Por Carta Capital.
Uma cópia de cada manuscrito existente na face da Terra – nada menos do que isso, a síntese de todo o conhecimento humano, pretendia a Biblioteca de Alexandria, fundada no início do século III antes de Cristo pela dinastia ptolomaica do Egito, de origem helênica. Os 700 mil rolos de papiro e pergaminhos, com obras capitais da Antiguidade (do matemático Euclides, dos astrônomos Ptolomeu e Aristarco de Samos, do médico Galeno), fizeram dela a maior biblioteca de seu tempo até o dia em que um incêndio enigmático – do qual não se sabe sequer a data exata – a consumiu.
Em 2002, uma nova Biblioteca de Alexandria brotou nessa cidade-encruzilhada do Mediterrâneo, com design dos noruegueses do Studio Snohetta e robusto financiamento da Unesco. Seus 4 milhões de livros (entre eles, 10 mil raridades) acentuam o valor sentimental de um resgate histórico, embora seu acervo não se compare ao gigantismo da Biblioteca do Congresso de Washington (18 milhões de volumes) ou da Biblioteca Nacional da França, em Paris (12 milhões).
No Rio, a imponência em estilo neomanuelino do Real Gabinete Português de Leitura confere à biblioteca, projetada pelo arquiteto lisboeta Rafael da Silva Castro, financiada pelos comerciantes luso-cariocas e inaugurada, após peripécias financeiras e minúcias de acabamento, em 1888, com direito a palestra do escritor Ramalho Ortigão, um lugar cativo entre as bibliotecas mais deslumbrantes do mundo. Fica, não por acaso, na Rua Luís de Camões, no centro histórico do Rio.
A despeito da morte anunciada do livro, em seu formato tradicional, bibliotecas de traçado ousado e dimensões ambiciosas continuam brotando, agregando-se ao tradicional patrimônio de sabedoria repousante propiciada por relíquias arquitetônicas, tais como aquelas que fabulava Jorge Luis Borges, bibliófilo fanático, em sequências de hexágonos perfeitos.
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