Participar de eventos para profissionais da nossa área é sempre uma experiência enriquecedora. Conhecemos pessoas, às vezes confirmamos que estamos na direção certa, às vezes fazemos alterações no percurso. Nunca saímos os mesmos desses encontros.
Em junho participei da Next Library 2017, que é um encontro internacional de profissionais de biblioteconomia, inovadores e tomadores de decisão que estão ampliando as fronteiras da área e fazendo mudanças que apoiam o aprendizado no século XXI. Criada pelas bibliotecas públicas da Dinamarca, a finalidade do evento é olhar para frente e explorar a natureza em constante evolução da biblioteca pública no século XXI. Uau! Foi uma experiência incrível!
Para começar, o evento aconteceu na Dokk1, na pequena e encantadora Aarhus (Dinamarca), simplesmente a melhor biblioteca pública do mundo, de acordo com a IFLA, em seleção de 2016. A Dokk1 é a biblioteca dos nossos sonhos. Ela consegue integrar espaço, acervo e pessoas de uma forma única. Não dá para não se sentir à vontade e estimulado entre suas paredes.
A biblioteca nasceu de um projeto de revitalização da área portuária da cidade e seu planejamento, desde o início, contou com a participação dos cidadãos, ou seja, de quem iria realmente fazer uso do espaço. Ela é ampla, convidativa, moderna, bonita. Espetacular! É a concretização do desejo de uma comunidade.
E foi neste espaço incrível que profissionais da área de biblioteconomia e afins se reuniram para discutir a biblioteca pública de hoje e seu futuro. Foram quatro dias de discussões e apresentação de experiências. Tive a oportunidade de integrar um grupo muito especial de profissionais e, juntos, apresentamos a sessão interativa “Listening to create”. O grupo foi formado por Marnie Webb e Richard Abisla, da Caravan Studios (San Francisco, USA), Daniela Greeb e Vanessa Labigalini, do Instituto de Políticas Relacionais (São Paulo, BR) e eu.
Juntos apresentamos metodologias de participação em projetos desenvolvidos em bibliotecas públicas. Pudemos compartilhar nossa experiência de uso de técnicas de Design Thinking e Psicodrama para ouvir nossas comunidades a fim de desenvolver projetos significativos em nossas bibliotecas públicas. Aproveito para agradecer à todos pela oportunidade única, e em especial à Caravan Studios e Fundação Bill e Melinda Gates que subsidiaram minha participação.
Em meio a tanta informação, muita tecnologia, orçamentos fora da realidade brasileira, organização impecável, profissionais reconhecidos internacionalmente e muitas interjeições “UAU!”, o maior aprendizado que tive na Next Library não é novo, surpreendentemente. Há algum tempo venho pensando e trabalhando na questão da integração comunidade/biblioteca. E, após viajar meio mundo, tenho a confirmação de que este é o único caminho para as bibliotecas públicas.
Se nós, bibliotecários, não pararmos de pressupor o que nossos leitores querem e realmente escutarmos suas necessidades e anseios, estaremos fadados ao fracasso. Bibliotecas continuarão a ser fechadas. As bibliotecas públicas podem ser incríveis, mesmo sem o orçamento bilionário da Dokk1. Elas podem ser espaços de encontros transculturais. E não há limites para seu potencial, ou melhor, o limite é o desejo de sua comunidade de leitores.
Enfim, a biblioteca pública pode ser o terceiro lugar, para além da casa e do trabalho. É um espaço em que podemos ter acesso não só à literatura e à memória, mas também a muitas expressões artísticas, como a música, o teatro, o cinema, a narração de histórias tradicionais, os quadrinhos e tudo o mais que fizer parte da nossa cultura. É o espaço para vivenciarmos a nossa humanidade. A biblioteca pública pode ser múltipla, assim como os seres humanos.
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