em uma área específica. Já em 2019, pensamos a programação de forma mais integrada, entendendo que a preservação de acervos em ambientes digitais permeia qualquer tipo de documento e está na realidade De todos os profissionais da informação. A ideia é provocar debates sobre as oportunidades e desafios contidos em iniciativas de preservação digital. Na programação, há tanto a preservação digital da perspectiva da digitalização de acervos físicos, como também a preservação de documentos natos digitais, que já nascem nesses ambientes.
Uma grande novidade dessa edição do Preserva.ME será a transmissão ao vivo, pela página do Facebook da Memória da Eletricidade, de todos os espaços da programação. Isso faz todo o sentido já que estamos falando da era digital e é uma oportunidade para aqueles que não conseguiram se inscrever a tempo para o evento ou moram fora do Rio de Janeiro.
Na programação, procuramos incluir os tópicos que dialogam em diversas frentes da preservação digital. Então há tanto um debate sobre o que fazer antes de digitalizar, passando por políticas para documentos arquivísticos digitais e pelo direito autoral em ambientes digitais, até a digitalização de grandes coleções. Uma questão que também vai ser abordada é a destruição dos documentos originais após a sua digitalização, proposta no PL 7920/2017. O painel será apresentado pela Beatriz Kushnir, diretora do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ), e promete trazer reflexões interessantes.
Um dos nossos objetivos com o Preserva.ME é estimular a circulação das informações que estão sendo construídas no interior da academia, congregando pessoas do setor elétrico, das universidades e demais instituições de preservação. Pretendemos ainda lançar no Preserva.ME deste ano o novo Guia de Arquivos Pessoais, que é uma importante ferramenta de difusão do nosso acervo histórico.
Como você avalia a importância das instituições de memória e da preservação digital para garantia e salvaguarda do direito de acesso à memória?
É imprescindível. Não podemos pensar na história sem levar em consideração os lugares de memória. Por mais que esses espaços se modifiquem com o passar do tempo, sem preservá-los, não conseguiremos avançar. A reflexão de que é a partir do passado que compreendemos o presente e projetamos um futuro melhor serve para o setor elétrico, que é um ponto-chave do desenvolvimento do país, mas também para toda a sociedade.
Neste sentido, estamos trabalhando em uma série de projetos de resgate da história institucional, que tem se apresentado como uma importante ferramenta de gestão e estratégia. Assim, espaços de memória como centros de documentação, bibliotecas, arquivos e museus são imprescindíveis, e constituem a alma da construção de políticas de memória, gerando valor para a instituição e para sociedade como um todo, uma vez que a história do setor elétrico, por exemplo, é a de pessoas, do desenvolvimento da sociedade e do país.
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