Quando a família real por aqui aportou com sua gigantesca comitiva, o Brasil parecia uma colônia, com ares de metrópole, devido à riqueza que algumas cidades ostentavam, como o Rio de Janeiro, por exemplo. A Corte mudou de lugar, mudou de continente, mudou de país. A eminência da chegada das tropas napoleônicas à Lisboa, fez com que o monarca e toda a sorte de pessoas e aparatos estatais, cruzassem o Atlântico em busca de paz e tranquilidade na extensão de terra pertencente à Coroa portuguesa mais lucrativa que se tinha notícia. Não demorou muito até os portugueses – seguindo ordens reais -, transformarem o Rio de Janeiro numa metrópole europeia nos trópicos tupiniquins. Construções antes nunca vistas nestas terras surgiram, ganhando forma e imponência; Banco do Brasil, Real Biblioteca, Real Gabinete Português, palacetes, casarões, palácios, catedrais… Surgem na cidade, que em pouco tempo, ganha uma transformação urbanística surpreendente.
De todas as edificações que foram erguidas por aqui, nenhuma superou os palácios, em número e importância. Essas edificações foram construídas aos montes no Brasil; era uma forma de reproduzir a metrópole na colônia, mas, havia também a necessidade de mostra o poder e a ostentação na única monarquia na América Latina cercada de países que conquistavam à independência no tumultuado século XIX.
A monarquia hoje não existe mais, mas podemos ver muitas de suas influências em nosso dia a dia. Os palácios foram os maiores símbolos da era monárquica brasileira, e, testemunham até hoje a imponência vivida em épocas passadas. Como não se construiu castelos por aqui, o jeito foi apelar para os palácios.
O Brasil completou em novembro último, 124 anos desde a Proclamação da República, entretanto, as marcas da monarquia persistem em ficar em nosso meio. Sem mencionar os palácios herdados – que são muitos -, as casas legislativas do nosso país recebem nomes de palácios. Isso mesmo senhores, palácios! Nada mais apropriado para afugentar o povo do que chamar uma Câmara de vereadores, por exemplo, de palácio Pedro Ernesto – Câmara municipal do Rio -, ou palácio Tiradentes – Assembleia Legislativa do Rio -, visto que, como os palácios de antigamente, o povo continua não frequentando os palácios contemporâneos.
A população brasileira sempre foi acostumada a não frequentar os palácios. A imponência de tais construções provoca uma série de emoções nos indivíduos: admiração, encanto, perplexidade, medo. Podemos ver espalhados pela cidade, vários prédios imponentes, rebuscados, de estilos do mais variados e que a maioria da população nunca entrou; não sei se por medo ou por falta de oportunidade, mas o certo é que o povo não frequenta tais edifícios.
Ora, se as pessoas deste país, em sua grande maioria, não estão acostumados à frequentar museus, bibliotecas, dentre outros aparelhos culturais, pode-se afirmar que as casas legislativas tão pouco frequentarão. Fica fácil então entender o motivo pelo qual adotam-se até hoje para as casas legislativas, a alcunha de palácio disso ou palácio daquilo.
Participei ativamente da tomada da Câmara Municipal da cidade do Rio de Janeiro, junto com outros cidadãos no dia 9 de Agosto de 2013. Éramos cerca de 200 pessoas na fila desde as 7h, que estavam esperando a distribuição de senhas para o ingresso na casa legislativa a fim de assistir a sessão que estabeleceria os parlamentares que iriam compor a Comissão Parlamentar de Inquérito – C.P.I. -, voltada para a questão do transporte público municipal, ou seja, os ônibus. Bom, como se sabe, entramos na Câmara Municipal depois de esperarmos por cerca de duas horas numa fila que só crescia, e principalmente por termos ouvido que a C.P.I. estava nas mãos do Governo municipal, que não queria a instalação da mesma. Nos indignamos, fomos cobrar hombridade da parte de alguns parlamentares, e alguns companheiros permaneceram dentro da casa durante cerca de duas semanas, e outros tantos do lado de fora por dois meses.
Algo que muito me intrigou no dia 9 de agosto, dentro da Câmara municipal do Rio de Janeiro, foi a tremenda audácia de alguns funcionários mal encarados e nada simpáticos. Esses funcionários olhavam para os manifestantes/cidadãos, como se fossemos invasores, meliantes. Parecia que estávamos violando o sagrado lar de uma família, quando na verdade nós estávamos entrando na CASA DO POVO, NOSSA CASA!
Vi pessoas – da parte dos manifestantes -, olharem atônitos para a decoração, quadros, bustos, esculturas, saletas etc. daquele lugar que deveria ser frequentado por nós, cidadãos contribuintes, sempre! Todavia não é essa a realidade. As casas legislativas do Brasil não estão aptas a receberem quem as financiam, nós, o povo!
Nenhum funcionário, nem presidente das famigeradas casas legislativas, podem impedir a entrada de qualquer cidadão, contribuinte ou não, no interior de Câmaras e Assembleias. É dever do cidadão fiscalizar o que acontece nestes lugares, como estão empregando o dinheiro público, como e para quem estão trabalhando os legisladores, que estão lá para servir os interesses da sociedade num todo, e não de alguns privilegiados que os aliciam.
Palácio do Planalto, Palácio Tiradentes, Palácio da Alvorada, Palácio das Princesas, Palácio Pedro Ernesto, Palácio Bandeirantes… Lugares que não estão acostumados com a presença de pessoas simples, cidadãos comuns, povo, mas que precisam começar a se acostumarem, pois nós iremos frequentar esses palácios, até por que, é a nossa casa. O ano de 2013 deu o recado, 2014 está começando e nós continuaremos nas ruas, nas casas legislativas, ou em qualquer lugar que possamos fiscalizar, reclamar, protestar e quem sabe aplaudir?! A última opção está um pouco fora de cogitação quando o assunto são nossos legisladores, ficaremos com as primeiras mesmo!
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